Incêndios de 6.ª geração estão “fora da capacidade dos métodos tradicionais de combate”, alertam especialistas

Os incêndios de grandes dimensões, violentos e rápidos vão tornar-se cada vez mais frequentes, não só devido às alterações climáticas, mas também devido ao êxodo rural. Por isso, os métodos de combate têm de ser readaptados à realidade dos chamados ‘incêndios de 6.ª geração’.

O alerta parte de especialistas ouvidos pelo Observador. Vitor Reis, presidente da Escola Nacional de Bombeiros, explica que estes incêndios “são intensos, rápidos, dominados pelos combustíveis disponíveis, pelo stress hídrico gerado pelas mudanças climáticas e que, pela quantidade de energia libertada, modificam a meteorologia à sua volta, favorecendo o desenvolvimento de tempestades de fogo”.

Com as alterações climáticas, chove menos nos períodos em que normalmente há maior precipitação, os verões estão mais quentes e com ondas de calor. As barragens não enchem, os solos ficam mais secos, mas com as chuvas em períodos mais curso, isso significa que o crescimento de vegetação é favorecido, sendo que esta seca e depois tona-se combustível para fogos no verão.

Mas as mudanças no clima não justificam tudo, nem o surgimento destes incêndios de 6.ª geração. Com o abandono das zonas rurais, com mais população a rumar aos centros urbanos, resultam mais fatores a adicionar ao ‘cocktail explosivo’: há menos controlo e cuidado das áreas florestais, há menos pastorícia e, por isso, os animais não fazem a sua função de controlo de material combustível e também há menos terrenos agrícolas, que servem de ‘tampão’ para a progressão de eventuais incêndios.

Esta classificação por ‘geração’ de incêndios, criada por especialistas catalães, respeita aos anos de acumulação de material combustível nas florestas, que quanto maior, for, mais intenso será o fogo. Os de 6.ª geração podem chegar ou superar os 100 mil quilowatts de energia por cada metro (kW/m). Os especialistas ouvidos pelo jornal online apontam que os fogos de Pedrógão Grande e da Sertã, em 2017, estiveram próximos dessa realidade.

Domingos Xavier Viegas, diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial alerta que são “incêndios fora da capacidade de supressão com os métodos tradicionais”, e que poderão haver ainda outros de categorias superiores, de uma dimensão que nem os especialistas conseguem adiantar.

Mais do que água e métodos tradicionais de combate a incêndios, os especialistas alertam para a necessidade de ‘combater fogo com fogo’. A limpeza de terrenos continua a ser fundamental, mas, por exemplo, no ano passado só um terço dos fogos controlados previstos foram feitos.

As mangueiras, segundo os especialistas, devem ser substituídas ou complementadas por enxadas, máquinas de arrasto e uso de fogo tático.

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