Governo diz que saída de até 250 trabalhadores foi sugerida pela administração da RTP
O programa de rescisão voluntária de até 250 trabalhadores da RTP foi sugerido pelo Conselho de Administração da empresa, disse esta quarta-feira o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, no parlamento.
O ministro dos Assuntos Parlamentares sublinhou esta quarta-feira que o programa de rescisões voluntárias de até 250 trabalhadores da RTP foi sugerido pelo Conselho de Administração da empresa, que considera o quadro de pessoal “caro e desajustado”.
“Isto é uma medida que nos foi pedida pelo Conselho de Administração, que nós subscrevemos porque nos foram apresentados fundamentos muito claros da necessidade de renovação do quadro pessoal, que é considerado pelo Conselho de Administração, e estou a citar, caro e desajustado, e eu concordo”, afirmou o ministro.
Pedro Duarte falava na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito dos requerimentos do Bloco de Esquerda (BE), PCP, PS, Chega e Livre sobre o Plano de Ação para a Comunicação Social anunciado pelo Governo.
O governante sublinhou que estas saídas são voluntárias e, como tal, pedidas pelos funcionários. “É nesse sentido que este plano vai para a frente”, disse.
O ministro assegurou que o executivo não tem qualquer intenção em mexer no quadro de pessoal da RTP e que este plano de saídas voluntárias não tem qualquer relação com a retirada de publicidade comercial da emissora púbica.
“O plano de saídas voluntárias é algo que já existia quando nós chegamos ao Governo, que está escrito no plano estratégico” da empresa, vincou.
Pedro Duarte apontou que foram colocados dois cenários: um até 80 trabalhadores e outro até 250 trabalhadores. “A opção do Governo é: se nos foram pedir até 250 trabalhadores, nós autorizamos até 250 trabalhadores”.
De acordo com o plano do Governo para os media, os canais de televisão da RTP deverão gradualmente, durante os próximos três anos, eliminar a publicidade comercial das suas grelhas. Paralelamente, a redução do tempo dedicado à publicidade comercial deverá ser compensada com espaços de promoção e eventos culturais, de acordo com o plano.
Uma segunda medida aplicada ao grupo de rádio e televisão públicas é o plano de reorganização e modernização, que terá um custo máximo de 19,9 milhões de euros, sendo que as indemnizações por saídas voluntárias têm uma “poupança estimada de 7,3 milhões de euros por ano”, segundo o plano.
O plano de saídas voluntárias da RTP tem como teto a saída de 250 trabalhadores, com a contratação de um novo trabalhador com perfil diferente – digital – por cada duas saídas.
“Única coisa” que está a ser alterada é “fonte de financiamento de 9% das receitas da RTP”
O ministro dos Assuntos Parlamentares afirmou esta quarta-feira que a “única coisa” que o Governo está a alterar é a “fonte de financiamento de 9% das receitas da RTP”, cujo peso tem vindo a reduzir-se.
O fim da publicidade na RTP será gradual nos próximos três anos, com redução de dois minutos/hora em 2025 e 2026, com um custo estimado total de 20 milhões de euros e o impacto da redução de receita de cerca de 6,6 milhões de euros por ano.
O governante, em resposta ao PS, disse que o facto de se dizer “que há um plano de descapitalização, um plano de desmembramento [da RTP] é manifestamente exagerado, para não dizer descabido”.
Até porque “a única coisa que estamos a alterar é a fonte de financiamento de 9% das receitas da RTP, 9% que mesmo que se nós não fizermos nada se calhar no próximo ano é 8% e depois é 7%”, prosseguiu o ministro.
“O financiamento de publicidade comercial está cair de forma abrupta na RTP ao longo dos anos”, apontou Pedro Duarte, citando que recentemente foi escrito que em 1993 “valia 73% do orçamento” do grupo de media público.
“Hoje vale 9%, mesmo que não fizéssemos nada provavelmente essa receita iria acabar, nós estamos a acelerar esse fim”, insistiu o governante.
“Compensando a RTP de outras formas e libertando a RTP, à semelhança do que acontece por exemplo na BBC, na TVE, na generalidade das estações públicas nórdicas que não têm publicidade comercial e que são muito relevantes no seu país”, disse.
Perante isto, “é viver num mundo de ficção absolutamente alucinada e admito que só uma tentação de fazer oposição por fazer oposição é que pode levar a que não se pense com calma e serenidade” sobre as medidas que estão a ser propostas, considerou.
Pedro Duarte referiu que o que o Governo está a propor, “e é isso que é essencial”, é o “reforço do papel da RTP” na sociedade.
Ainda em resposta à deputada do PS Mara Lagriminha, que disse que a RTP é uma empresa que não dá problemas ao Estado, o governante contrapôs: “Mas eu acho que dá”.
“Não estou a falar do ponto de vista financeiro, nem da sua gestão, estou a dizer porque acho que a RTP só faz sentido existir se de facto prestar serviço público de media que hoje em dia a sociedade precisa”, sublinhou.
E “dá muitas dores de cabeça porque eu sei o futuro que aí vem. Não tem a ver com a RTP hoje, tem a ver com a RTP amanhã”, acrescentou o ministro.
Se “não fizermos nada, acredite, podemos todos ter as melhores intenções, os melhores gestores à frente da RTP, os melhores jornalistas, mas se não dermos condições” para a empresa se modernizar e se adaptar aos novos públicos e aos novos tempos, a “RTP tende para a irrelevância”, rematou, referindo que isto “vale para qualquer televisão” e em toda a Europa.
O governante apontou que as audiências da RTP são mais baixas do que o executivo gostaria, e alertou que são, também, mais envelhecidas.
De acordo com Pedro Duarte, 64% da audiência da RTP1 tem mais de 65 anos, enquanto entre os 15 e os 35 anos esta percentagem é “pouco mais de 5%”.
O Plano de Ação para os media contém 30 medidas e prevê o fim da publicidade da RTP em 2027.