Israel arrasa aldeia árabe beduína para construir cidade exclusiva para judeus
Israel ‘arrasou’ a aldeia árabe beduína de Umm al Hiran, no deserto de Neguev (a sul de Israel) para construir uma cidade exclusiva para judeus: o projeto, que data de 2018, viu esta quarta-feira ser demolida o único edifício que restou, a mesquita, depois de os cerca de 300 habitantes da aldeia terem demolido as suas próprias casas para evitar arcar com os custos.
“A destruição de Umm Al Hiran para dar lugar à colonização de Dror faz parte de um programa sistemático de substituição populacional no Neguev, que visa desenraizar cerca de 10 mil pessoas em 14 aldeias e substituí-las por quase 20 novas colónias judaicas”, denunciou o Conselho Regional dos Povos Beduínos Não Reconhecidos (RCUV) após esta evacuação forçada.
Depois de uma batalha legal de mais de 20 anos, é a quarta aldeia beduína destruída pelo Governo de Israel até agora em 2024, e em dezembro, o mesmo deverá acontecer com Ras Jaraba, uma comunidade no Neguev com mais de 500 habitantes, cujos habitantes estão sob uma ordem judicial de despejo desde julho de 2023.
Já em 2017, o Centro Legal para os Direitos da Minoria Árabe em Israel (Adalah) denunciou que a comunidade que substituirá Al Hiran estará aberta apenas a “cidadãos judeus israelitas ou residentes permanentes que observem a Torá e os mandamentos de acordo com os valores do Judaísmo Ortodoxo”.
De acordo com a agência ‘EFE’, cerca de 100 polícias, acompanhados por sete escavadoras, invadiram a localidade por volta das 3h30: houve várias detenções, que duraram nove horas. Simultaneamente, a mesquita foi demolida. “Existe justiça e existe justiça! Uma mesquita e edifícios ilegais construídos na aldeia de Umm al Hiran, no Neguev, foram destruídos esta manhã por tratores do Governo”, afirmou o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, responsável pela gestão das forças policiais.
“Desde o início do ano houve um aumento de 400% na emissão de ordens de demolição: orgulho de liderar uma forte política de destruição de casas ilegais no Neguev!”, acrescentou.
Israel não reconhece, nem mostra nos seus mapas, um total de 36 aldeias beduínas semi-nómadas que antecedem a criação deste Estado em 1948. Apenas 11 foram reconhecidas nas últimas duas décadas, mas de acordo com organizações de direitos humanos carecem de quaisquer infraestruturas básicas, como água, eletricidade ou estradas.
O Governo israelita pretende fazer com que cerca de 350 mil beduínos abandonem o seu estilo de vida agrícola no Neguev para viverem em áreas urbanas pequenas e empobrecidas. Pelo menos cerca de 190 mil beduínos já foram forçados a fazê-lo.
O programa governamental de “Substituição da População” no Neguev procura deslocar cerca de 9 mil árabes beduínos de 14 aldeias e substituí-los por um número semelhante em colonatos judaicos. Apesar de representarem quase 40% da população do Neguev, os beduínos têm acesso a menos de 10% das áreas agrícolas e a menos de 4% das terras.