Há 5 erros que podem ter contribuído para a implosão catastrófica do Titan: a maioria poderia ter sido facilmente evitada
Houve diversos erros que precederam a missão fatal do submersível Titan para visitar os destroços do ‘Titanic’, que culminou com a morte de todos os cinco passageiros a bordo, na sequência de uma implosão catastrófica, segundo o relato da Guarda Costeira dos Estados Unidos, após a descoberta de destroços no fundo do Oceano Atlântico.
Levantam-se agora diversas questões sobre se as preocupações sobre a segurança do projeto e a operação do submersível não terão sido ignoradas – embora não esteja ainda claro o que causou a implosão, segundo a publicação ‘Business Insider’, houve cinco erros que eram evidentes antes da viagem.
O casco foi feito de fibra de carbono
O Titan era composto de duas cápsulas de titânio unidas por um cilindro de fibra de carbono de cinco polegadas (12,7 centímentros) de espessura. Esta foi uma escolha pouco convencional para um submersível de alto mar, que normalmente teria um casco feito de materiais mais fortes, como aço ou titânio, já denunciou o jornal britânico ‘The Telegraph’.
A vantagem de usar fibra de carbono é que ela é muito mais leve e barata. A desvantagem é que ele não tem “força na compressão”, salientou o realizador Jamer Cameron, em declarações ao ‘The New York Times’: recorde-se que o responsável pelo blockbuster ‘Titanic’ mergulhou dezenas de vezes rumo aos destroços do paquete e projetou embarcações para as suas próprias explorações.
A OceanGate foi avisada sobre os riscos de segurança associados ao uso do material, de acordo com um processo judicial de 2018. O ex-funcionário da OceanGate, David Lochridge, levantou preocupações sobre o “ciclo de pressão”, no qual falhas invisíveis no casco podem levar a rasgos maiores após serem submetidas a repetidas mudanças de pressão.
O CEO da OceanGate, Stockton Rush, reconheceu, em entrevista, que sabia que tinha “quebrado algumas regras” ao abrir mão de materiais convencionais. “Acho que os quebrei com lógica e boa engenharia por trás. Fibra de carbono e titânio? Há uma regra de que não se faz isso”, disse. “Bem, eu fiz.”
Em dezembro de 2018, a OceanGate anunciou que o Titan completou um mergulho a 4 mil metros de profundidade, o que “validou completamente a engenharia inovadora da OceanGate e a construção do casco de titânio e fibra de carbono”.
Preocupações com o sistema de alerta precoce foram ignoradas
A OceanGate divulgou o desenvolvimento de um sistema avançado de monitorização acústica, que foi projetada para alertar sobre uma falha no casco a tempo de se fazer algo a esse respeito. No entanto, Lochridge, em 2018, alertou que o sistema de deteção era efetivamente inútil – forneceria apenas “milissegundos” de aviso antes de uma implosão catastrófica, de acordo com o processo judicial.
A OceanGate recusou-se a seguir a sua recomendação de “testes não destrutivos” no casco para garantir que fosse “um produto sólido e seguro para a segurança dos passageiros e da tripulação”, pôde ler-se no processo avançado por Lochridge. A OceanGate garantiu que o casco do Titan era muito grosso para se fazer um scan de pontos fracos e problemas de adesão.
OceanGate recuou contra os pedidos para certificar o submarino
É possível que o navio nunca tenha passado pelos rigorosos testes de segurança padrão da indústria – e, de facto, em 2019, argumentou que não precisava. Segundo David Pogue, um jornalista que embarcou no Titan em 2022, disse que assinou um termo de responsabilidade onde estava escrito: “Esta embarcação experimental não foi aprovada ou certificada por nenhum órgão regulador.” Pode ter sido certificado desde então, embora não há uma única prova disso.
Lochridge denunciou que a janela frontal da embarcação foi certificada apenas para uma profundidade de cerca de 4.200 pés (1.300 metros), muito menos do que a do ‘Titanic’. “Os passageiros não estariam cientes e não seriam informados sobre esse projeto experimental”, escreveram os advogados de Lochridge.
Em 2019, a empresa defendeu a sua decisão de não classificar a embarcação, dizendo que os acidentes em ambientes marítimos e de aviação resultam principalmente de “erro do operador, não falha mecânica”.
Equipa da OceanGate levantou receios de segurança mas foi demitida ou ignorada
Lochridge não se deu bem depois de levantar preocupações de segurança sobre o submersível. Um dia depois de ter preenchido o seu relatório de segurança, foi convocado para uma reunião com Stockon Rush, CEO da empresa, e foi demitido.
A OceanGate alegou que Lochridge partilhou informações confidenciais com elementos externos e caracterizou o seu relatório como falso, acusando-o de fraude no processo.
Lochridge não foi o único a deixar a empresa por questões de segurança. Rob McCallum, explorador e ex-consultor da OceanGate, deixou a empresa em 2009 devido a preocupações de que o CEO estava a prometer demais e a acelerar a produção. Recentemente, em declarações ao ‘Insider’, McCallum sublinhou que estava familiarizado com o equipamento do Titan e não achava que era seguro para ser usado.
Houve incidentes de segurança anteriores
Esta não é a primeira vez que a empresa lida com problemas nos seus submersíveis. De acordo com documentos judiciais obtidos pelo ‘The New York Times’, uma viagem de 2021 foi interrompida devido a problemas na bateria, que levaram o submersível a ter de ser preso manualmente à sua plataforma elevatória. Pogue relatou que a embarcação se perdeu durante várias horas enquanto ele estava no navio-mãe.
“Ainda conseguiam enviar textos curtos para o submarino mas não sabiam onde ele estava”, apontou Pogue. “Estava quieto e muito tenso. Desligaram a internet do navio para nos impedir de twittar.”
A OceanGate frisou que informou os passageiros que desligou o WI-FI para libertar largura de banca caso a situação se tornasse uma emergência. Pogue também revelou que o navio não tinha um transmissor de localização de emergência (ELT), que emitia sinais que permitiam que os socorristas a encontrassem.