Harris ou Trump? EUA vão hoje a votos num cenário de profunda divisão. Saiba tudo sobre as eleições que vão mudar o mundo
Dia 5 de novembro, o dia que vai definir o futuro dos Estados Unidos. A corrida à Casa Branca, entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, nunca foi tão renhida como este ano e o vencedor dificilmente será encontrado no dia das eleições – ou até brevemente. As atenções americanas – e do mundo – estão centradas nos chamados estados decisivos: com mais de 300 milhões de pessoas, as eleições nos Estados Unidos podem vir a ser decididas por apenas dezenas de milhares de votos em pouco mais de meia dúzia de estados.
Isto porque em apenas sete dos 50 estados a votos esta terça-feira há incerteza sobre o vencedor entre democratas e republicanos, segundo as sondagens recentes e o histórico da política americana. Se não houver surpresas em algum dos 43 estados e território federal de Washington DC, Harris parte para a batalha nos estados decisivos com 226 votos eleitorais e Trump com 219, com outros 93 em disputa.
Como nos Estados Unidos o vencedor não é baseado no voto popular, mas sim no sistema do Colégio Eleitoral, é possível ter uma maioria dos 538 votos eleitorais – e assim alcançar a tão desejável barreira dos 270 -, e não ser o candidato mais votado, como aconteceu com Trump, em 2016, frente a Hillary Clinton. No caso de um empate a 269 votos eleitorais, é o Congresso que decide – com vantagem para Trump.
São sete os estados que podem cair para qualquer lado esta terça-feira: o trio do “Rust Belt”, no norte dos EUA, que inclui Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, e o quarteto do “Sun Belt”, no sul e sudeste do país, com Arizona, Nevada, Geórgia e Carolina do Norte. Aqui vai ser jogada a sorte de Trump e Kamala Harris, assim como de JD Vance e Tim Walz, as escolhas dos dois candidatos para a vice-presidência, respetivamente.
A operação de segurança é extensa: as autoridades mobilizaram a Guarda Nacional em resposta à possibilidade de protestos violentos e tumultos em várias regiões do país. Entre os estados onde as precauções estão a ser reforçadas estão Washington e Oregon, locais onde incidentes recentes, como o incêndio em urnas de voto, resultaram na destruição de centenas de boletins eleitorais.
As autoridades reforçam ainda que a necessidade de maior vigilância e segurança nas eleições de 2024 é, em parte, uma resposta aos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021, quando apoiantes do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio dos EUA, num evento sem precedentes que interrompeu a certificação dos resultados da eleição presidencial de 2020. O episódio teve um impacto profundo sobre a segurança eleitoral nos EUA, levando as autoridades a tomarem medidas de precaução adicionais em processos subsequentes.
O que dizem as sondagens?
Um dia antes das eleições presidenciais nos EUA, as últimas sondagens mostraram os candidatos Kamala Harris e Donald Trump taco a taco a nível nacional e nos sete estados decisivos, com apenas uma ligeira vantagem para a democrata.
Harris tem agora apenas um ponto a mais do que Trump no agregado de sondagens nacionais da plataforma ‘FiveThirtyEight’, uma das mais precisas do mercado de previsões, sendo a diferença menor do que a margem de erro.
Nos sete estados decisivos, que vão determinar quem chega à Casa Branca, a nova sondagem ‘New York Times/Siena’ coloca Kamala Harris à frente em quatro, Donald Trump a liderar um e empate em dois.
Esta sondagem dá a Harris mais três pontos no Nevada (49%-46%), dois pontos na Carolina do Norte (48%-46%), dois pontos no Wisconsin (49%-47%) e um ponto na Geórgia (48%-47%).
Trump mantém-se na frente no Arizona, com 49% das intenções de voto contra 45% da democrata, e na Pensilvânia e Michigan ambos estão empatados, 48% e 47% respetivamente.
Estes dados da ‘Siena’ são diferentes das tendências que vêm sendo registadas por outras sondagens, como ‘Marist’ e ‘Morning Consult’, mas a diferença mínima é uma constante nas pesquisas e significa que qualquer desvio dentro da margem de erro pode mudar completamente a corrida.
Por exemplo, a pesquisa ‘Des Moines Register/Mediacom’ no Iowa surpreendeu toda a gente ao dar Kamala Harris à frente por três pontos. Este estado, que tem seis votos no colégio eleitoral, votou em Trump tanto em 2016 como em 2020 e não estava no elenco de ‘estados pendulares’ neste ciclo eleitoral.
