Invasão dos carros elétricos chineses ainda mal começou: Pequim encomenda dezenas de navios de transporte para ‘inundar’ o mundo

Já não é uma surpresa para ninguém: a China está a ‘inundar’ de carros elétricos o mercado europeu (e não só…), algo que já é visível nas ruas das grandes cidades europeias. Mas há um facto, apesar de ser ‘pitoresco’, que dá uma ideia do que poderá estar aí para vir: há algumas semanas, um navio gigante da marca chinesa BYD, lotado com milhares de carros da marca, atracou no porto alemão de Bremerhaven, um desembarque no coração industrial da Europa e num país que tem o selo de qualidade dos automóveis do Velho Continente.

A invasão do carro elétrico chinês chegou e os seus ‘soldados’ já estão no terreno. Mas há dezenas desses meganavios ‘na manga’. A expectativa em torno do BYD Explorer No 1, o primeiro navio fretado pela empresa chinesa expressamente para este fim, resume a nova dinâmica. O gigantesco navio partiu com 7 mil carros no dia 15 de janeiro do Porto Logístico Internacional de Xiaomo, em Shenzhen, província de Guangdong, no sul da China, com destino aos portos de Vlissingen, nos Países Baixos, e o já citado de Bremerhaven, na Alemanha – depois de uma primeira nos Países Baixos, atracou a 26 de fevereiro na Alemanha, onde foram descarregados 3 mil veículos.

A BYD, fundada em 1995 para fabricar baterias que durante anos se dedicou aos carros elétricos, materializou desta forma a sua ‘aterragem’ no Ocidente. Os números apoiam a sua ambição: a empresa ultrapassou a fabricante automóvel americana Tesla como o maior fabricante de veículos elétricos em volume no final do ano passado, entregando mais de 500 mil unidades no último trimestre de 2023. Agora, a empresa chinesa está a colocar toda a sua capacidade de produção nos países avançados.

O caso BYD não é único na China: no final de janeiro, o primeiro navio de transporte marítimo da SAIC Motor partiu de Xiamen, na província de Fujian, no leste da China, com 3.700 veículos de fabrico nacional, incluindo 1.700 elétricos. No início de dezembro, foi anunciado o lançamento do porta-veículos Jiuyang Blossom, o maior até então operado por uma empresa chinesa (55.775 toneladas e 13 decks que totalizam 60 mil metros quadrados). Também com capacidade de transporte de 7 mil automóveis, estava previsto para a sua viagem inaugural – neste caso dentro da China, do terminal de Nangang, em Xangai, à zona portuária de Waigaoqiao – transportar 3 mil veículos dos japoneses Hyundai e Lincoln (um subsidiária da Ford no mercado asiático).

No entanto, a empresa mostrou mais ambição. “A BYD irá implantar mais sete transportadores de veículos nos próximos dois anos para aliviar a escassez de capacidade de transporte para as exportações de automóveis”, disse o fundador e presidente da empresa, Wang Chuanfu, no mês passado. Desta forma, a empresa espera que, ao construir e utilizar as suas próprias embarcações para transportar veículos, reduza os custos de transporte.

A motivação por trás destas megaconstruções flutuantes deve ser encontrada, em parte, no que aconteceu durante a pandemia da Covid-19. As empresas de transporte marítimo desmantelaram os seus transportadores de veículos mais antigos durante 2020, quando foram encerradas devido aos confinamentos fábricas de automóveis. No entanto, o regresso mais rápido do que o esperado da procura automóvel global, juntamente com um forte impulso das exportações chinesas, deixou a indústria confrontada com uma escassez de navios essenciais para este setor.

Há alguns meses, diversos especialistas da indústria salientaram, em declarações ao ‘Financial Times’, que o número de transportadores de veículos ainda era cerca de 10% inferior aos níveis pré-pandemia. “Agora que as marcas voltaram à produção, juntamente com as exportações da China, o transporte de carros está a tornar-se uma batalha”, salientou um executivo de um grande distribuidor global de automóveis, citado pelo jornal espanhol ‘El Economista’.

A outra explicação reside na dificuldade das empresas chinesas em construir fábricas no Velho Continente, dados os elevados custos e os longos prazos de entrega. Os fabricantes de automóveis chineses que produzem no seu país e vendem na Europa “estão totalmente expostos ao transporte marítimo porque não têm fábricas de produção europeias”, observou o analista Matthias Schmidt.

Uma dor de cabeça para a UE e os EUA

As exportações totais de carros elétricos da China aumentaram 70% em 2023, atingindo 34,1 mil milhões de dólares. Nos primeiros dois meses de 2024, as exportações de automóveis continuaram a superar as principais exportações da China, com um crescimento homólogo de 15,8%, segundo dados divulgados esta quinta-feira pela Administração Geral das Alfândegas da China.

A União Europeia (UE) é o maior destinatário das exportações chinesas quando se trata de carros elétricos e representa quase 40% – a quota dos fabricantes chineses no novo mercado europeu de automóveis de passageiros elétricos situou-se em 9,3% no quarto trimestre de 2023, um aumento impressionante em comparação com 2019, quando a quota de mercado da China mal atingiu 0,5%.

Bruxelas admitiu que esta ‘invasão’ ataca a indústria mais mimada do Velho Continente e ameaça tornar-se uma nova dor de cabeça para os gigantes automóveis por entre os desafios que ocorrem dos motores de combustão para as baterias elétricas.

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