Gen.AI Forum: A reinvenção dos negócios

A Accenture e a Executive Digest reuniram executivos e especialistas para debater as potencialidades da Inteligência Artificial (IA) Generativa e a forma como esta tecnologia pode reinventar o futuro dos negócios.

As organizações devem reinventar o trabalho e explorar o caminho para o valor da generative AI. Os líderes precisam de liderar a mudança, repensar funções, tarefas e qualificar os seus colaboradores. «Há meses fizemos um survey global a executivos de topo e 97% disseram que a IA Generativa ia transformar a sua empresa e indústria onde operam. Isto seguramente está relacionado com o impacto do Chat GPT no nosso dia-a-dia e isto naturalmente transpôs-se para as empresas, com um poder impressionante», afirmou Manuela Vaz, presidente da Accenture Portugal.

De facto, os estudos dizem-nos que mais de 40% das tarefas que desempenhamos vão ser impactadas por este tipo de tecnologia. «Não estamos a dizer que vão acabar ou vão ser automatizadas, mas vão aumentar a produtividade das pessoas nas organizações, libertar tempo para criarem mais valor e serem mais criativas», avança Manuela Vaz. A responsável sublinha ainda que este tipo de tecnologia traz desafios do ponto de vista ético, da forma como é utilizado, e na utilização destes modelos para serem eticamente responsável.

Do ponto de vista do ciclo de adopção ainda estamos num ponto inicial. Vemos testes, pilotos, provas de conceito com alguma escala, mas essencialmente utilizando os modelos “ready to use”. «O poder desta tecnologia vai ser realmente relevante quando formos capazes de utilizar e treinar estes modelos com os dados da nossa organização. Olhar para o core das nossas aplicações, transformar o core das nossas aplicações, com este objectivo de termos os dados disponíveis para serem utilizados, quebrar os silos. Disciplinas como arquitecturas, gestão de dados, governance de dados são mais críticas do que nunca. É um poder brutal que podemos colocar ao serviço dos negócios», afirmou a presidente da Accenture Portugal.

A Accenture encontra-se a fazer esse caminho, inclusivamente nos processos internos, tirando partido da IA Generativa para transformar a forma como opera os seus negócios e servir os clientes. «Vemos um potencial enorme. Estamos a trabalhar para entregar esse valor aos nossos clientes», concluiu Manuela Vaz antes de passar a palavra a Gavin Stephenson, Managing Director de Data & AI da Accenture UKI.

Na sua apresentação durante o Fórum organizado pela Accenture e a revista Executive Digest, o especialista abordou vários tópicos sobre como esta tecnologia é usada, casos práticos, oportunidades e riscos. O ChatGPT, que oferece o primeiro ponto de viragem real na adopção pública da IA, mostrou ao mundo o potencial transformador da generative AI. Os grandes modelos linguísticos (LLM) e os modelos de base que impulsionam estes avanços em Generative AI são um ponto de viragem significativo. Não só decifraram o código da complexidade da linguagem, permitindo às máquinas aprender o contexto, inferir a intenção e ser criativas de forma independente, como também podem ser rapidamente ajustados para uma vasta gama de tarefas diferentes. «Este é o “momentum” para a Generative AI. Registou-se um investimento de 1,5 biliões de dólares em 2022 (o mesmo que no conjunto dos cinco anos anteriores, temos 450 startups a trabalhar na área e 10% de todos os dados podem ser gerados por IA em apenas três anos», explicou Gavin Stephenson. O especialista alertou ainda que em todos os sectores, a GenAI tem potencial para fornecer um valor extraordinário, juntamente com cinco tipos principais de aplicabilidade: aconselhar, criar, auxiliar, automatizar, proteger. «A oportunidade e o valor são enormes», acrescentou.

E qual a evolução para os próximos 12 meses? «As organizações passarão da experimentação para o escalonamento de “use cases”, que impulsionam a produtividade, a programação e a personalização, cruzando diversos sectores como o Marketing, Finanças, Recursos Humanos ou Justiça», referiu Gavin, alertando igualmente para potenciais riscos. «Está a haver um grande trabalho para mitigar os riscos e preconceitos, mas estes assuntos não são novos. O problema é a amplificação dos mesmos, porque a IA Generativa está nas mãos de toda a gente. Precisamos de uma IA responsável, transparente e há uma grande variedade de processos e estratégias para mitigar estes riscos», diz.

Gavin Stephenson, Managing Director de Data & AI da Accenture UKI, sublinhou ainda que as empresas devem considerar várias adopções essenciais na implementação desta tecnologia, como ter uma estratégia na implementação de dados, fazer o ‘upskilling’ dos colaboradores, criar uma estrutura de governance para gerir os riscos ou ter os parceiros certos para escalar.

MESA-DEBATE

Num cenário constantemente desafiante e onde as novas oportunidades surgem ao virar de qualquer esquina, o Gen.AI Forum reuniu especialistas de diversas empresas numa Round Table para partilharem as suas perspectivas sobre o papel transformador da IA Generativa.  José Vera, CIO da CUF, Jorge Graça, Board Member da NOS, e Vanda de Jesus, Managing Director e Portugal Country Head da iCapital, juntaram-se em palco numa mesa-debate moderada Hugo Balseiro, AI Lead da Accenture Portugal

José Vera, tomou a palavra para dar a conhecer o processo da adopção desta tecnologia na CUF, alinhada com os objectivos estratégicos do grupo. «Estamos a ter uma discussão grande sobre o que usar, onde e como. E estamos a ter um problema grande em dois grandes eixos, sendo que um é aquilo que tem impacto na prestação assistencial, ou seja, o que impacta nos profissionais de saúde, e outra diz respeito aquilo que tem impacto na componente de gestão da empresa», explica.