A nível nacional, a ‘Morning Consult’ dá dois pontos de vantagem a Harris, enquanto a pesquisa da ‘ABC/Ipsos’ coloca a vice-presidente acima por três. Na sondagem da ‘Economist/YouGov’, a democrata tem mais dois pontos (49%-47%).
Embora seja esperado que Kamala Harris vença ao nível do voto popular, a presidência dos Estados Unidos é decidida pelos votos do colégio eleitoral e aí os algoritmos dão vantagem a Donald Trump. A fórmula da ‘FiveThirtyEight’ mostra que o republicano ganha 53 vezes em cada 100 simulações, melhor que as hipóteses de Harris (47 em 100).
A mais recente pesquisa da ‘Emerson College’ indica que 1% do eleitorado apoia um terceiro candidato e que outro 1% continua indeciso. A sondagem também aponta para uma diferença significativa de preferência entre géneros: as mulheres preferem Kamala Harris por uma margem de 12 pontos e os homens votam em Trump por uma percentagem similar.
No que toca ao Senado, os republicanos têm uma vantagem esmagadora: em cada 100, têm 90 hipóteses de vencer. O cenário é muito mais equilibrado na Câmara dos Representantes, em que as probabilidades estão divididas entre 52/100 para os republicanos e 48/100 para os democratas.
Quem são Donald Trump e Kamala Harris? Quais são os seus pontos fortes e fracos?
Donald Trump e Kamala Harris, candidatos dos partidos republicano e democrata, repetivamente, prepararam-se para um embate nestas eleições com estilos políticos opostos, num confronto que vai moldar o futuro da nação.
Enquanto Trump tenta regressar ao poder com promessas de restaurar a visão nacionalista que marcou o seu mandato, Harris aposta em prolongar e, ao mesmo tempo, redefinir o legado da administração Biden, apresentando-se como uma candidata que traz consigo inovação e inclusão. No entanto, ambos têm pela frente grandes desafios e contam com trunfos e fraquezas que podem ser decisivos para a vitória, segundo uma análise feita por especialistas à publicação espanhola ’20 Minutos’.
Trump: um apelo emocional e um eleitorado fiel
Donald Trump é, sem dúvida, um rosto familiar na política americana, e a sua imagem polarizadora gera impacto e mobiliza um eleitorado muito fiel. Segundo Alejandro Manso, analista político da consultora LLYC, uma das grandes forças de Trump reside na capacidade de conectar-se com um perfil de eleitor que partilha os receios em relação ao que percebem como uma perda de supremacia global dos Estados Unidos. O discurso de Trump, ao centrar-se nesta nostalgia pela “grandeza perdida”, ressoa com uma América “assustada” que deseja resgatar a posição de poder no cenário mundial.
Isidro Sepúlveda, professor de História Contemporânea e especialista em relações internacionais, destaca que Trump beneficia de um cenário de forte polarização, afirmando que “um ambiente radicalizado sempre favorece o mais radicalizado”. A radicalização tem sido evidenciada durante a campanha, em particular com as ameaças de violência contra o ex-presidente, incluindo uma tentativa de assassinato em julho na Pensilvânia. Sepúlveda sugere que episódios como esse acabam por “beneficiar Trump, reforçando a sua imagem junto dos apoiantes mais radicais”.
Além disso, Trump tem conseguido ampliar a sua base de apoio ao atrair eleitores de minorias étnicas e reforçar a perceção positiva junto de grupos preocupados com temas como imigração e economia. De acordo com uma sondagem do ‘The Economist/YouGov’, estas são questões cruciais para o eleitorado americano, e a sua abordagem tem mostrado resultados.
Para Manso, Trump e a sua equipa têm sido cautelosos em evitar confrontos diretos, limitando-se a um único debate eleitoral. Esta estratégia, segundo o analista, tem funcionado a favor do republicano, que evita réplicas diretas que poderiam enfraquecer a sua mensagem. Em vez disso, aposta numa campanha que sublinha a descida de impostos e a revitalização do país, sem confronto face a face.
Kamala Harris: a continuidade de Biden e a promessa de mudança
Do lado democrata, Kamala Harris surge com uma proposta de continuidade em relação às políticas de Joe Biden, mas trazendo uma agenda própria que visa cativar eleitores de todas as frentes. O facto de Harris ser mulher e negra é visto como uma vantagem na diversidade e representatividade da sua campanha, apesar de Manso sublinhar que este aspeto possa jogar contra ela junto de um eleitorado masculino e branco, onde Trump tem predominado.
