Ideias que mudam o mundo – ONE
Por: Fast company
A moda rápida tem um problema, e esse problema é, nem mais, que o desperdício.
Segundo algumas contas, um número impressionante de 92 milhões de toneladas de têxteis – o peso equivalente a 11 milhões de autocarros de dois andares – acabam em aterros todos os anos. E mais de 30% desse valor resulta da produção excessiva.
O principal culpado é um modelo de negócio falido, em que se espera que as marcas prevejam o número de peças de vestuário que precisam de produzir com base no número de peças que pensam que as pessoas vão comprar. As inevitáveis discrepâncias levam ao excesso de stock que se acumula nos armazéns, se amontoa em locais como o deserto de Atacama, no Chile, ou é incinerado.
Uma empresa de produção chamada Resonance – vencedora do prémio Ideias Que Mudam o Mundo da Fast Company na categoria de arte e design – quer inverter este modelo. Em vez de desenhar, fabricar e depois vender uma peça de vestuário, as marcas podem desenhar peças de vestuário no sistema operativo da empresa e fabricá-las e vendê-las apenas após o cliente as ter encomendado, eliminando a necessidade de stock em excesso.
A inversão pode parecer simples, mas exige uma reestruturação tão profunda da indústria da moda que a empresa teve de repensar todas as etapas do processo, integrando a IA em cada passo. «É impossível mudar [esta] indústria a
menos que o façamos de ponta a ponta», explica o cofundador da Resonance, Lawrence Lenihan.
A Resonance foi lançada em 2016, mas aumentou a sua actividade no ano passado. Até à data, a empresa trabalhou com cerca de 30 marcas, incluindo Tucker, Rebecca Minkoff e Crouch & Fitzgerald, e produziu mais de 260 mil peças de vestuário. A Resonance passou os últimos oito anos a aperfeiçoar o seu sistema operativo ONE, treinando modelos de IA para compreender – e, crucialmente, optimizar – cada fase da produção de vestuário, do design à produção e ao controlo de qualidade. Agora, entrou na sua fase beta e planeia abrir a plataforma a mais marcas ainda este ano.
Eis como funciona a ONE. Designers e marcas usam o sistema de IA da plataforma para escolher entre 50 fibras naturais diferentes e roupas prontas para produção, optimizadas para o design, que eventualmente serão feitas em qualquer lugar do mundo. (Por enquanto, todas as roupas são feitas na fábrica da empresa na República Dominicana.) Quando as pessoas encomendam roupas, o sistema utiliza IA para optimizar a cadeia de abastecimento e reduzir o desperdício, combinando encomendas de diferentes marcas – como uma espécie de corretor de moda. A empresa utiliza depois a impressão digital e o corte a laser para produzir as peças que compõem o vestuário, garantindo que cada peça corresponde exactamente aos critérios definidos pela marca, como a qualidade da costura ou a consistência da cor.
É aqui que as coisas se complicam. Se o objectivo é que este sistema processe milhões de peças de vestuário simultaneamente e em tempo real, como se garante que cada uma dessas peças cumpre o nível de qualidade exigido? Como explica o cofundador e CEO da Resonance, Christian Gheorghe, também aqui a resposta é a IA.
A empresa utiliza câmaras, visão artificial e seres humanos para treinar um sistema baseado em IA que compara um desenho digital com a peça de vestuário feita na fábrica. O modelo de IA foi treinado em «dezenas de milhares de interacções humanas», refere Lawrence Lenihan, e pode, assim, efectuar verificações de qualidade com o olhar especializado de um humano e a eficiência de uma máquina.
Por enquanto, a empresa produz todas as peças de vestuário nas suas próprias instalações de produção, mas, à medida que for crescendo, planeia estabelecer parcerias com fábricas existentes ou novas. Se for bem-sucedido, o novo modelo de negócio poderá permitir uma cadeia de fornecimento mais distribuída – e promover uma indústria com menos desperdício.