Há dias que 14 navios-tanque russos com destino à Índia fazem movimentos estranhos: sanções do Ocidente ao petróleo começam a perturbar Kremlin

As sanções do Ocidente contra o petróleo russo podem estar a começar a ganhar força: até à data, o Kremlin encontrou soluções para continuar a fazer fluir o seu petróleo, através dos portos russos e através dos seus oleodutos, graças a aliados inesperados e clientes ávidos pelos descontos no preço.

No entanto, começam a surgir sinais crescentes de que os fluxos de petróleo da Rússia podem ter começado a ser afetados na sequência da renovada intensificação das sanções americanas contra comerciantes e companhias de navegação que transportam petróleo. No último mês, houve 14 navios-tanque com destino para a índia fazem movimentos estranhos: hesitações, inversões de marcha ou mesmo a desligar os equipamentos que informam os sistemas de rastreamento digital sobre a sua localização, indicou esta terça-feira a publicação ‘Bloomberg’.

Os 14 navios carregam, entre si, 11 milhões de barris de petróleo a bordo com destino à Índia: recorde-se que o Governo local garantiu que cortou as importações russas porque os preços não eram suficientemente baratos, descartando a especulação de que houve problemas nos sistemas de pagamento para entregar o dinheiro à Rússia – a maior parte são produtos ‘Sokol’ (um tipo de petróleo) exportados do leste da Rússia mas também alguns carregamentos de petróleo bruto dos Urais.

Seis desses 14 navios estavam parados ao largo da costa indiana, embora dois indicassem que poderiam desviar para a China (que já compra grandes quantidades de petróleo russo). Tanto Moscovo como as autoridades ocidentais estão a monitorizar de perto o destino destes navios. Os Estados Unidos estão a tentar traçar uma linha ténue entre, por um lado, limitar o acesso da Rússia aos petrodólares e, ao mesmo tempo, manter a oferta global para evitar uma perturbação demasiado grande que poria em risco o objetivo de inflação.

Ao mesmo tempo, a Índia quer o petróleo barato da Rússia, enquanto procura manter uma relação saudável com Moscovo mas também ansiosa por permanecer ao lado do Ocidente. A Índia tem sérios rivais na sua própria região e o Ocidente pode ser um grande aliado. A China ou o Paquistão são sempre ameaças graves para Nova Dehli, por isso ter o apoio dos Estados Unidos é vital.

As importações de petróleo bruto da Índia do seu maior fornecedor, a Rússia, caíram em dezembro para o nível mais baixo desde janeiro de 2023, coincidindo com a notícia de que seis petroleiros que transportavam petróleo Sokol não conseguiram entregar a sua carga.

Atrás deste receio parece estar o receio imposto pelos Estados Unidos, que anunciou maior atenção no cumprimento da sanção ao limite máximo ao petróleo bruto russo imposto há pouco mais de um ano pelo G7 e União Europeia, um limite de 60 dólares do petróleo russo que estava ameaçado desde o verão.

Houve companhias de navegação – as da Grécia, especialmente – que continuaram a transportar petróleo bruto russo, levantando suspeitas de que o faziam sem respeitar o limite máximo. Da mesma forma, a “frota fantasma” de antigos petroleiros constituída pelo Kremlin ajudava a comercializar esse petróleo acima do preço. Segundo um relatório do ‘Atlantic Council’, perto de 70% do transporte de petróleo russo já era realizado por esta frota paralela, em comparação com menos de 30% em janeiro de 2022.

No início, não houve reação do Ocidente porque uma das premissas do limite era punir financeiramente a Rússia sem implodir o mercado petrolífero global. Mas após o verão, Washington ‘apertou a torneira’: no final de novembro, o Departamento do Tesouro dos EUA começou a enviar cartas a perto de 30 empresas em cerca de 12 países, com 100 petroleiros suspeitos, perguntando-lhes o que tinham feito para cumprir o limite de 60 dólares.

O número de petroleiros gregos que vão para a Rússia caiu um quarto em novembro em comparação com o mês anterior e caiu 60% desde junho, segundo dados da ‘Bloomberg’.

O plano de limitação de preços baseou-se no facto de os prestadores de serviços, como os transportadores e as seguradoras – a espinha dorsal tradicional do mercado petrolífero global – estarem quase inteiramente baseados no Ocidente e estarem sujeitos às regulamentações financeiras ocidentais.

Assim, os carregadores e as seguradoras são obrigados a obter garantias daqueles que compram e transportam o petróleo – em ‘atestados’ assinados – de que o petróleo foi vendido por menos de 60 dólares. O não cumprimento pode resultar em empresas sujeitas a penalidades criminais e civis. No entanto, durante grande parte do ano passado, poucas ações de fiscalização foram tornadas públicas.

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