Homens denunciaram mais de 700 casos de abusos sexuais desde 2016, aponta associação: crimes contra adultos estão a aumentar

Nos últimos sete anos, os homens avançaram com 718 pedidos de ajuda junto da Associação Quebrar o Silêncio: a maioria dos crimes ocorreu na infância, mas, desde 2020, o número de casos de violência sexual contra homens adultos tem vindo a aumentar, sobretudo em relações de intimidade, mas também em consultórios médicos e aulas de grupo nos ginásios.

Em 2023, foram reportados 124 casos de abusos sexuais, dos quais 10% em homens de idade adulta, junto da associação que apoia homens e rapazes vítimas, que, ao ‘Jornal de Notícias’, alertou para o aumento destes crimes em adultos: de 2 para 12 entre 2020 e 2023.

“Achamos que esta subida reflete também um pouco o nosso esforço. Os homens vão tendo mais a perceção de que se trata de um crime e, mais conscientes dos seus direitos, procuram apoio”, indicou o fundador da associação, Ângelo Fernandes, salientando que os números “estão relacionados com o aumento das ações de sensibilização e formação”.

Desde 2017, a maior parte dos casos aconteceu no seio familiar ou em relações próximas, mas tem vindo a registar-se fora destes contextos. “Acontece durante consultas e exames, quando os médicos pedem ao utente para tirar a roupa e têm de tocar-lhe: o toque começa a ser mais invasivo ou há mesmo questões de abuso. Acontece ainda nos ginásios, nas aulas de grupo. Tivemos o caso de um instrutor que, nos alongamentos, ‘colava’ a pélvis na parte traseira das vítimas”, explicou.

O responsável alertou para a necessidade de se desconstruírem mitos, como o de “os homens adultos não sofrem abusos sexuais”: “É uma realidade ainda bastante estigmatizada”, sublinhou. “Muitas vezes há a ideia de que a violência sexual contra homens só acontece na infância e, apesar de a maioria dos casos ser nessa altura, também existem homens adultos vítimas. Se acreditarem que é sempre na infância, podem achar que o seu caso não foi de abuso sexual. Temos homens que também nos dizem que não sabiam que podiam dizer que ‘não’”, apontou Ângelo Fernandes.