Kamala é ‘brat’, Trump é ‘weird’? Os termos que saltaram das redes sociais para a campanha das presidenciais dos EUA

As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm sido marcadas não apenas por eventos dramáticos, como o atentado contra o ex-presidente Donald Trump e a desistência do atual presidente Joe Biden, mas também por um vocabulário distintivo que se tornou parte integral da campanha, influenciado em grande medida pelas redes sociais.

Expressões como “weird” (bizarro), “woke” (desperto), “brat” (mimada) e o conhecido lema “MAGA” (Make America Great Again) de Donald Trump, têm tido uma presença significativa no debate online e, segundo especialistas, podem ter um impacto profundo na forma como os eleitores se identificam com os candidatos.

Lucas Leite, doutorado em Relações Internacionais e professor na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), sublinha à BBC importância destas palavras: “São expressões que, em primeiro lugar, são fáceis de memorizar e difundir. Rapidamente constroem uma identidade comum que carrega algo mais complexo do que apenas o termo. Ajudam a criar identificação com quem se apoia, como se apoia e porquê.”

O Caso de Kamala Harris e o Termo “Brat”

Kamala Harris, atual vice-presidente e uma possível candidata à presidência, foi apelidada de “brat”, um termo que se tornou viral no TikTok entre os jovens. Esta palavra, que é também o título do mais recente álbum da cantora britânica Charli XCX, foi associada a Harris numa tentativa de ligar a sua imagem à de uma figura jovem, despojada e acessível.

 

Num vídeo publicado no TikTok, Charli XCX descreve uma “brat” como “uma rapariga que é um pouco desorganizada, gosta de festas e, por vezes, diz disparates. Sente-se bem consigo mesma, mas tem crises. E diverte-se, apesar de tudo. É muito honesta, muito direta, um pouco volátil. Faz coisas tolas. Isso é ser uma ‘brat’.”

Kamala Harris, enquanto primeira mulher, pessoa negra e de ascendência sul-asiática a ocupar a vice-presidência, já é uma figura atípica na política americana. “Isso mostra que ela quebra paradigmas, especialmente num país com o histórico dos Estados Unidos, competindo contra um homem branco mais velho que defende posições conservadoras,” refere Leite.

Silvio Waisbord, professor de Media e Assuntos Públicos na Universidade George Washington, aponta que a campanha de Harris está claramente a tentar alcançar os jovens, especialmente mulheres e eleitores negros. “Eles já têm tentado apresentá-la de uma maneira mais acessível do que uma figura política tradicional,” comenta Waisbord, destacando o uso estratégico de uma linguagem popular para envolver a geração Z.

O Impacto do “Weird” na Campanha Democrata

“Weird”, que se traduz para português como “bizarro”, é o termo que a campanha de Kamala Harris escolheu para caracterizar Donald Trump e o seu vice, JD Vance. Este adjetivo foi inicialmente utilizado pelo governador democrata de Minnesota, Tim Walz, que mais tarde se tornou o vice-presidente na chapa de Harris. “Ele é apenas um tipo bizarro, esquisito,” disse Walz sobre Trump durante um evento, uma frase que rapidamente ganhou popularidade e foi adotada pela campanha democrata.

Esta abordagem tem ressonado com eleitores inclinados para os democratas, fazendo com que votar em Harris seja visto mais como uma escolha de senso comum e menos como uma obrigação cívica. No entanto, o adjetivo “bizarro” incomodou Trump, que respondeu afirmando: “Eles são os bizarros. Ninguém nunca me chamou de bizarro. Sou muitas coisas, mas bizarro não sou,” disse Trump numa entrevista.

A Persistência do “MAGA”

O lema “MAGA”, sigla de “Make America Great Again”, continua a ser um pilar fundamental nas campanhas de Donald Trump desde 2016. Amplamente utilizado em bonés vermelhos e outros itens de campanha, o slogan apela diretamente aos eleitores republicanos.

Ben Ostrower, especialista em marketing, comenta que “É emocional, simples, de fácil entendimento e oferece a possibilidade de participação,” destacando a eficácia do lema na criação de uma identidade forte entre os apoiantes de Trump.

Lucas Leite lembra que, quando Ronald Reagan usou pela primeira vez a frase “Make America Great Again” na sua campanha em 1980, tentava resgatar o orgulho nacional. No entanto, ele questiona: “Grandeza em relação a quê? A que período? Para quem?” Esta reflexão é particularmente pertinente hoje, uma vez que o “MAGA” está frequentemente associado a discursos nacionalistas e de supremacia branca, que procuram definir o “verdadeiro” americano como alguém anglo-saxão, protestante e branco.

Por outro lado, os democratas têm tentado evitar uma crítica direta ao “MAGA”, dado que as tentativas anteriores de atacar esta base eleitoral de classe trabalhadora branca tiveram efeitos negativos.

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