Greenpeace acusa UE de não apresentar plano para “redução justa” do consumo de gás e de dar luz verde às indústrias poluentes

Esta quarta-feira, a Comissão Europeia (CE) revelou um plano para reduzir 15% do consumo de gás natural na Europa até março do próximo ano, uma estratégia que pretende garantir reservas para o inverno e minimizar os impactos dos cortes da Rússia.

Mas a organização ambientalista internacional Greenpeace denuncia que a proposta de “preparação para o inverno” da CE fica “aquém de apresentar uma estratégia de redução justa do consumo energético” e de deitar por terra as metas estabelecidas para a transição energética na União Europeia.

Em comunicado, a organização salienta que “o plano foca-se exclusivamente na facilitação da transição para fontes ‘sujas’ de combustíveis, como petróleo e carvão” e que “garante dinheiro para a indústria [fóssil], ignorando os impactos prejudiciais de fontes energéticas insustentáveis sobre o clima”.

Além disso, afirma que a CE está a tentar fazer passar essa proposta sem que o Parlamento Europeu, que representa as populações da União Europeia, se possa pronunciar, através da ativação do Artigo 122 do Tratado do Funcionamento da UE, que pressupõe que o Conselho Europeu possa decidir sem o aval dos eurodeputados em certas circunstâncias.

O representante da secção da UE da Greenpeace, Thomas Gelin, argumenta que “esperávamos que a Comissão Europeia apresentasse um plano de redução energética justo para todos”. Ao invés, explica, “o que recebemos é uma luz verde para que as indústrias possam voltar a fontes de energia insustentáveis”, “enquanto as casas ficam sem apoio real e sem alternativas concretas”.

A Greenpeace defende que “em vez de transitar para combustíveis ‘sujos’ vindos de novos fornecedores, a Europa devia priorizar a redução do desperdício energético, e não, uma vez mais, adiar ação sobre as alterações climáticas em benefício das indústrias poluentes”.

A Europa tem tremido perante a possibilidade de um inverno sem gás e de uma produção elétrica instável, à medida que crescem as tensões entre os Estados europeus e a Rússia, que é um dos principais fornecedores de combustíveis do “velho continente”.

Contudo, o gasoduto Nord Stream 1 voltou hoje a entrar em funcionamento, apesar de muitas previsões terem apontado que isso não iria acontecer e que o Presidente russo Vladimir Putin iria usar o gás como uma “arma energética” para fazer vergar a UE às exigências de Moscovo. Von de Leyen acusou ontem o líder russo de estar a “chantagear” a UE, fazendo uso do maior trunfo de que o Kremlin dispõe: a profunda dependência que a Europa tem de importações de produtos energéticos.

Ainda assim, o bloco dos 27 europeus quer reduzir a dependência de combustíveis russos, e tem procurado estabelecer contratos de fornecimento de gás natural com outros países, o que as organizações ambientalistas dizem ser um retrocesso nos planos para a transição energética da Europa.

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