Homens são os que mais trabalham a partir de casa. Crise de 2008 foi pior em desemprego do que pandemia

A nível europeu, verificou-se um crescimento do trabalho a partir de casa na última década. Em 2019, o último ano com dados internacionais disponíveis, 17% da população empregada na União Europeia realizou algum trabalho em casa, sempre ou de forma esporádica, um aumento de 3,6% face a 2009.

Portugal foi dos países onde o trabalho em casa mais aumentou, passando de 5,2% em 2009 para 16,3% em 2019, um valor muito próximo da média europeia, revela um estudo da Fundação José Neves.

Quer antes, quer depois da pandemia, os homens têm maior probabilidade de trabalhar em casa do que as mulheres. Essa diferença era mais significativa no período pré-pandemia (5,4 pontos) do que nos trimestres da pandemia (3,4 pontos).

A probabilidade de trabalhar em casa aumentou para todas as faixas etárias, mas continua a ser substancialmente mais baixa na dos 25-34 anos – 17,2% durante a pandemia. No entanto, é nesta faixa etária que é mais provável trabalhar em casa em regime de teletrabalho, ou seja, com recurso a tecnologias de informação e comunicação.

No que toca ao nível de escolaridade, os trabalhadores com ensino superior são os que têm maior probabilidade de  ingressarem no regime de teletrabalho (67,5%).

A pandemia acelerou esta tendência em Portugal. No período que decorreu entre o início do ano de 2018 e o primeiro trimestre de 2020, a probabilidade de trabalhar em casa foi de 16%, valor que passou para 25,1% durante a pandemia, com valores máximos no segundo trimestre (28,9%). No último trimestre este número baixou para os 24,4%. Quem trabalhou em casa, sempre ou ocasionalmente, fê-lo maioritariamente em regime de teletrabalho (64,5%).

População no ativo envelheceu

O grupo dos trabalhadores mais velhos, sobretudo com idade superior a 44 anos, viu o seu peso na força de trabalho aumentar. Em 2019, representava quase 48% do total de trabalhadores, mais 5 pontos percentuais do que em 2011, como observa a Fundação José Neves.

Este dado reflete o aumento de 17% no número de trabalhadores com mais de 44 anos naquele período. Este grupo de trabalhadores foi o menos afetado pela crise financeira, tendo o volume de emprego permanecido praticamente inalterado entre 2011 e 2013.

Em contrapartida, os jovens trabalhadores dos 25 aos 34 anos constituem um grupo especialmente penalizado. Em 2011 ocupavam 23% dos empregos existentes, mas viram esta quota reduzir para 21%, em 2013. Aquilo que parecia ser uma consequência da crise prolongou-se até 2019, ano em que já só representavam 19% do total de trabalhadores.

Jovens foram os mais afetados pelo desemprego 

Segundo a Fundação José Neves, as duas crises, a de 2008 e a provocada pela covid-19, ainda que por razões diferentes, penalizaram sobretudo os mais jovens. Os dados da evolução da população empregada (em percentagem da população total) desde 2011 mostram, de forma clara, que as quedas de empregabilidade nos quatro trimestres de 2020 (em particular no segundo) foram significativamente mais fortes para os jovens em início de carreira (25-34 anos), abrindo uma nova lacuna de empregabilidade face às gerações mais velhas.

No segundo trimestre de 2020, os mais jovens viram a sua taxa de emprego cair cerca de 5,7 pontos percentuais face ao trimestre homólogo de 2019, o que correspondeu a menos 60 mil pessoas empregadas. Para os adultos mais velhos (35-54 anos) a queda não chegou a 1 ponto.

Os efeitos no emprego da atual crise pandémica não parecem ainda tão dramáticos quando comparados com o anterior período de crise económico-financeira. A taxa de emprego dos mais jovens chegou a ser em 2013 de apenas 71%, que compara com valores próximos dos 79%, mesmo no pior trimestre de 2020.

Ensino superior é sinónimo de menor risco de desemprego

A taxa de emprego entre os jovens dos 20 aos 34 anos que terminam um grau de ensino revela uma vantagem clara para quem completa o ensino superior. Em 2019, 80,6% dos que terminaram o ensino superior nos últimos três anos estavam empregados, o que compara com 73,5% de quem terminou o ensino secundário no mesmo período.

Apesar de, em 2019, a taxa de emprego dos recém-formados do ensino superior ser idêntica para homens e mulheres (81,1% nos homens e 80,4% nas mulheres), a vantagem face ao ensino secundário tornou-se muito superior para as mulheres a partir de 2016. Em 2019, a taxa de emprego das mulheres que terminaram o ensino superior nos últimos 3 anos era cerca de 18% superior quando comparada com o mesmo indicador para as que terminaram o ensino secundário. A diferença no caso dos homens não chegava aos 5%.

A análise da taxa de desemprego remete mais diretamente para situações involuntárias de afastamento do mercado de trabalho. A taxa de desemprego entre os recém-formados teve um forte aumento no início da década, no período de crise. Em 2012, os números do desemprego jovem rondavam os 30%, mesmo para os diplomados do ensino superior, tendo baixado consideravelmente no pós-crise para os diplomados do ensino superior, sobretudo entre as mulheres.

Em 2014 e em 2019 foram os cursos das áreas CTEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), ‘Saúde e proteção social’ e ‘Educação’ que apresentaram propensão ao desemprego abaixo da média. Em 2019, o desemprego foi menor entre os diplomados da área de ‘Ciências naturais, matemática e estatística’ (cerca de 2%). Em contraste, o risco de desemprego é superior à média para quem se forma nas áreas de ‘Serviços’, ‘Agricultura, silvicultura, pescas e ciências veterinárias’, e principalmente nas áreas de ‘Ciências empresariais, administração e direito’, ‘Artes e humanidades’ e ‘Ciências sociais, jornalismo e informação’.

Portugal é um aluno de “última fila” na Europa

Portugal apresenta uma população significativamente menos escolarizada do que a generalidade dos países europeus, como concluiu a Fundação José Neves.

Segundo os dados mais recentes, em 2019,  quase 50% dos portugueses dos 25 aos 64 anos que não tinham o ensino secundário completo.

Portugal partilhava essa característica com outros países do sul da Europa (Malta, Espanha e Itália), mas de forma mais extrema, tendo a pior prestação entre os países da União Europeia.

Em 2019, apenas cerca de um em cada quatro portugueses entre os 25 e os 64 anos tinha completado o ensino superior (26,3%). Mesmo que Portugal continue a ser um dos países com pior desempenho neste indicador, a diferença para os países do sul europeu é menos significativa do que no caso do ensino secundário.

Portugal, tal como a Espanha ou a Irlanda, caracteriza-se por uma aceleração relativamente rápida dos níveis de ensino superior, ainda assim, os níveis deste nível de ensino na população ativa em Portugal são baixos quando comparados com países como a Irlanda, o Luxemburgo e a Finlândia, que contam com mais de 45% da população entre os 25 e os 64 anos com o ensino superior.

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