Janeiro chega com aumento de até 61 euros na prestação da casa: “percurso de subida vertiginosa já terá acabado”, diz especialista

As taxas Euribor têm subido de forma acentuada nos últimos meses e em janeiro não foge à regra. No entanto, há uma ressalva: as taxas estão já em trajetória descendente, com agravamentos “residuais” na prestação ao banco de quem contraiu um crédito à habitação. “Boas notícias”, revelou, em exclusivo à ‘Executive Digest’, Nuno Rico, especialista da DECO PROteste.

Para quem tiver o contrato revisto no arranque de 2024, pode, no entanto, esperar um agravamento na prestação que pode atingir os 61 euros.

“Quero destacar duas coisas: todas as médias estão em trajetória descendente, ao contrário do verificado no mês passado com a taxa a 3 meses, que ainda apresentou uma ligeira evolução. Atualmente, estão todas a descer face a novembro, com uma queda mais acentuada na de 12 meses – cai 3 pontos percentuais, de 4 para 3,7”, referiu o especialista, sublinhando que “todas estão abaixo dos 4%. No mês passado, só a de 3 meses estava abaixo desta barreira”.

“Um dado interessante que indica que estamos numa fase descendente: a média de 3 meses é que tem o valor de maturidade mais alto de todos. Assistimos o mesmo, no mês passado, em relação à taxa média de 12 meses face à de 6. Ou seja, a escala está invertida em relação ao que é normal”, frisou.

Mas vamos a números:

Tomemos como exemplo um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com um spread (margem comercial do banco) de 1%:

– se o empréstimo tem como indexante a Euribor a 12 meses: a prestação que vai pagar no próximo ano irá subir para 779 euros, mais 61 euros (8,49%) em relação à prestação que pagou nos últimos 12 meses (718 euros). A taxa média registada este mês – dados até ao dia 22 de dezembro – foi de 3,706%.

– Já se o indexante for de 6 meses, prepare-se para entregar ao banco 799 euros, uma subida de 1,26% (cerca de 10 euros) face a junho de 2023, quando a prestação se situava nos 789 euros. A taxa média fixou-se nos 3,937%.

– por último, se tiver um contrato a 3 meses: a taxa Euribor média é de 3,940%, o que significa um aumento da sua prestação de 0,62%: sobe de 795 para 800 euros, mais 5 euros.

“As indicações dadas pelo mercado de que as médias mais curtas têm os valores mais altos, é um indicador, a confirmar nas próximas semanas, que já teremos atingido esse pico da Euribor”, referiu Nuno Rico, estabelecendo uma comparação com os últimos dois anos.

“Em 2021, nesta fase, estávamos num valor recorde negativo das taxas Euribor. Em dezembro desse ano, a média a 12 meses foi de -0,502%. Estamos agora a falar de 3,706% mas, em termos de prestação, para se perceber a magnitude da subida, a comparação entre a prestação de janeiro 2022 e a de janeiro 2024 indica-nos que é 330 euros mais alta. No último ano, subiu 61 euros”, esclareceu.

Então, como podem as famílias encarar 2024 no que diz respeito à prestação aos bancos?

“Diria que poderão encarar 2024 com algum otimismo moderado, no sentido de que, ao que tudo indica, o percurso de subida vertiginosa que a Euribor fez ao longo dos últimos dois anos já terá acabado. Otimismo moderado porque espera-se uma descida, até provavelmente um pouco mais cedo do que o perspetivado – falava-se que só no primeiro trimestre de 2024 mas ela já está a acontecer. Contudo, as famílias só poderão esperar os efeitos da descida da Euribor, senti-los na carteira verdadeiramente, a partir do final do primeiro trimestre do próximo ano, para quem tem maturidades mais curtas, sobretudo a 3 meses. Mas, na generalidade dos contratos, no segundo semestre de 2024, aí sim vão começar sentir alívio nas prestações mensais”, referiu o especialista da DECO PROteste.

No entanto, é preciso cautelas. “Para já, não se perspetiva que a descida vá ser muito significativa. O que indicam as projeções é que a descida vá acontecendo de forma gradual e no final de 2024 se situem entre 2,5 e 3%. Ao contrário daquilo que aconteceu em 2008, quando atingimos o pico e passado um ano baixámos de 5 para 1%, não é isso que se perspetiva atualmente”, referiu, até porque “há um fator que poder perturbar estas projeções”.

“A questão dos impactos que as economias europeias começam a apresentar desta política mais restritiva dos últimos dois anos. Temos várias à beira da recessão e isso pode trazer impactos no desemprego e, por consequência, no rendimento das famílias, o que poderá levar a acelerar descida das taxas de juro”, concluiu.

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