Le Pen aproveita julgamento por desvio de fundos do Parlamento Europeu para criticar a “Bolha de Bruxelas”

Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, está a ser julgada num caso de alegado desvio de milhões de euros de fundos do Parlamento Europeu, mas aproveitou a oportunidade para atacar o que chama de “Bolha de Bruxelas” — uma referência à rede de deputados, lobistas e funcionários que trabalham na capital da União Europeia (UE). Le Pen, que há anos critica as instituições europeias, descreveu o Parlamento como uma entidade que aliena os seus membros e os afasta dos cidadãos que deveriam representar.

Le Pen e outros 26 acusados, incluindo membros do seu partido, a União Nacional, são suspeitos de utilizar indevidamente fundos do Parlamento Europeu, pagando aos seus assistentes parlamentares para realizarem trabalho partidário em França, em vez de cumprirem funções no Parlamento. Se for condenada, a política enfrenta uma pena de prisão até 10 anos, uma multa de até 1 milhão de euros e uma possível proibição de exercer cargos públicos por cinco anos.

Durante o seu testemunho, que durou cinco horas, Marine Le Pen usou a metáfora de “o Blob” — uma referência a um filme de ficção científica de 1958 onde uma massa gelatinosa devora tudo à sua volta — para criticar o Parlamento Europeu. “O Parlamento Europeu funciona de tal forma que absorve os eurodeputados”, disse Le Pen. “Tudo está disponível no Parlamento: pode-se dormir lá, cortar o cabelo, ir à livraria… tudo é feito para que os eurodeputados vivam no Parlamento.”

A líder da extrema-direita justificou que o papel do seu partido é lembrar aos eurodeputados a importância de continuarem a fazer política fora dos muros da instituição europeia. Esta retórica de crítica ao funcionamento interno do Parlamento reflete a sua postura eurocética e é central para a sua estratégia política, especialmente numa altura em que planeia concorrer novamente à presidência de França em 2027, sendo, atualmente, a favorita nas sondagens.

O cerne das acusações: Catherine Griset
O processo contra Le Pen incide particularmente sobre a sua ex-assistente parlamentar, Catherine Griset, que trabalhou com Le Pen durante quase 25 anos. Os procuradores alegam que Griset passou grande parte do seu tempo a trabalhar em Paris para o partido de Le Pen, em vez de desempenhar as suas funções de assistente parlamentar em Bruxelas ou Estrasburgo, o que constituiu uma utilização irregular dos fundos públicos.

Segundo a acusação, durante um período entre 2014 e 2015, Griset passou entre 15 a 22 dias por mês na sede do partido em Paris, embora estivesse oficialmente contratada como assistente parlamentar no Parlamento Europeu. Os procuradores também indicaram que Griset apenas passou 12 horas no Parlamento durante quase um ano. Em resposta, Le Pen afirmou que a presença limitada de Griset no Parlamento se devia ao facto de ela entrar como parte do seu séquito, sendo acolhida pela equipa de segurança com “sorrisos largos”.

No tribunal, Griset defendeu-se afirmando que nunca trabalhou para o partido, mas apenas para Le Pen. No entanto, a ex-assistente teve dificuldade em explicar os detalhes do tempo que passou em Bruxelas e reconheceu que só ficava na Bélgica duas noites por semana, embora o seu contrato exigisse uma residência a tempo inteiro.

Le Pen, por sua vez, desafiou a lógica das acusações, afirmando que era errado separar o trabalho de um deputado europeu das responsabilidades partidárias. Argumentou que é legítimo que os assistentes ajudem tanto nas tarefas parlamentares quanto nas atividades políticas do partido. “Acredito que os deputados trabalham para promover as suas ideias,” declarou, acrescentando que a participação em atividades partidárias e em aparições na comunicação social faz parte das suas funções como representantes eleitos.

Ainda, Le Pen defendeu que os deputados franceses no Parlamento Europeu devem também “defender os interesses de França”, o que justificaria, segundo ela, o tempo que Griset passou em Paris. “Outros consideram que o Parlamento Europeu é um corpo político em si mesmo,” disse Le Pen. “Essa não é a nossa visão.”

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