Instagram, Facebook, TikTok: devem as redes sociais ter rótulos de aviso sobre o vício?
As redes sociais integram o nosso dia a dia, facilitando a comunicação, proporcionando o entretenimento e a procura de informações. No entanto, conforme aumenta a sua utilização, também aumentam as preocupações sobre os seus efeitos a longo prazo na saúde mental. O que levanta a questão? Estarão as redes sociais para os dias modernos como os cigarros foram para o século XX?
É comparável o vício de fumar com o das redes sociais? Há efeitos comparáveis entre as duas atividades no estado de espírito de uma pessoa: assim como antigamente diziam aos jovens que fumar era fixe, o marketing das redes sociais apela aos utilizadores a partilhar trechos da sua vida para parecerem mais atraentes do que os outros.
Dopamina e dependência
O apelo inicial das redes sociais era manter contacto com amigos e partilhar experiências: desde então, os utilizadores de hoje são ‘convidados’ a desenvolver comportamentos viciantes, sendo que a sua penetração nas nossas vidas não pode ser ignorada: estudos mais recentes apontaram que as pessoas gastam em média 143 minutos todos os dias nas redes sociais.
Sara Johansen, professora assistente clínica na Universidade de Stanford, no Estados Unidos, que analisou as causas por trás da natureza viciante das redes sociais, citada pela publicação ‘Interesting Engineering’, observou que o que nos mantém presos não é apenas a “onda de prazer do like”, mas também a “ausência intermitente do like”.
O mesmo tipo de abstinência que é visto em fumadores e jogadores: o ciclo vicioso de ação e gratificação torna uma pessoa excessivamente atenta às notificações para obter a próxima ‘onda de aprovação’, o que pode ser visto da mesma forma que a nicotina nos cigarros. Segundo Johansen, mesmo a incapacidade de receber feedback, como um like, por vezes promove mais compulsão para postar mais ou verificar o feed compulsivamente. Este cenário representa um risco maior na faixa etária adolescente, uma vez que os seus cérebros estão em desenvolvimento e são vulneráveis a atividades causadores de dopamina.
Num estudo em 2021, conduzido pela ‘Reboot Foundation’, ficou concluído que 70% dos entrevistados declararam que desistiriam das redes sociais somente se alguém lhes desse pelo menos 10 mil dólares. O mais chocante foi que 40% sublinhou que prefeririam desistir do seu carro ou animal de estimação antes de retirar o seu perfil das redes sociais.
A armadilha da comparação
O uso das redes sociais tornou-se uma ameaça à autoestima, apontou Johansen: o seu uso excessivo está associado ao aumento da ansiedade e da depressão, especialmente entre os jovens. Ser ‘bombardeado’ com imagens do “corpo perfeito”, as “férias perfeitas” ou o “relacionamento perfeito” pode conduzir os utilizadores a desenvolver uma armadilha de comparação que pode ser prejudicial à sua saúde mental e autoestima.
A natureza viciante das redes sociais pode ser melhor compreendida se se observar como as diferentes plataformas são projetadas para tirar proveito da psicologia humana: aplicações como Instagram, Facebook ou TikTok têm algoritmos sofisticados que disparam respostas de dopamina no cérebro sempre que recebemos likes ou comentários nos nossos posts. Este algoritmos são também projetados para garantir que os utilizadores passem o máximo de tempo possível na plataforma, alimentando e empurrando conteúdos para atrair a reação do utilizador, de maneiras positivas e negativas, e assim impulsionar o engajamento.
O vício nas redes sociais deve ser entendido como resultado desse design intencional e há quem aponte que o design das aplicações online precisa de ser socialmente responsável.
À luz dos riscos estimados para a saúde mental, tratar as redes sociais da mesma forma que qualquer outra preocupação de saúde pública é uma posição defendida por vários especialistas. Helen Lee Bouygues, fundadora da ‘Reboot Foundation’, por exemplo, propôs a inclusão de rótulos de advertência nas redes socais, anúncios de serviço público e campanhas educacionais direcionadas, muito parecidas com os anúncios anti-tabaco.
Embora isso possa parecer incongruente a princípio, pode contribuir muito para alertar os utilizadores sobre as repercussões que as suas atividades têm na sua saúde mental. Vivek Murthy, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, num artigo no jornal ‘The New York Times’ em junho último, expressou a necessidade de colocar rótulos de advertência em plataformas sociais, citando evidências de estudos conduzidos sobre o consumo de tabaco que descobriram que os “rótulos de advertência podem aumentarEle citou evidências de estudos conduzidos sobre o consumo de tabaco que descobriram que “rótulos de advertência podem aumentar a conscientização e mudar o comportamento”.
“As escolas devem garantir que o aprendizagem em sala de aula e o tempo social sejam experiências sem telefone. Os pais também devem criar zonas sem telefone em torno da hora de dormir, refeições e reuniões sociais para proteger o sono de seus filhos e as conexões da vida real”, observou Murthy.
Lidar com o vício em redes sociais exigiria o mesmo esforço coletivo que foi visto no passado para reduzir o tabagismo. Foram necessárias várias campanhas de saúde pública na segunda metade do século passado para reduzir o número de fumadores. Assim como a conscientização afastou a maioria dos jovens do tabaco, manobras focadas poderiam subjugar alguns impactos negativos das redes sociais.