Para a especialista Sara Núñez de Prado, da Universidade Rey Juan Carlos, Harris representa o setor progressista, sendo uma escolha que pode atrair mulheres e minorias, embora se depare com uma sociedade americana que está, segundo a docente, “altamente polarizada”. No entanto, como acrescenta Luis García, professor de Sociologia da Universidade Complutense, a candidatura de Harris pode ainda recolher os méritos da administração de Biden em temas como o crescimento do emprego e do PIB (Produto Interno Bruto), além das políticas de saúde pública, como a defesa dos direitos ao aborto e a redução dos custos dos medicamentos, que são temas centrais para os democratas.
Um dos maiores trunfos de Harris tem sido a sua capacidade de se afastar de um discurso excessivamente vinculado ao movimento woke, optando por uma abordagem mais pragmática, uma manobra que, segundo Manso, “lhe deu votos junto dos indecisos”. Esta flexibilidade de discurso e a sua experiência enquanto procuradora-geral da Califórnia conferem-lhe uma imagem positiva, embora tenha tido uma vice-presidência considerada pouco visível, algo que tentou colmatar com maior presença mediática ao longo da campanha.
Os pontos fracos: o peso de uma campanha polarizada
No entanto, ambos os candidatos têm os seus pontos fracos. No caso de Trump, o estilo de campanha agressivo pode ser um risco, já que alimenta a polarização. Segundo Manso, apesar de o seu discurso emocional cativar, o candidato republicano tem tentado refrear os seus ataques mais intensos, numa tentativa de moderar o impacto negativo que o seu perfil altamente controverso pode causar.
Outro entrave para Trump tem sido a falta de apoio unânime dentro do seu partido, que se apresenta fragmentado em comparação com o bloco democrata, que se uniu em torno de Harris após a decisão de Biden de se afastar. Sepúlveda destaca que “há muitas mais vozes discrepantes entre os republicanos” e que, para alguns membros do partido, o estilo de Trump não representa a linha clássica do partido.
Do lado de Harris, a sua vice-presidência pouco conhecida e a perceção de que é menos carismática e assertiva em relação a temas económicos e de segurança podem enfraquecer o seu apelo. Como observou Núñez, grande parte do eleitorado considera a sua gestão “pouco popular”, e as suas propostas são vistas por muitos como generalistas e menos vantajosas para as empresas, algo que pode custar-lhe apoio entre os eleitores mais preocupados com o crescimento económico.
Como acompanhar as eleições americanas a partir da Europa?
Para os europeus que pretendam acompanhar ao minuto a eleição presidencial dos Estados Unidos, o guia a seguir explica tudo o que precisa de saber, desde os estados decisivos até aos horários chave para acompanhar os resultados em direto. Esta eleição é acompanhada com grande expectativa na Europa devido à sua influência em áreas como o comércio, o ambiente, a tecnologia e a saúde.
Votação antecipada e o papel dos “swing states”
A eleição de 2024 já começou com cerca de 65 milhões de votos registados em todo o país, resultado do sistema de voto antecipado e por correio, permitindo que milhões de eleitores se antecipassem ao dia oficial das eleições. No entanto, os resultados que realmente poderão influenciar o desfecho concentram-se em sete estados decisivos: estes “swing states” serão alvo de maior atenção, pois neles reside a chave da vitória, enquanto a maioria dos outros estados tem previsões seguras para um ou outro candidato.
A Pensilvânia destaca-se entre esses estados devido aos seus 19 votos no colégio eleitoral, o maior número entre os estados disputados. A importância deste estado é acentuada, pois a sua decisão poderá ter um impacto decisivo no resultado final.
Horários para acompanhar os primeiros resultados (horário de Lisboa)
Primeiras sondagens de boca de urna
Às 22 horas, as primeiras sondagens de boca de urna deverão ser publicadas. Estas sondagens oferecerão uma primeira visão das tendências de votação, mas é importante não tirar conclusões precipitadas, pois muitos locais de voto ainda estarão abertos. No entanto, as sondagens ajudarão a perceber a composição do eleitorado (nível de educação, origem, género, idade), dados que podem indicar o rumo do resultado.
