Kremlin terá recrutado cerca de 15 mil nepaleses para combater na Ucrânia: muitos não regressam

Moscovo terá recrutado cerca de 15 mil nepaleses para reforçar o seu exército na ofensiva contra a Ucrânia, garantiu a ‘CNN’: de acordo com a publicação americana, para combater as baixas russas na linha da frente, o Kremlin anunciou o recrutamento de estrangeiros para o seu exército por um salário mensal de 2 mil dólares e a rápida obtenção da cidadania russa.

O Governo nepalês não reconheceu estes números, salientando haver apenas cerca de 200 dos seus cidadãos a lutar na Ucrânia, tendo pelo menos 13 sido mortos em combate e quatro recuperados como prisioneiros de guerra. No entanto, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Nepal e agora líder da oposição, Bimala Rai Paudyal, garantiu estarem entre 14 e 15 mil nepaleses a lutar na Ucrânia, citando testemunhos de homens que regressaram da linha da frente.

De acordo com a ‘CNN’, há dois centros de treino na Rússia onde nepaleses e outros estrangeiros são colocados antes de serem enviados para a Ucrânia.

Em dezembro último, o Nepal instou o Governo russo a parar de recrutar cidadãos nepaleses para o seu exército, depois de pelo menos seis dos seus cidadãos terem sido confirmados como mortos. As autoridades descobriram então uma rede de contrabando doméstico que recrutava jovens como combatentes estrangeiros para o exército russo.

Ramchandra Khadka, de 37 anos, regressou recentemente ao Nepal depois de sofrer ferimentos na linha da frente na Ucrânia. “Não entrei no exército russo por prazer. Não tive uma oportunidade de emprego no Nepal. Mas, pensando bem, não foi a decisão certa. Não sabíamos que seríamos enviados para a linha de frente tão rapidamente e como a situação seria horrível”, disse Khadka.

Chegou a Moscou em setembro do ano passado. Depois de apenas duas semanas de treino, foi enviado para a linha da frente em Bakhmut – uma cidade no leste da Ucrânia que assistiu a alguns dos combates mais intensos entre as forças russas e ucranianas – com uma arma e um kit básico. “Não há um centímetro de terra em Bakhmut que não tenha sido afetado por bombas. Todas as árvores, arbustos e vegetação… desapareceram. A maioria das casas foi destruída. A situação lá é tão horrível que dá vontade de chorar”, lembrou.

Vários combatentes nepaleses que regressaram culparam Moscovo por o usar como ‘carne para canhão’ no conflito. “São os nepaleses e outros combatentes estrangeiros que estão realmente a lutar na frente das zonas de guerra. Os russos posicionam-se algumas centenas de metros atrás como apoio”, referiu Suman Tamang, que regressou da Rússia na semana passada.

Os únicos exércitos estrangeiros em que a lei nepalesa permite que os seus cidadãos sirvam são os exércitos indiano e britânico. A Brigada Britânica de Gurkhas, que existe há mais de 200 anos, é composta por combatentes nepaleses.

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