Incêndios: quatro fatores sem precedentes nos últimos 20 anos deixam Portugal em maior risco. E vai tornar-se pior, alerta especialista

Portugal, por este dias, vive uma condição climatológica sem precedentes nas últimas duas décadas, indicou o climatologista Carlos da Câmara, citado pela ‘CNN Portugal’: nesta segunda-feira foi o dia com maior risco de incêndio dos últimos 23 anos em cinco distritos do país.

A combinação de temperaturas elevadas, baixa humidade, vento forte e falta de chuva propiciam as condições ideais para a ocorrência de fogos de grande dimensão, até mesmo superiores aos megaincêndios de 2017, responsáveis pela morte de mais de 100 pessoas: na altura, houve um downburst, um fenómeno climático que ajuda à propagação do fogo, dias quentes e diversos fatores que tornaram os fogos indomáveis.

Mas, por estes dias, garantiu o especialista, vive-se um fenómeno mais raro. “Se me perguntar se esta situação é anómala, é anómala no sentido em que o perigo de incêndio em alguns concelhos, nomeadamente em Aveiro e Viseu, esteve no topo. Nunca se registou nenhum valor de perigo meteorológico tão elevado desde 2001”, explicou, salientando que a situação a norte do Tejo “é verdadeiramente anómala”.

Para tal, contribuiu para este ‘cocktail’ uma vaga de calor, intensificada desde segunda-feira – e manter-se-á intensa nos próximos dias -, uma humidade do ar muito baixa, à qual se juntou um vento de leste intenso. Aliada à ausência de precipitação durante o verão, reuniram-se “quatro fatores que levam a uma enorme perigosidade de incêndio.

“Tendo havido uma primavera bastante chuvosa e com temperaturas amenas, que se prolongou em junho e julho, houve condições para se criar uma grande quantidade de biomassa, que foi stressando ao longo do verão”, indicou Carlos da Câmara. Ou seja, as chuvas anteriores fizeram crescer a vegetação, que mais tarde secou com o calor e transformou-se em combustível para as chamas. Já em 2017, os campos estavam totalmente secos, uma vez que o país atravessava seca extrema. “Conjugaram-se aqui fatores, não só ao nível do dia, ao nível do curto prazo, mas ainda ao facto pré-estação de incêndio, que era uma quantidade de biomassa grande”, sublinhou.

“Se olharmos para os fogos de 2017 e para os que temos agora… a situação não é comparável. Se olhar para 2017, dias como este, houve uma série deles”, reiterou, garantindo que não se lembra de ter visto mapas “tão carregados de classes de perigo de incêndio extrema e excecional como em 2017”.

Portugal deve, por isso, tirar uma lição. “Com as alterações climáticas, dias excecionais como estes vão aumentar, vão tornar-se dias mais frequentes. É bom que percebamos que situações como esta vão tornar-se, não é a norma, mas a curto prazo vão aumentar”, alertou, apontando que pode vir-se a falar de temporadas em que a situação vai ser “três ou quatro vezes pior”.

“Isto é preciso ser olhado de uma forma muito séria, percebendo que o que aí vem, de certeza que vai ser muito mais complicado. Fazendo uma comparação, eu digo que eu sou uma espécie de dono do casino. Eu não sei, de vez em quando, a banca vai ao ar, mas estatisticamente o dono ganha. Infelizmente aqui o climatologista ganha estatisticamente esta luta e é preciso perceber que para isso é preciso mudar, quer o ordenamento do território, quer toda a política de controlo de ignições”, concluiu.

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