Hipersónico vs. Balístico Intercontinental: Quais as diferenças entre estes tipos de mísseis?
O recente lançamento de um míssil pela Rússia, classificado inicialmente pela Ucrânia como um míssil balístico intercontinental (ICBM), trouxe à tona diferenças cruciais entre ICBMs e mísseis hipersónicos. O ataque, que teve como alvo a cidade de Dnipro, ocorre num momento em que o conflito entre os dois países já dura 33 meses e continua a escalar.
A Ucrânia alegou que o míssil utilizado apresentava características típicas de um ICBM, como a velocidade e a trajetória. “Hoje, houve um novo míssil russo. Todas as suas características—velocidade, altitude—são de um míssil balístico intercontinental”, afirmou o Presidente Volodymyr Zelensky, apelando a uma resposta internacional.
No entanto, Moscovo desmentiu essa identificação. Numa declaração televisiva, o Presidente russo Vladimir Putin confirmou que o sistema de armamento utilizado foi o “Oreshnik”, uma nova tecnologia com capacidades hipersónicas. “A Rússia reserva-se o direito de usar armas contra alvos militares em países que permitam ataques ao solo russo”, declarou Putin, justificando o ataque como uma resposta ao uso de armas ocidentais de longo alcance pela Ucrânia em território russo.
O Pentágono também contestou as alegações de Kyiv, identificando o míssil como um RS-26 “Rubezh”, um míssil balístico de alcance intermédio (IRBM) equipado com tecnologia hipersónica e uma carga útil MIRV (veículos de reentrada múltiplos e independentemente direcionáveis) com seis ogivas convencionais.
Putin sublinhou que o míssil não era nuclear. “Em resposta ao uso de armamento de longo alcance americano e britânico, as forças armadas russas realizaram, a 21 de novembro, um ataque combinado contra um dos complexos militar-industriais da Ucrânia”, explicou.
Hipersónicos vs. ICBMs: o que os distingue?
Apesar de serem tecnologias avançadas de armamento, mísseis hipersónicos e ICBMs possuem finalidades e características operacionais distintas:
- Velocidade e manobrabilidade:
- Mísseis hipersónicos viajam a velocidades superiores a Mach 5 (cinco vezes a velocidade do som) e têm capacidade de manobra em pleno voo, tornando-os extremamente difíceis de detetar e interceptar.
- Os ICBMs alcançam velocidades semelhantes, mas seguem uma trajetória balística alta e previsível, com pouca ou nenhuma capacidade de manobra na fase de reentrada.
- Carga útil:
- Os ICBMs são projetados principalmente para transportar ogivas nucleares a longas distâncias, sendo muitas vezes equipados com MIRVs que podem atingir múltiplos alvos simultaneamente.
- Mísseis hipersónicos são concebidos para ataques de precisão contra alvos estratégicos e podem ser armados com ogivas nucleares ou convencionais.
- Alcance:
- ICBMs têm um alcance superior a 5.500 quilómetros, sendo projetados para ataques intercontinentais.
- Mísseis de alcance intermédio, como o RS-26, têm um alcance entre 1.800 e 5.500 quilómetros, limitando a sua utilização a alvos regionais.
Udos de mísseis ocidentais para atacar a Russa faz subir tensões e receios
O lançamento do míssil russo surge numa altura em que a Ucrânia intensificou o uso de armas de longo alcance fornecidas pelo Ocidente. Recentemente, os EUA autorizaram o envio de mísseis de maior alcance para Kyiv, permitindo ataques mais profundos em território russo. Dias após essa decisão, a Ucrânia utilizou mísseis ATACMS, fornecidos pelos Estados Unidos, e Storm Shadow, do Reino Unido, contra alvos na Rússia, o que provocou uma forte reação de Moscovo.
Putin, em resposta, assinou uma nova doutrina militar que autoriza uma retaliação nuclear, mesmo em caso de ataque convencional contra a Rússia por países apoiados por potências nucleares.
À medida que tecnologias como mísseis hipersónicos e ICBMs entram no campo de batalha, aumentam as preocupações sobre uma escalada ainda maior do conflito. A Rússia e a Ucrânia continuam a recorrer a armamentos de ponta, enquanto as diferenças entre esses sistemas de armas se tornam cruciais não só para a estratégia militar, mas também para o debate internacional sobre os limites da guerra moderna.