Legislativas: Arranca hoje a campanha eleitoral. Especialistas acreditam que Chega e AD “irão crescer” mas a ‘surpresa’ pode estar mais à esquerda

Arranca este domingo oficialmente a campanha eleitoral, nos termos da legislação, acabando no dia 8 de março, em contagem decrescente para as eleições legislativas de 10 desse mês. Na última semana vimos o derradeiro debate entre Pedro Nuno Satos, líder do PS, e Luís Montenegro, presidente do PSD, que já vieram dar o mote para um tema que, inevitavelmente, irá marcar as próximas semanas: a governabilidade. Segundo indicam politólogos à Executive Digest, serão os partidos do arco da governabilidade (PS e PSD), bem como o Chega, os que poderão ‘ganhar’ mais votos nas próximas semanas.

José Adelino Maltez, investigador e professor universitário, resume os debates: “Aqui não há vencedor nem vencido, já ninguém improvisa. Vão para o debate com coisas escritas, um armamentário, e tudo é ensaiado. Há uns 10 argumentos que cada um tem de comunicar. Neste sentido, os argumentos foram todos emitidos e o último já teve ar de requentado, não houve nenhuma novidade comunicativa, já tudo tinha sido estoirado em debates anteriores. Foi uma síntese de repetição.”

Quem ganhou? Há uma resposta simples: “Há dois que são eventuais cabeças de Governo, e esses tinham que passar pela fogueira do Chega,. Aguentaram, passaram chamuscados. E houve um que podia eclipsar-se e que pode ser essencial nas contas da governação, que foi a IL, que entrou decidido a ser o partido dos 5 ou 6% e foi quem ganhou mais, se quisermos”, continua o politólogo.

Com efeito, as últimas sondagens dão conta de uma ligeira subida do PS, face à AD, que vinha a avançar e a chegar perto dos socialistas, subida do chega e IL, e ligeira descida dos partido de esquerda.

“Talvez o Pedro Nuno tenha ganho porque parece que é este o estilo que a parte mais velha do eleitorado gosta, ter alguém que seja o ‘filho impertinente’. Já a esquerda, BE e CDU, fizeram o jogo de poderem ser coligados com o PS, e foi a principal prestação e conseguiram, quiseram assumir-se como parceiros credíveis”, analisa Adelino Maltez, que ainda assim defende que foram “eficazes”.

Já Susana Rogeiro Nina, professora de ciência política e investigadora na Universidade de Lisboa, indica à Executive Digest que a descida da AD e subida do PS estará mais associada, eventualmente, à performance de Pedro Nuno Santos no ultimo debate.

“No último debate, claramente Pedro Nuno Santos mostrou o que se esperava que mostrasse, depois de uma deceção que foi geral com o debate com Ventura. Recuperou bastante no debate com Montenegro. Não houve uma diferença muito grande entre os dois, no que respeita a discussão de temas substantivos, foram muito parecidos. O Chega consolida-se porque usou o trunfo muito conjuntural da corrupção e das forças de segurança, que não são temas que, de todo, preocupem os portugueses”, indica, recordando os resultados do último Eurobarómetro, que colocava a corrupção como um dos temas que menos preocupava os portugueses.

E como vai ser a campanha? As ‘surpresas’ e os receios

Segundo relata Adelino Maltez, o grande “adversário” dos partido nesta fase serão as possíveis notícias que possam surgir a ‘assombrá-los’.

“É uma questão de contratação de bombos e eficácia na escolha da arruada. O grande adversário de todos neste momento é uma notícia que possa sair nos jornais, e estão é aflitos com isso. Sabem o que pode sair e têm o ‘livro’, estão a preparar os argumentos. O problema é que não sabemos e eles sabem, eles estão adiantados. Estão muito preocupados com as primeiras páginas dos jornais”, sumariza, fazendo referência aos últimos casos, como as investigações na Madeira ou a Operação Influencer.

Por outro lado, os partidos mais pequenos vão fazer ‘campanha de mercados’, porque não têm aparelho para fazer arruadas sozinhos”.

Já Susana Rogeiro Nina indica que as últimas sondagens darão mais força a um lado do que outro.

“Não podemos dizer que partem todos de tábua-rasa… Neste momento está a pairar o tabu da governação, com a ausência de resposta de Montenegro. Qual é a estratégia? Terá a ver com a questão da direita? Não querer abrir jogo para não ser acusado de legitimar um Governo do PS?”, questiona a politóloga.

“Acho que Pedro Nuno Santos poderá aproveitar a mudança que mostrou no debate, mostrou-se mais confrontativo, mais combativo. Poderá revelar-se uma surpresa, com a sua performance no debate, em que mostrou mais o que era, e o que se esperava dele. Mas é futurologia…”, continua a especialista em entrevista à Executive Digest, sobre que ‘revelações’ esperar na campanha.

Pegando no ultimo debate, Pedro Nuno Santos está numa posição mais confortável e Luís Montenegro terá que correr atrás do prejuízo, eventualmente estará um pouco em desvantagem

“Teremos obviamente o Chega, que irá crescer, embora acredito piamente que o crescimento seja nestas forças políticas [Chega, PS e PSD]. Não me parece que a campanha tenha muito impacto nos outros partidos”, indica a professora universitária, ressalvando que os estudos dizem-nos “que os partidos de esquerda beneficiam mais da campanha de rua”.

“É mais difícil para o IL captar algum apoio nas zonas mais interiores, por exemplo. A campanha será muito importante para os partidos do arco da governabilidade… e do Chega”, termina Susana Rogeiro Nina.

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