Grupo Estado Islâmico derrotado mas ativo 10 anos após ter declarado um califado

Uma década após ter proclamado um califado em grande parte do Iraque e da Síria, o grupo extremista Estado Islâmico já não controla qualquer território, perdeu muitos líderes e saiu praticamente das manchetes dos jornais.

Ainda assim, continua a recrutar membros e a reivindicar ataques terroristas mortíferos em todo o mundo, incluindo no Irão e na Rússia no início deste ano, que causaram dezenas de mortos.

As células adormecidas na Síria e no Iraque continuam a realizar ataques contra forças governamentais em ambos os países, bem como contra combatentes sírios apoiados pelos Estados Unidos, segundo a agência norte-americana AP.

O grupo conhecido pela sigla EI e pelo acrónimo árabe Daesh atraiu, em tempos, dezenas de milhares de combatentes de todo o mundo, incluindo Portugal, para a Síria e o Iraque.

No auge, dominou uma área com metade do tamanho do Reino Unido.

O EI ficou famoso pela brutalidade: decapitou civis, massacrou 1.700 soldados iraquianos capturados num curto espaço de tempo, e escravizou e violou milhares de mulheres da comunidade yazidi, uma das minorias religiosas mais antigas do Iraque.

“O Daesh continua a ser uma ameaça à segurança internacional”, disse o major-general norte-americano J.B. Vowell, comandante geral da Força-Tarefa Conjunta Combinada — Inherent Resolve Operation, em comentários enviados à AP.

Nos últimos anos, as ramificações do grupo ganharam força em todo o mundo, principalmente em África e no Afeganistão, mas acredita-se que a liderança esteja na Síria.

Os quatro líderes do EI que foram mortos desde 2019 foram todos apanhados na Síria.

Em 2013, Abu Bakr al-Baghdadi, distanciou-se da rede global da organização terrorista Al-Qaida, fundada por Bin Laden.

O grupo que liderava passou a designar-se Estado Islâmico no Iraque e no Levante e lançou uma campanha militar durante a qual conquistou partes significativas da Síria e do Iraque.

No início de junho de 2014, tomou Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, no norte, quando o exército iraquiano entrou em colapso.

Em 29 de junho de 2014, al-Baghdadi, do púlpito da Grande Mesquita de al-Nuri, em Mossul, proclamou o califado e exortou os muçulmanos de todo o mundo a jurarem fidelidade e a obedecerem-lhe como líder.

A partir do autodeclarado califado, o grupo planeou ataques mortais em todo o mundo e levou a cabo assassinatos brutais, incluindo a decapitação de jornalistas ocidentais.

Uma coligação de mais de 80 países, liderada pelos Estados Unidos, foi formada para combater o EI e, uma década depois, continua a efetuar ataques contra os esconderijos dos operacionais do grupo na Síria e no Iraque.

A guerra contra o EI terminou oficialmente em março de 2019, quando as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos Estados Unidos e lideradas pelos curdos, capturaram a cidade de Baghouz, no leste da Síria, a última zona controlada pelos extremistas.

As Nações Unidas afirmam que o EI ainda tem entre 5.000 e 7.000 combatentes na Síria e no Iraque, mas os militares iraquianos afirmam que o grupo é demasiado fraco para regressar.

“Não é possível que [o EI] volte a reivindicar um califado. Eles não têm capacidade de comando ou controlo para o fazer”, disse o general do exército iraquiano Tahseen al-Khafaji à AP.

Sabah al-Noman, do Serviço Iraquiano de Luta contra o Terrorismo, disse que o EI está concentrado sobretudo em África, especialmente na região do Sahel.

Embora o EI pareça estar sob controlo no Iraque, matou dezenas de forças governamentais e combatentes das FDS nos últimos meses na Síria.

No nordeste da Síria, as FDS guardam cerca de 10.000 combatentes do EI em duas dúzias de instalações de detenção, incluindo 2.000 estrangeiros cujos países de origem se recusaram a repatriá-los.

As FDS também supervisionam cerca de 33.000 familiares de supostos combatentes do EI, principalmente mulheres e crianças, no campo al-Hol.

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