Google suspende programa de reconhecimento facial após polémica

Na tentativa de melhorar a sua tecnologia, a empresa utilizava a imagem de pessoas sem-abrigo, negras, sem o seu total consentimento.

A tecnologia de reconhecimento facial tem evoluído tremendamente ao longo dos anos. No entanto, um dos principais problemas que têm sido apontados a esta tecnologia parece ser a dificuldade que esta tem em ignorar alguns preconceitos racistas.

As bases de dados e imagens que esta tecnologia utiliza para “estudar” o perfil humano e melhorar a sua capacidade de identificar pessoas, são predominantemente compostas por pessoas caucasianas e do sexo masculino. Ora, isto tem como consequência que este grupo de pessoas seja bastante mais estudado e compreendido que outros, tais como os pertencentes a minorias, com tons de pele distintos.

Isto tem originado falhas e controvérsias relacionadas com a utilização deste tipo de tecnologia por pessoas de raça negra, por exemplo. Em 2015 este tema surgiu com grande destaque nas notícias, quando foi reportado que o software Google Photos estava a identificar fotos de gorilas como sendo pessoas negras.

Como forma de solucionar estas falhas a Google tem reforçado os seus esforços para criar bases de dados mais heterogéneas e diversas, que incluam milhares de imagens de pessoas com tons de pele mais escuros. No entanto alguns destes projetos têm sido, no mínimo, bastantes controversos, como revelou o New York Times no início desta semana.

Segundo diversas denúncias, foi noticiado que a Google contratou uma empresa nos Estados Unidos (mais especificamente no estado de Atlanta) cuja missão seria captar fotos 3D exclusivamente de sem-abrigos e estudantes jovens de raça negra em troca de um cartão-oferta no valor de 5$. Isto sem nunca explicar exatamente quais os fins para os quais estas imagens seriam utilizadas e sem exigir as necessárias permissões.

Esta captura “voluntária” de imagens teria como objetivo garantir que a Google conseguiria capturar o máximo de informação sem ter que se preocupar com questões legais ou com a possibilidade destas populações mais vulneráveis falarem com a polícia.

O objetivo final seria melhorar esta tecnologia a tempo do lançamento do futuro telemóvel da Google, o Pixel 4.
Esta segunda-feira, a “gigante” tecnológica americana veio a público afirmar que irão suspender este projeto e estas práticas de recolha de dados. Isto acontece num momento em que os responsáveis municipais de Atlanta haviam confrontado a Google com as práticas que veio a descobrir estarem a ser aplicadas neste estado americano.

Os críticos desta tecnologia alertam para a possibilidade destes instrumentos de reconhecimento digital, muito por culpa da sua falta de precisão, poderem vir a perpetuar diversos preconceitos racistas existentes nas forças policiais. Sobretudo caso estes passem a usar este tipo de tecnologia de forma ubíqua nas suas estratégias de identificação de suspeitos criminosos.

Estará o Google do lado da ética no reconhecimento facial de pessoas de pele escura?

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