Jorge de Melo (Sovena): «O tecido empresarial tem vivido uma verdadeira prova de esforço»

A submissão, discussão e aprovação do Orçamento do Estado (OE) é um dos momentos mais importantes do ano. Em tempo de pandemia, assume um papel ainda mais crucial no rumo da vida dos portugueses, uma vez que determina quais os gastos considerados para efeito de IRS, qual o valor mínimo do subsídio de desemprego ou a dimensão da carga fiscal para as empresas, por exemplo.

A Executive Digest quis saber qual a perspectiva dos líderes de companhias de áreas tão diferentes como Farmacêuticas, Telecomunicações ou Agroindústria relativamente ao Orçamento do Estado 2021. É um dos mais difíceis de executar? Serve os interesses das empresas?

Jorge de Melo, CEO da Sovena

Considera que o Orçamento do Estado serve os interesses das empresas?

O Orçamento do Estado é um documento paradigmático que deve servir os interesses dos portugueses, interesses esses que passam por uma economia saudável, que se deve reflectir em emprego e consequente qualidade de vida para população. A saúde da economia está em grande parte nas mãos do tecido empresarial português, o qual deve ser dotado de meios para gerar riqueza na comunidade.

Este resultado óptimo, que só está completo na prosperidade, é dependente dos apoios e incentivos do Estado. Para o alcançar é preciso trabalhar em conjunto e criar sinergias. Neste OE os verdadeiros apoios às empresas ainda estão no plano utópico e muito aquém do que seria ideal para alcançarmos a prosperidade.

Devido à pandemia de COVID-19, considera que este Orçamento do Estado é o mais difícil de executar?

A pandemia traz a este OE muitas dificuldades. Aos nossos governantes será impossível prever a evolução do vírus e, como tal, toda a circunstância com que as empresas e as famílias vão ter de lidar nos próximos meses.

Quais são os riscos/desafios que antecipa para o próximo ano?

A resposta, perante a circunstância atípica deste momento, tem sido difícil. Neste momento é exigido um elevado nível de adaptação às empresas que testam procedimentos e novas formas de trabalhar perante mudanças que se mantêm a um ritmo quase diário. Existem alguns bons exemplos de empresários que proactivamente desenvolveram soluções criativas e inovadoras de forma a manter ou reinventar os negócios, mas no geral todo o tecido empresarial tem vivido uma verdadeira prova de esforço e nesta corrida nem todos vão chegar ao fim.

Quais considera serem as medidas essenciais para famílias e empresas?

No que diz respeito à indústria, há temas que não podem continuar a ser adiados. Qualquer economia que tenha como ambição ser competitiva, moderna e eficiente tem de ter em consideração o tema ambiental e incorporá-lo no seu modo de actuar. Acredito que é premente um incentivo à reciclagem por parte dos cidadãos, como única forma de termos efectivamente taxas de reciclagem elevadas. Este tema é deveras importante para as indústrias.

Urge uma reconversão de grande parte dos activos industriais, de forma a produzirem de modo mais amigo do ambiente. Para isto é importante haver uma aposta e apoio claro às empresas na reconversão ambiental nas suas várias vertentes, seja na redução e tratamento de emissões de compostos orgânicos e partículas; investimento em fontes de energia mais eficientes e limpas e respectiva monitorização; investimento em estações de tratamentos de resíduos e águas residuais, bem como outro tipo de activos. Existe aqui uma oportunidade única de apoiar a indústria e a reconversão da mesma de uma forma que a torne eficiente e beneficie todos.

 

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