Há um gigante nos rios portugueses: Pode pesar 100 quilos, ter mais de dois metros e está a ameaçar ecossistemas

O siluro, conhecido também como ‘peixe-gato-europeu’, impressiona pelas dimensões que atinge, mas o seu tamanho deve servir como alerta para a ameaça que representa, enquanto espécie invasora, para os ecossistemas na Península Ibérica.

José Manuel García, um pescador experiente, observa um enorme siluro de 1,6 metros de comprimento e 25 quilos que acaba de capturar na albufeira de Iznájar e comenta ao El País: “O peixe não tem culpa, os responsáveis são aqueles que o trouxeram para cá”, exclama enquanto se prepara para matá-lo, conforme exige a lei para espécies exóticas invasoras. Desde que foi introduzido em 1974 pelo biólogo alemão Roland Lorkowsky, o siluro tem-se multiplicado descontroladamente, causando graves problemas ambientais.

Originalmente oriundo da Europa Central, o siluro foi introduzido no rio Segre, na bacia do Ebro, com 32 alevins vindos do Danúbio. Desde então, esta espécie tem colonizado várias bacias principais da Península Ibérica, incluindo as do Ebro, Douro, Tejo, Guadalquivir, Segura e Júcar. A propagação desta espécie deve-se, em grande parte, aos pescadores que, ilegalmente e sem considerar as consequências ambientais, transferem o peixe de um local para outro.

Em Iznájar, a presença do siluro tem levado à diminuição de espécies autóctones como o barbo e a boga, bem como de espécies introduzidas como a carpa e o achigã. “É uma máquina de triturar que come diariamente entre 2% a 4% do seu peso”, explica Carlos Fernández, catedrático de zoologia da Universidade de Córdoba e responsável pelo programa Stop Siluro, enquanto aponta para restos de aves encontrados no estômago de um siluro capturado. Este programa, impulsionado pelo Ministério para a Transição Ecológica de Espanha, visa mapear a distribuição do siluro no Baixo Guadalquivir e desenvolver um plano de gestão.

A Associação Ambiental de Pescadores do Pantano de Iznájar (Amapila), presidida por José Manuel García, tem lutado contra a introdução ilegal do siluro. “Tentamos convencer outros pescadores sobre os efeitos devastadores desta prática”, diz García. A Amapila, com permissão da Junta da Andaluzia, extrai siluros da albufeira para controlar a sua população. Contudo, os recursos são escassos. “O único apoio que recebemos foi um conjunto de sacos mortuários do município de Rute”, relata García, lamentando a falta de apoio logístico.

Os pescadores da Amapila estão conscientes da perda de diversidade. “Temos saudades dos tempos em que capturávamos 20 ou 30 barbos; agora, se apanharmos um, já ficamos contentes”, comenta García enquanto mede o siluro que acabou de tirar da água em Iznájar. Após a captura, recolhem informações sobre o tamanho, alimentação e sexo do peixe, que são enviadas ao investigador Carlos Fernández. “Olha, este está cheio de alburnos”, aponta García para o conteúdo parcialmente digerido do estômago do peixe.

A introdução do siluro tem levado à perda de diversidade biológica e afeta negativamente a pesca desportiva, como explica Miguel Bonifacio, presidente da Federação de pesca da Extremadura.

“Na Extremadura, o siluro está a afetar muito a pesca de trutas e ciprinídeos autóctones, o que é um desastre para a pesca desportiva e para a economia local”, afirma Bonifacio.”Começamos a deixar de capturar peixes autóctones e isso é um desastre para a pesca desportiva, porque se reduzem os locais onde podemos realizar competições, que são as que trazem dinheiro para as aldeias”.

Para Bonifacio, a única solução é controlar a pesca e prevenir a introdução de espécies invasoras. “É necessário controlar quem pesca para mover o peixe para outro lugar; é um comportamento irresponsável”, diz.

Erradicar o siluro é uma tarefa complexa. “Como acabar com todos os siluros numa albufeira de 2.500 hectares como a de Iznájar? Atiras granadas?”, questiona Rafael Sereno, membro da Amapila. Carlos Fernández acrescenta que é impossível controlar uma espécie invasora desta magnitude apenas com capturas de pescadores sem um método científico e planeamento adequado. “Na bacia do Guadalquivir, a situação piorou em 2017 com a introdução de siluros no rio Rivera de Huelva”, alerta Fernández.

O siluro representa uma ameaça não só para as espécies nativas, mas também para a economia local. No Guadalquivir, põe em risco zonas de reprodução e crescimento de espécies comerciais como o biqueirão, a robaliza e o caranguejo vermelho, vitais para a economia pesqueira do Golfo de Cádis. “Parar este monstro é uma missão quase impossível”, diz Fernández, destacando os desafios na gestão desta espécie invasora.

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