Há cada vez mais portugueses a tratar obesidade: foram gastos 9,6 milhões de euros em medicamentos em apenas oito meses deste ano

Há cada vez mais portugueses a necessitar de medicamentos para tratar a obesidade: entre janeiro e agosto deste ano, já tinham sido gastos 9,6 milhões de euros na compra dos três únicos fármacos existentes no mercado português com indicação para o tratamento para o excesso de peso, aponta esta segunda-feira o jornal ‘Público’.

Ao todo foram vendidas 53.908 embalagens de medicamentos que têm por substâncias ativas o liraglutido (Saxenda), o bupropiom+naltrexona (Mysimba) e o orlistato (Xenical), sendo que nenhum é comparticipado pelo SNS.

Em Portugal, de acordo com um estudo publicado na revista ‘The Lancet’, há cerca de 2,3 milhões de adultos com obesidade, ao qual acrescem 107 mil crianças e adolescentes entre os 5 e os 19 anos.

“O país foi pioneiro no reconhecimento da obesidade como doença, há 20 anos, em 2004. Só que continua a não lhe reconhecer os mesmos direitos que são reconhecidos às demais doenças”, salientou José Silva Nunes, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), que defendeu que o SNS deveria começar a comparticipar estes medicamentos para poupar no tratamento às doenças associadas à obesidade.

“Antes, considerava-se que a base do tratamento era dieta e exercício, ou seja, intervenção no estilo de vida, mas hoje sabemos que, a longo prazo, dieta e exercício não chegam, porque a nossa natureza faz com que haja um reganho ponderal, ou seja, sem intervenção farmacológica, a longo prazo, o peso é sempre recuperado”, apontou o endocrinologista, que indicou que os medicamentos para tratamento da obesidade “são para tomar toda a vida, porque a obesidade é uma doença crónica”.

Opinião diferente tem o cirurgião Jorge Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia da Obesidade. “O uso indiscriminado destes fármacos para tratar qualquer obeso não me parece que seja razoável”, apontou. “Se o doente tiver 200 quilos, pode fazer as injeções que quiser que nunca vai chegar aos 70”, referiu, indicando ser necessário mudar os critérios de elegibilidade para a cirurgia bariátrica (cirurgia de redução do estômago). “Devíamos poder começar a operar doentes menos obesos, porque conseguíamos controlar melhor a diabetes associada e já vários estudos mostram que, quando mais cedo operarmos e quanto menos peso tiverem os doentes, melhores são os resultados a longo prazo.”

Em Portugal, 1.965 doentes beneficiaram de tratamento cirúrgico para a obesidade no ano passado, segundo os dados (provisórios) da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS): há ainda 1.397 pacientes na lista de espera. “A cirurgia é totalmente comparticipada, o problema aqui são as listas de espera”, referiu Carlos Oliveira, da Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (Adexo), que estimou em dois anos o tempo médio de espera para esta cirurgia. “Os hospitais atrasam a preparação do doente obeso, espaçando as consultas de nutrição, psicologia e outras, para evitar o aumento das listas de espera”, concluiu.-

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