Israel tem implantado extenso programa de reconhecimento facial em Gaza

Israel tem implantado um amplo programa de reconhecimento facial em Gaza, denunciou esta quarta-feira a publicação ‘New York Times’, que apresentou o caso do poeta palestiniano Mosab Abu Toha, que, poucos minutos depois de passar por um posto de controlo militar israelita na Faixa da Gaza, foi convidado a sair da multidão. Meia hora depois, foi vendado e levado para interrogatório.

“Não tinha ideia do que estava a acontecer ou como eles poderiam de repente saber o meu nome completo”, garantiu o homem, de 31 anos, que acrescentou não ter ligações ao Hamas e que pretendia deixar Gaza rumo ao Egito.

O incidente, em novembro último, resultou do facto de Abu Toha se aproximou das câmaras com tecnologia de reconhecimento facial, reconheceram três funcionários da Inteligência israelita: o seu rosto foi alvo de um scan, foi identificado e um programa de IA descobriu que o poeta estava numa lista israelita de pessoas procuradas.

Abu Toha é um entre centenas de palestinianos que foram escolhidos por um programa israelita de reconhecimento facial, até então não divulgado, iniciado em Gaza no final do ano passado. O esforço expansivo e experimental está a ser usado para realizar vigilância em massa naquele local, recolhendo e catalogando os rostos dos palestinianos sem o seu conhecimento ou consentimento.

A tecnologia foi inicialmente utilizada em Gaza para procurar israelitas que foram feitos reféns pelo Hamas após os ataques transfonteiriços de 7 de outubro, garantiram as autoridades de Inteligência. Depois de Israel ter embarcado numa ofensiva terrestre em Gaza, recorreu cada vez mais ao programa para erradicar qualquer pessoa com ligações ao Hamas ou a outros grupos militantes.

O programa de reconhecimento facial, administrado pela unidade de inteligência militar de Israel, incluindo a divisão de inteligência cibernética ‘Unidade 8200’, depende da tecnologia da Corsight, uma empresa privada israelita, que utiliza também o Google Fotos: combinadas, as tecnologias permitem que Telavive identifique rostos em multidões.

De acordo com um porta-voz do exército israelita, Israel “realiza as operações de segurança e de inteligência necessárias, ao mesmo tempo que fazem esforços significativos para minimizar os danos à população não envolvida”.

Após 7 de outubro, os agentes dos serviços secretos israelitas da ‘Unidade 8200’ recorreram a essa vigilância para obter informações sobre os militantes do Hamas que violaram as fronteiras de Israel. A unidade também vasculhou imagens dos ataques feitas por câmaras de segurança, bem como vídeos publicados pelo Hamas nas redes sociais: a unidade foi instruída a criar uma “lista de alvos” de membros do grupo terrorista que participaram no ataque.

O programa de reconhecimento facial em Gaza cresceu à medida que Israel expandiu a sua ofensiva militar: os soldados israelitas que entraram em Gaza receberam câmaras equipadas com essa tecnologia. Os soldados também montaram postos de controlo ao longo das principais estradas que os palestinianos usavam para fugir de áreas de intensos combates, com câmaras.

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