Encerramento das urnas
Os locais de votação irão encerrar entre as 22h e as 4h de Lisboa, começando pelos estados de Kentucky e Indiana e terminando no Alasca e no Havai. Contudo, com apenas três e quatro votos no colégio eleitoral, respetivamente, esses dois estados não são considerados decisivos. Entre os estados chave, a Geórgia fecha as urnas às 00h, a Carolina do Norte às 00h30, a Pensilvânia à 1h, o Michigan entre a 1h e as 2h, o Nevada às 3h e, finalmente, o Wisconsin e o Arizona às 2h CET.
Primeiros resultados e possíveis tendências
Resultados decisivos e suas implicações
Não se espera que todos os estados declarem os resultados na noite eleitoral. Contudo, os primeiros estados críticos a divulgar resultados, como a Geórgia por volta das 3 horas de Lisboa, seguidos pela Carolina do Norte e Michigan, poderão dar um sinal importante. Estes estados contam os votos por correio antes do encerramento das urnas, o que permite uma divulgação relativamente rápida. A situação poderá tornar-se clara caso um candidato obtenha vitórias firmes na Geórgia e na Carolina do Norte, colocando ainda mais pressão sobre o Arizona.
Possíveis atrasos e incertezas
É possível que os resultados em alguns estados acabem por demorar mais, especialmente se houver margens pequenas entre os candidatos, o que poderia desencadear pedidos de recontagem e atrasar a declaração final. Em 2020, por exemplo, apenas o estado do Arizona confirmou o resultado na noite eleitoral, enquanto outros levaram dias ou até semanas para terminar o processo, com recontagens e verificações adicionais.
Riscos de contestação e possíveis protestos
As equipas dos principais candidatos, tanto do Partido Republicano quanto do Democrata, estão já preparadas para avançar com desafios legais em caso de disputas, principalmente devido ao clima de tensão e descrença pública na integridade do processo eleitoral. Os EUA enfrentaram um episódio de extrema polarização durante a última eleição, em 2020, quando a vitória de Joe Biden sobre o então presidente Donald Trump culminou numa insurreição no Capitólio em janeiro de 2021, incidente descrito pelo Congresso americano como uma tentativa de golpe. Assim, existe a possibilidade de novos protestos, e os peritos apontam para a necessidade de uma transição eleitoral tranquila para evitar novos conflitos.
Para quem está na Europa, acompanhar as eleições dos EUA requer paciência e atenção aos horários chave dos estados decisivos. Apesar dos riscos de atrasos, os primeiros sinais de vitória poderão surgir nas primeiras horas da madrugada, mas a complexidade do sistema eleitoral americano significa que é preciso cautela antes de declarar vencedores e esperar uma noite longa e intensa para a definição do próximo presidente dos Estados Unidos.
Quando será conhecido o vencedor?
Esta é quase uma pergunta de um milhão de dólares. A verdade é que não há resposta. Em 2020, os principais media americanos só declararam Joe Biden como vencedor quatro dias depois de os boletins terem sido lançados. Neste ano eleitoral, as sondagens mostram uma disputa entre Donald Trump e Kamala Harris ainda mais acirrada. Leis em estados decisivos também podem atrasar o processo. E, independentemente do que as contagens eleitorais mostrem, haverá certamente recontagens e processos judiciais.
A 5 de novembro saber-se-á quem venceu? Tudo é possível, mas é improvável. As sondagens têm mostrado consistentemente que Harris ou Trump precisarão de vencer alguma combinação dos sete estados decisivos para ganhar a Casa Branca. No entanto, se as sondagens estiverem erradas, como aconteceu em 2016, e um candidato vencer vários estados que eram considerados como certezas para o seu oponente, pode ser declarado um vencedor de forma confiante nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira.
No entanto, o cenário mais provável é que levará um ou dois dias, pelo menos. Isso porque as regras de contagem de votos em alguns estados críticos, onde Harris e Trump estão virtualmente empatados, podem desacelerar o processo e atrasar o quão cedo saberemos quem venceu a eleição presidencial.
Quando um candidato pode declarar vitória? Um candidato pode declarar vitória quando quiser, mas isso não significa que tenha realmente vencido. Trump, em 2020, declarou vitória na noite da eleição, apesar de faltarem contar milhões de votos. Mesmo quando as evidências refutaram as suas alegações, insistiu que tinha vencido e inventou teorias de fraude eleitoral.
