Ilha da Páscoa já não é só famosa pelas estátuas de pedra: é agora um ‘santuário’ de plástico

A famosa Ilha da Páscoa, conhecida pelas famosas estátuas (ou moai), é agora também um ‘habitat’ perfeito para o plástico, refere o jornal britânico ‘The Guardian’. Se à distância a colorida praia de Ovahe parece um mosaico de beleza natural perfeito para cartões postais, é quando as ondas recuam que surge outra realidade: a areia contém poucos corais ou conchas. Em vez disso, é um ‘tapete’ multinacional de plástico polido numa variedade de vermelhos branqueados da Coca-Cola e azuis da Pepsi.

O lixo do oceano está amontoado em todos os cantos desta praia remota na Ilha de Páscoa, um pedaço de terra de 163 quilómetros quadrados. A cerca de 3.700 quilómetros a oeste do centro do Chile, a Ilha de Páscoa (também conhecida como Rapa Nui) está entre os locais mais remotos da Terra – e entre os mais poluídos.

Estima-se que chegue às praias da ilha 50 vezes mais plástico do que no continente chileno, em grande parte como resultado da vasta corrente em espiral conhecida como Giro do Pacífico Sul. Esta corrente funciona como um funil, sugando plástico de lugares tão distantes como as Ilhas Galápagos e a Nova Zelândia e, a cada maré, depositando uma onda de lixo flutuante.

Kina Paoa Kannegiesser é uma das habitantes da ilha que se dedica a apanhar todo o plástico que encontra: chega mesmo a recolher corais que se fundiram com os detritos para formar ‘uma sandes de plástico orgânico’. Duas vezes por semana, percorre 24 quilómetros, de uma ponta à outra da ilha, para encher sacos com pedaços de plástico. Num dia ‘médio’, recolhe cerca de 10 kg, que transporta para a sua oficina no quintal da capital da ilha, Hanga Roa, onde o tritura e coloca em moldes. Os detritos são então derretidos na forma das icónicas estátuas de pedra da Ilha de Páscoa.

Cada moai de 10 cm é transformado num porta-chaves, num íman de frigorífico ou numa joia, que Paoa Kannegiesser vende aos turistas dos navios de cruzeiro, que transportam assim algum plástico para fora da ilha.

Perto, a central de reciclagem Orito recebe montanhas de lixo recolhido por patrulhas cívicas de limpeza: durante a pandemia da Covid-19, quando o turismo na ilha foi encerrado, centenas de ilhéus passaram meses a vasculhar as praias enquanto removiam cerca de 11 toneladas de resíduos. Os trabalhadores municipais agora transformam o plástico em tampos de mesa multicoloridos e móveis domésticos: um projeto inspirador construiu uma escola de música para a ilha utilizando 2.500 pneus, 40 mil garrafas de vidro e 40 mil latas de alumínio.

No entanto, a montanha de lixo cresce. Um estudo realizado pela Universidade Católica do Norte, no Chile, calculou que 4,4 milhões de pedaços de lixo por ano – ou mais de 500 peças por hora – chegam às costas da Ilha de Páscoa.

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