Guiné-Bissau: Entra em vigor ordem para proibir a mendicidade de crianças no país
A partir de hoje entra em vigor a ordem dada pelo chefe de Estado da Guiné-Bissau para acabar com a mendicidade de crianças no país. O anúncio foi feito pela ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social da Guiné-Bissau, Conceição Évora.
A ministra deu estas indicações em declarações aos jornalistas, à saída de uma reunião promovida pelo vice-primeiro-ministro e também ministro do Interior, Soares Sambú, com vários mestres corânicos (professores do Corão) e imames (líderes religiosos islâmicos).
A reunião tinha como finalidade transmitir as diretrizes dadas pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, quando instou o ministro do Interior a prender o pai ou o mestre corânico de qualquer criança apanhada na mendicidade nas ruas do país.
Sissoco Embaló considerou como vergonhoso o ato de mandar as crianças pedir esmolas pelas ruas de Bissau e nos países vizinhos sob a alegação de estarem a angariar sustento para os seus mestres corânicos.
Na reunião realizada na passada segunda-feira no Ministério do Interior, em Bissau, o ministro Soares Sambu informou os presentes que a ordem do chefe de Estado entraria em vigor hoje.
“Todos nós chegamos à conclusão que não consta do islão, não faz parte de práticas religiosas islâmicas, colocar as crianças na mendicidade, mas também concordamos que devemos ter em conta a declaração do Presidente sobre esse assunto e é a segunda vez que o faz”, observou a ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social.
Conceição Évora adiantou que o Governo “conta com a colaboração” dos mestres corânicos, mas salientou que em caso de resistência “as autoridades usarão de todos os mecanismos para fazer cumprir a ordem do chefe de Estado”.
A governante desmentiu as alegações de alguns mestres corânicos segundo as quais a maioria das crianças em situação de mendicidade são órfãs.
“Um estudo financiado pela Organização Internacional das Migrações mostra que apenas 7% de crianças na mendicidade é que são órfãs”, declarou Conceição Évora, questionando quanto tempo essas crianças têm para aprender o Corão “se passam grande parte do dia na mendicidade”.
O porta-voz da União Nacional dos Imames da Guiné-Bissau, Bacar Candé, disse aos jornalistas que a medida das autoridades será cumprida e que nas próximas horas as várias associações da comunidade islâmica irão publicar comunicados aconselhando os mestres corânicos a tirar as crianças das ruas do país.
“As palavras do Presidente são uma ordem e só resta cumpri-las”, declarou Bacar Candé.