Quando os estados podem começar a contar os votos? Este ano, 43 estados americanos permitem que os funcionários eleitorais do condado comecem a pré-processar boletins de correio antes do dia da eleição (Alabama, Mississippi, New Hampshire, Pensilvânia, Dakota do Sul, Virgínia Ocidental e Wisconsin não permitem) – isso envolve garantir que as cédulas sejam válidas e removê-las dos envelopes/prepará-las para máquinas de tabulação, o que acelera a contagem de votos a 5 de novembro.
Apenas 23 estados dão permissão para scanear os boletins antes do dia da eleição, mas estas não podem ser agregadas antes de 5 de novembro. Os outros 20 permitem que as autoridades comecem a contagem no dia da eleição, embora quatro estados — Alabama, Arkansas, Minnesota e Mississippi — não faça o scan até depois do fecho das urnas no dia da eleição.
Nos estados decisivos, quais são as regras para a contagem dos votos? Quando se saberá quem ganhou a eleição presidencial depende muito de como os votos são contados nos estados de campo de batalha. As regras, como você pode esperar, variam de estado para estado.
Arizona – embora quase 90% dos votos emitidos neste estado sejam enviados antecipadamente, as autoridades não podem divulgar nenhum resultado da tabulação deles até uma hora após o fecho das urnas. E as cédulas de correio que são entregues no dia da eleição não serão processadas até depois do fecho das urnas, o que pode atrasar as coisas consideravelmente, às vezes por dias.
Geórgia – as autoridades dizem que esperam que até 70% dos votos sejam contabilizados antecipadamente. As autoridades podem processá-los, mas não podem começar a contagem até ao dia da eleição. As autoridades estaduais disseram que esperam ter todos os votos contabilizados antes da meia-noite de 5 de novembro. Isso não significa que os resultados serão definitivos, no entanto. Cédulas estrangeiras e votos de militares, que podem chegar a mais de 20 mil, serão aceites até 8 de novembro, e isso pode mudar o equilíbrio para os candidatos.
Michigan – o estado está a permitir a votação presencial antecipada pela primeira vez este ano, sendo que estes votos podem ser processados e tabulados antes do dia 5: isso deve tornar o tempo de resposta dos resultados muito mais rápido do que em 2020.
Nevada – para acelerar as coisas este ano, o Nevada mudou as suas regras e agora permitirá que as autoridades processem e contem os votos ausentes antes. E os votos presenciais também podem ser tabulados antes do fecho das urnas. Os votos pelo correio, no entanto, serão aceites até quatro dias após a eleição (desde que tenham sido colocados antes de 5 de novembro), o que pode atrasar as coisas.
Carolina do Norte – os votos ausentes também serão essenciais aqui, pois os votos ausentes, estrangeiros e militares são contados num período de 10 dias após as eleições. Em 2020, a Carolina do Norte não declarou um vencedor até 13 de novembro. Os observadores eleitorais republicanos também estão sendo instruídos a “serem agressivos”, o que pode causar alguma perturbação.
Pensilvânia – os funcionários eleitorais não têm permissão para processar ou contar cédulas enviadas pelo correio antes da 7 horas do dia 5, o que pode significar atrasos em saber quem ganhou o estado. Uma nova lei, no entanto, exigirá que a maioria dos condados anuncie à meia-noite da noite da eleição quantas cédulas enviadas pelo correio ainda precisam ser contadas, na esperança de desacreditar teorias da conspiração antes que elas se espalhem.
Wisconsin – Milwaukee tem novas máquinas de contagem de votos que podem tabular 100 boletins por minuto, em comparação com as máquinas antigas em 2020 que só podiam processar sete cédulas por minuto. O problema, como acontece na Pensilvânia, chegará dos boletins enviados por correio, que não podem ser tocados até à manhã desta terça-feira. Muitas cidades grandes também enviaram os seus boletins que chegaram pelo correio para um local centralizado, para serem processados.
Como funciona o Colégio Eleitoral e como é escolhido o presidente?
Nas eleições presidenciais, o voto americano vai para um Colégio Eleitoral, solução plasmada na Constituição dos Estados Unidos e na 12ª Emenda (adotada em 1804) que é constituída por 538 “grandes eleitores” representativos dos 50 estados norte-americanos (e da capital federal Washington, que conta com três “grandes eleitores”).
Cada estado federal tem direito a um determinado número de “grandes eleitores”, distribuição que depende da população do estado e da sua representatividade no Congresso americano.
