Irão apoia “combatentes da liberdade” Hezbollah e Hamas, diz embaixador

O embaixador iraniano em Lisboa considerou hoje que o Hamas (Palestina), Hezbollah (Líbano) e Huthis (Iémen) são “combatentes da liberdade” que atuam em “autodefesa”, e por isso apoiados por Teerão, rejeitando a classificação internacional de organizações terroristas.

Em declarações aos jornalistas que participaram hoje numa encontro na embaixada do Irão em Lisboa, Majid Tafreshi lembrou que o ataque do Hamas em Israel a 07 de outubro de 2023, de que resultaram cerca de 1.200 mortos e perto de 250 reféns, “não foi um ataque terrorista” e que devem ser analisadas as razões que estiveram subjacentes.

“Porque é que tal aconteceu, mesmo que lhe chamem um ataque terrorista, deve ser investigado. (…) É vingança, em nome de um ataque terrorista para destruir uma nação”, argumentou, ainda antes de ser anunciada por Israel a eliminação do líder do Hamas, Yahya Sinouar, na Faixa de Gaza, um dos mentores do ataque de 2023.

Tafreshi defendeu que o Irão não tem inimigos, mas que Israel, em nome de autodefesa, “aterrorizou” os cientistas iranianos, bombardeou instalações e matou “muitas pessoas”.

“[Israel] precisa de resolver o seu problema com a nação em causa, os palestinianos e os árabes, em vez de pôr os outros em perigo numa guerra ou no seu sistema de retaliação ou de autodefesa”, argumentou, sublinhando que o apoio aos “combatentes da liberdade” baseia-se no direito internacional.

“É uma obrigação. Como é possível não estarem a apoiar os refugiados, a aceitá-los. Isso faz parte do direito internacional, que é apoiar aqueles que estão a tentar a autodeterminação. O Hezbollah não é uma organização terrorista, é um movimento de luta pela liberdade”, defendeu.

A União Europeia (UE), os Estados Unidos, o Reino Unido e Israel, entre outros países, consideram o Hamas e o Hezbollah como organizações terroristas.

“Os libaneses que votaram neles para o Parlamento. Coloca-se a mesma questão em relação ao Hamas [no poder na Faixa de Gaza, desde 2007] e aos Huthis no Iémen. Mais uma vez, se estão a falar dos Huthis, do Hamas, voltem a realizar eleições. Deixem-nos examinar a posição em eleições. Nessa altura, poderão compreender e descobrir qual é a realidade, se são um grupo terrorista ou se fazem parte da nação”, acrescentou o diplomata iraniano.

Questionado pela Lusa sobre como irá o Irão responder se Israel atacar infraestruturas e instalações nucleares iranianas, Tafreshi referiu que a retaliação de Teerão “seria muito mais dolorosa”, mas não explicou como.

“Qualquer ataque ao Irão deve ter o seu próprio ‘feedback’. Gostaria que nunca acontecesse uma catástrofe deste género, porque o ‘feedback’ seria mais doloroso. É importante para a comunidade internacional que todos tentem a paz. Mas é a mesma entidade que ocupou Gaza, o [monte] Sinai, os [montes] Golã e rejeitou centenas de resoluções”, respondeu.

“Temos de lhes pedir que parem com o abuso da força. E tentem respeitar o direito internacional, respeitem o secretário-geral [da ONU]. Não se deve criticar os veredictos do TIJ [Tribunal Internacional de Justiça]. Não esbofeteiem o pedido do secretário-geral. Não matem os funcionários das Nações Unidas. Não matem os médicos. Não matem os cidadãos”, afirmou o embaixador iraniano em Lisboa.

Tafreshi afirmou acreditar que a paz é possível, sobretudo no auge de um conflito, e que todas as partes se sentem à mesa para negociar o fim do conflito.

“É preciso perguntar aos palestinianos e depois aos israelitas e àqueles que os apoiam, especialmente, quando e como podemos parar com isto. Penso que esta é a melhor altura para o fazer, porque as consequências do abuso de poder têm os seus próprios custos e aumentam de dia para dia”, explicou.

“Mas se perguntarmos aos que apoiam Israel, devemos perguntar também aos que apoiam o Hezbollah, o Hamas e os Huthis, o Irão. Mais uma vez, é preciso saber quem está a atuar em autodefesa, quem está a lutar pela autodeterminação e quem é o ocupante. Não se pode perder a essência de cada questão, que remonta há 70, 80 anos, o que o comité internacional decidiu e por que razão foi violado grosseiramente dia após dia. É isto que deve ser objeto de uma engenharia inversa e de uma descoberta do caminho para a paz, a verdadeira paz, que passa pelo reconhecimento mútuo e pela coexistência pacífica”, concluiu Tafreshi.

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