Governo israelita reúne-se hoje para aprovar possível cessar-fogo com Líbano. Acordo terá três etapas
O governo israelita reúne-se esta terça-feira para discutir e, potencialmente, aprovar um acordo de cessar-fogo com o Líbano, após semanas de intensificação do conflito entre Israel e o Hezbollah. A reunião foi confirmada por fontes do governo israelita à agência Reuters, com a expectativa de que o acordo possa ser consolidado nos próximos dias.
De acordo com informações avançadas pela imprensa israelita, incluindo os jornais Haaretz e Ynet e a televisão pública Kan, a proposta negociada inclui três etapas principais. A primeira prevê uma trégua imediata, seguida pela retirada das forças do Hezbollah para norte do rio Litani. Em contrapartida, as tropas israelitas deverão retirar-se completamente do sul do Líbano.
A última fase envolve negociações entre Israel e o Líbano para a demarcação oficial da fronteira terrestre, atualmente baseada numa linha definida pela ONU após a guerra de 2006. O cumprimento dos termos do cessar-fogo seria monitorizado por um organismo internacional liderado pelos Estados Unidos.
Além disso, está previsto que o Exército libanês assuma o controlo da zona fronteiriça, prevenindo o regresso do Hezbollah. Para tranquilizar a opinião pública israelita, o governo de Benjamin Netanyahu espera obter uma garantia dos Estados Unidos de que Israel poderá responder militarmente caso os termos sejam violados e as forças internacionais ou libanesas não intervenham.
Apesar das negociações, a tensão no terreno permanece elevada. No domingo, o Hezbollah lançou mais de 250 projéteis contra território israelita, numa demonstração de força em plena fase final das conversações. Segundo analistas citados pela imprensa israelita, esta resposta era previsível, funcionando como uma forma de o Hezbollah reforçar a sua posição antes de um eventual acordo.
Por sua vez, Israel retaliou com bombardeamentos intensos no subúrbio de Dahye, no sul de Beirute, uma área controlada pelo Hezbollah. Entre os alvos, um edifício no centro da capital foi destruído, causando pelo menos 11 mortes.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que terá aceitado a proposta norte-americana “em princípio” após consultas internas na noite de domingo, enfrenta agora o desafio de apresentar o acordo como um benefício estratégico para Israel. De acordo com o Canal 12, Netanyahu e os seus assessores estão a desenvolver uma narrativa para convencer a opinião pública de que o acordo não é um compromisso, mas uma vitória diplomática.
Uma sondagem recente divulgada pelo mesmo canal indica que 64% dos israelitas apoiam uma trégua no Líbano, refletindo um cansaço crescente com o conflito.
Mediação americana e pressão diplomática
Amos Hochstein, mediador da administração Biden, desempenhou um papel central nas negociações. Após visitar Beirute, Hochstein esteve em Israel no fim de semana passado para insistir na urgência de um acordo, alertando que esta pode ser a última oportunidade de mediação dos Estados Unidos antes de uma possível mudança de administração em Washington.
Hochstein foi responsável por mediar, em 2022, um acordo histórico entre Israel e o Líbano sobre a demarcação da fronteira marítima e a partilha de recursos energéticos. Agora, procura replicar o sucesso, mas as divergências entre as partes e a intensificação das hostilidades complicam o cenário.
Hoje, espera-se também a chegada de Dan Shapiro, antigo embaixador dos Estados Unidos em Israel, a Jerusalém, para ultimar detalhes do acordo.
Se o cessar-fogo for aprovado, representará um passo significativo para aliviar a tensão na região e evitar uma escalada maior do conflito. No entanto, as condições no terreno, os desafios diplomáticos e a oposição interna em ambos os países podem tornar a implementação do acordo um processo longo e complexo.
O desenrolar das negociações nas próximas horas será decisivo, com a atenção internacional voltada para a reunião do gabinete israelita e para os desenvolvimentos no sul do Líbano.