Guerra na Ucrânia: há cinco fatores que vão afetar profundamente o conflito em 2024

Há dois anos que o conflito na Ucrânia tem marcado os noticiários mundiais e, para 2024, a guerra não dá sinais de arrefecimento. No entanto, é expectável que possa evoluir de forma diferente – há cinco fatores essenciais que vão afetar o conflito ao longo deste ano. Quais são?

Dinheiro

A capacidade da Ucrânia de enfrentar a Rússia no início da invasão surpreendeu o Ocidente e tornou-se uma das razões para que os aliados internacionais tenham fornecido mais armas para Kiev. No entanto, 2024 tem outro cenário: há dois pacotes de ajuda suspensos.

Nos Estados Unidos, a ajuda à Ucrânia deve ser votada no Congresso e está relacionada a uma discussão entre republicanos e democratas sobre outros gastos internacionais. O pacote militar americano, avaliado em 61 mil milhões de dólares, só será analisado no início de janeiro. Na União Europeia, um acordo financeiro de 55 mil milhões de dólares está vinculado a uma tensa negociação entre a Hungria e os restantes Estados-membros. Budapeste, aliada de Moscovo, pretende aliás que a ajuda militar a Kiev seja totalmente interrompida.

Armas

Os atrasos no fornecimento da ajuda estrangeira está a prejudicar a capacidade de Kiev de armar o seu exército, o que provoca um aumento da confiança de Moscovo. Vladimir Putin, presidente russo, já garantiu que a capacidade militar do seu país se encontra no seu ponto mais forte, vaticinando que as relações entre a Ucrânia e o Ocidente provavelmente “se esgotariam em breve”.

Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, já admitiu que a situação é difícil, tendo expressando confiança de que a ajuda militar seja rapidamente resolvida e que a Ucrânia possa aumentar a sua produção de drones, que têm desempenhado um papel essencial no conflito.

Em novembro último, a União Europeia informou que não irá cumprir a sua promessa de fornecer um milhão de projéteis até março de 2024. Com menos munições, é provável que Kiev precise de ceder posições e mais uma parte do seu território – atualmente, Moscovo controla cerca de 17% do território ucraniano.

Efetivos militares

Ter soldados em quantidade suficiente será um desafio para ambas as partes.

Antes de fevereiro de 2022, a população da Ucrânia era de cerca de 44 milhões de pessoas. Cerca de 6 milhões de ucranianos tenham abandonado o país, mas muitos deles provavelmente já regressaram. Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas internamente devido à ocupação russa e aos contínuos ataques. E milhares de civis já foram mortos. Por isso, recrutar e treinar novas forças militares é um desafio. Com a lei marcial vigente na Ucrânia, homens com 18 a 60 anos estão proibidos de sair do país.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, salientou já a necessidade de pedir aos ucranianos residentes no exterior que se apresentem para cumprir o serviço militar. A Estónia já declarou que irá ajudar Kiev a recrutar cidadãos ucranianos aptos para o exército que morarem atualmente no país.

Embora a Rússia tenha um exército muito maior e uma população total também superior (oficialmente, cerca de 144 milhões de pessoas), as suas perdas nos quase dois anos de guerra foram monumentais. Muitos dos seus militares mais bem treinados foram perdidos. Estima-se que até 1 milhão de cidadãos russos tenham abandonado o país após a invasão da Ucrânia.

Fadiga do conflito

O que mais preocupa Kiev é a chamada “fadiga da Ucrânia” — a queda da empatia e do apoio do público em geral nos países considerados apoiantes. Nos Países Baixos e Eslováquia, as recentes eleições já resultaram numa redução do apoio internacional à Ucrânia. A Eslováquia suspendeu um importante pacote de ajuda para o país, enquanto os Países Baixos podem deixar de enviar os aviões F-16 há muito tempo prometidos.

Nos Estados Unidos, com as eleições presidenciais previstas para novembro, o possível regresso de Donald Trump à Casa Branca pode trazer sérias mudanças políticas em relação à Ucrânia e à Rússia. Na União Europeia, em oito dos 27 países da União Europeia, há já mais pessoas contrárias ao fornecimento de ajuda à Ucrânia do que a favor.

Fim da guerra

“Como irá terminar a guerra?” Essa é a pergunta que muitos políticos e especialistas estão tentando responder.

A Ucrânia já garantiu que o fim do conflito só se dará com a libertação total da ocupação russa e o regresso às fronteiras reconhecidas internacionalmente. Kiev alertou que qualquer acordo com a Rússia poderia incentivar novas apropriações de território, não apenas por parte de Moscovo, mas também por outros países do mundo.

Por outro lado, a Rússia afirma que está envolvida num conflito mais amplo com o Ocidente e que irá lutar o tempo que for necessário.

É pouco provável que a guerra termine em 2024. Deve estender-se no tempo, com novas perdas e ameaças diárias de mortes e destruição na Ucrânia, além de maior isolamento e dificuldades económicas para a Rússia.

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