Juiz russo ordena que julgamento dos três advogados de Navalny acusados de “extremismo” seja à porta fechada

Um juiz russo ordenou que o julgamento dos três advogados do ex-líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny, seja fechado a jornalistas e público, justificando com o potencial de provocações dos aliados de Navalny no estrangeiro, informou esta quinta-feira o site de notícias independente ‘Mediazona’.

Vadim Kobzev, Igor Sergunin e Alexei Liptser foram detidos em outubro último e acusados de pertencer a um “grupo extremista”, o que poderá significar até seis anos de prisão: os três têm sido mantidos em pré-julgamento desde então, sendo que em novembro foram adicionados à lista “de terroristas e extremistas da Rússia”.

Recorde-se que Navalny, que morreu numa colónia penal do Ártico em fevereiro último, sob circunstâncias misteriosas, foi condenado sob extremismo e outras acusações, e o seu movimento político, a ‘Anti-Corruption Foundation’ (FBK), proibido.

O procurador estadual do julgamento, que arrancou esta quinta-feira num tribunal distrital a leste de Moscovo, solicitou ao juiz Yulia Shilova para fechar o processo, citando uma carta do Centro de Combate à Rússia de Extremismo, conhecida como Centro E.

A carta afirmou que os colaboradores de Navalny sediados fora da Rússia podem estar envolvidos em ações para influenciar as testemunhas e outros aspetos do julgamento, sendo que todos os principais aliados do malogrado político vivem fora da Rússia.

As autoridades russas lançaram Navalny e os seus apoiantes como extremistas apoiados pelo Ocidente que procuram desestabilizar a Rússia. Os seus aliados e a sua esposa Yulia Navalnaya, que pegou no legado do marido após a sua morte, dizem que estão a lutar por uma Rússia democrática livre sem o presidente Vladimir Putin.

Os advogados de defesa dos advogados de Navalny criticaram a decisão do juiz, garantindo que, ao fechar o julgamento, violaria os princípios básicos de transparência legal. “A publicação é um dos princípios judiciais invioláveis”, disse à ‘Mediazona’ Andrei Grivtsov, advogado de Kobzev, acrescentando que os materiais do caso foram anteriormente tornados públicos em audiências preliminares e “não houve violações de segurança”.

Os julgamentos para crimes graves, como traição, são frequentemente mantidos à porta fechada na Rússia, que apresenta uma taxa de absolvição próxima do zero. Em junho último, um juiz que presidiu a um julgamento por duas figuras de teatro russos proibiu jornalistas e observadores russos no tribunal, citando alegadas ameaças não especificadas a alguns dos participantes – o diretor e o dramaturgo viriam a receber sentenças de seis anos de prisão por “justificar o terrorismo” numa decisão condenada por observadores independentes como politizada.

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