O vencedor das presidenciais americanas terá de conseguir, no mínimo, 270 dos 538 “grandes eleitores” (uma maioria simples), resultado que deverá ser conhecido na noite eleitoral, mas que poderá arrastar-se em caso de recontagens nalguns estados.
O sistema estabelece que o candidato vencedor num estado obtém todos os votos eleitorais em jogo para o Colégio, exceto no Nebraska e Maine, onde funciona um sistema proporcional. Ou seja, pode ser eleito presidente alguém que não tenha obtido mais votos do que o seu rival direto – o que já aconteceu em cinco ocasiões, a últimas das quais em 2016, no duelo Trump-Clinton.
O Colégio Eleitoral toma a palavra a 19 de dezembro, sendo que o resultado será anunciado pela presidente do Senado e vice-presidente do país, Kamala Harris, em sessão conjunta do Congresso a 6 de janeiro. Em caso de empate, a responsabilidade da indicação passa para o Congresso: a Câmara dos Representantes elege o presidente entre os três candidatos mais votados e o Senado o vice-presidente – isso só aconteceu em duas ocasiões: 1801 e 1825.
Esta é a distribuição dos votos eleitorais por estado:
Califórnia – 54
Texas – 40
Flórida – 30
Nova Iorque – 28
Pensilvânia e Illinois – 19
Ohio – 17
Carolina do Norte e Geórgia – 16
Michigan – 15
Nova Jérsia – 14
Virgínia – 13
Washington – 12
Indiana, Arizona, Tennessee e Massachusetts – 11
Minnesota, Missouri, Wisconsin e Maryland – 10
Carolina do Sul e Alabama – 9
Kentucky, Lousiana e Oregón – 8
Oklahoma e Connecticut – 7
Kansas, Nevada, Utah, Iowa, Arkansas e Mississippi – 6
Novo México e Nebraska – 5
Idaho, Montana, Hawai, Maine, Rhode Island, Virgínia Ocidental e New Hampshire – 4
Alaska, Wyoming, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Vermont, Washington DC e Delaware – 3
Como é a polémica contagem dos votos?
A contagem de cada voto por correspondência implica mecanismos complexos, alguns deles desenvolvidos manualmente, e diversos Estados apenas iniciam a contagem a partir da terça-feira eleitoral.
O processo começa com a verificação do envelope que contém o voto, que tem uma barra de código que procura garantir que o mesmo eleitor não vota mais do que uma vez, a que se segue, em alguns Estados, o momento de verificação de que a assinatura corresponde aos registos.
Os boletins de voto são então enviados para ‘scanners’ que leem o conteúdo da decisão do eleitor, mas qualquer leitura deficiente devolve o documento para análise humana, antes de a contagem ser declarada oficial.
Além disso, este processo pode ser contaminado pela contestação das regras de prazos de recebimento dos votos por correspondência, embora esta situação esteja a ser muito mais acautelada, após as queixas analisadas por tribunais em 2020.
Por conhecer, está a posição das empresas que controlam redes sociais, que em 2020 não permitiram a nenhuma das duas candidaturas assumirem uma vitória até que os resultados sejam considerados oficiais ou pelo menos dois meios de comunicação considerados “de referência” o tenham anunciado.
Se o resultado for contestado, o processo de contagem pode ser repetido, como aconteceu na Flórida, de forma relevante, nas eleições de 2000, entre o republicano George W. Bush e o democrata Al Gore, atrasando o anúncio do vencedor, ou como em 2018, nas eleições intercalares, em que a contagem se prolongou por vários dias.
Em 2000, o processo foi arrastado até ao Supremo Tribunal, que demorou 36 dias até se pronunciar sobre a recontagem de votos, negando-a e dando, assim, a vitória a Bush.
Os especialistas consideram que este ano a probabilidade de contestação é muito maior, sobretudo por causa da quantidade de votos por correspondência, podendo prolongar o processo, em último caso, por vários meses.
Uma coisa é certa: o ‘deadline’ é a data da tomada de posse, marcada pela 20ª emenda da Constituição para o dia 20 de janeiro: neste dia, um presidente nos EUA tem de estar na Casa Branca. O sucessor de Joe Biden será empossado a 20 de janeiro de 2025, numa cerimónia pública junto ao edifício do Capitólio, em Washington, diante de dezenas de milhares de pessoas.
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