O executivo acredita que o potencial destas tecnologias é enorme, mas que é apenas teórico à data de hoje. No entanto, sublinha, começa a haver muitas inovações interessantes no apoio aos profissionais de saúde, estando já a CUF a testar seis iniciativas neste âmbito.

Alerta, no entanto, que este é um caminho lento, porque tem de ser tudo certificado, certificarem-se que os BIAS estão controlados, ou que os profissionais que usam as ferramentas estão devidamente treinados para ler os resultados que elas produzem. Do lado da gestão empresarial, esclarece, «o potencial parece ser enorme. Parece, mas na realidade não tem grande impacto ainda».

No âmbito da adopção destas tecnologias, Vanda de Jesus sublinhou ainda a questão do Compliance, explicando que a forma como este é trabalhado em termos de regulação nos vários mercados, é tão complexa que a necessidade de ’comply with the rules’ em termos de dimensão de pessoas pode vir a complementar e facilitar, com a possibilidade de utilização deste tipo de modelos.

No que respeita ao investimento no seu sector de actividade no que respeita à IA Generativa, a especialista esclarece que o impacto da IA já era de 11 a 17 triliões de dólares, e quando entramos na IA generativa tem 35 a 70% mais impacto na economia, ou seja, mais de 17 triliões.

Para além disso, sublinha que vários estudos mostram o impacto que isto tem em cada empresa, e sublinha que apenas 363 empresas em todo o mundo estão em mercados públicos de IA, enquanto existem 23 mil empresas no mercado privado que estão a desenvolver soluções poderosas.

Já Jorge Graça explica que, «no que diz respeito à IA na NOS, na vertente de IA preditiva, já trabalhamos de forma muito alargada há muitos anos, e actualmente temos muitas das nossas operações que são completamente ‘zero touch’. Já temos isso muito dentro dos processos».

O responsável sublinhou que se encontram na fase de formar toda a organização com este tipo de ferramentas, acrescentando que os principais desafios que encontraram se dividem em duas principais dimensões. Uma delas é referente aos dados, visto que tratam uma quantidade impressionante os dados, mas que estes têm de ser trabalhados, e outro desafio são os ‘guard rails’ que têm de colocar nos processos, pois a liberdade total pode gerar problemas, principalmente no que respeita a operações que precisem de muita certeza na resposta ou interações com clientes.

Já no que respeita à segurança da informação, confirma que há formas de segmentar essa informação e passar apenas a fundamental para o modelo, onde o risco é baixo. Há outro que é ensinar ao modelo aquilo que ele pode ou não responder, explica.

ATRAIR, RETER E OPTIMIZAR CUSTOS

A atracção e retenção de talento qualificado e especializado nesta área da IA Generativa é um dos principais desafios de diversos setores de actividade. A Managing Director e Portugal Country Head da iCapital explica que a sua empresa é uma multinacional de tem 1.200 recursos humanos em todo o mundo, 220 em Portugal, dos quais 120 são developers.

A responsável sublinha a importância de envolver as pessoas no que estão a fazer e porque o estão a fazer, porque considera que a IA traz dicotomias muito curiosas, pois tanto permite aumentar o engenho humano, como obviamente vai automatizar e vai retirar empregos muito qualificados. «O maior desafio é para os gestores e para quem está a gerir as empresas, garantir que a organização entende e incorpora da melhor forma possível para tirar os 30 a 40% de vantagens da utilização», sublinha,

Jorge Graça complementa referindo que a sua visão é de que as empresas estão efetivamente a assumir e a incorporar estas tecnologias para fazerem uma gestão mais eficiente dos recursos financeiros. «Todos temos um problema grande que é a inflação que temos sobre o factor trabalho, e estamos a fazer isto porque queremos ser mais eficientes». Ou seja, o objectivo em primeira instância passa pela procura da optimização e baixar custos, resume.

TRANSFORMAR RESULTADOS

Para ser possível transformar o investimento nestas tecnologias em resultados concretos, é necessário fazer uma análise e medição de todos os pontos da cadeia de valor. José Vera explica que, na parte que está relacionada com o apoio aos profissionais de saúde, a CUF mede em dois vectores: o primeiro é olhar para o que estas tecnologias permitem fazer que antigamente não permitiam, por exemplo, a qualidade de diagnóstico que é possível realizar com base nestas ferramentas; outro é o impacto que isto tem na divisão do tempo dos profissionais.

Já na componente de gestão da empresa, há também dois temas, como explica: o que podemos acrescentar ao que já fazermos; e como conseguimos ultrapassar algumas complexidades que existem no negócio, de uma forma mais criativa e ocupando menos recursos.

Já o Board Member da NOS considera que o grande ganho está na dimensão da hiperpersonalização. «Acho que isto é o que a IA Generativa traz verdadeiramente para cima da mesa». As ferramentas de comunicação anteriores, explica, tinham zero personalização, porque o diálogo era frio e não criava engagement… O que se consegue fazer agora é, efectivamente, criar um tipo de engagement conversacional e personalizar uma transação».

Jorge Graça reforça que a IA Generativa é muito conversacional, é muito boa a fazer analogias, a gerar um diálogo e a entender a conversa.  Os bons resultados são igualmente alcançados com a concretização de parcerias. Vanda de Jesus explica que a iCapital é um marketplace de investimentos alternativos e produzem a sua própria tecnologia. «Para fazer isso e para escalar, é obviamente através de parcerias, e o nosso crescimento, quer na área financeira como tecnológica tem sido muito resultado de aquisições», sublinha.

A responsável destaca ainda a importância de irem ao mercado buscar competências muito rapidamente, e por isso a importância das aquisições e das parcerias.

ÉTICA

«O tema da ética é crucial na CUF”, afirma José Vera, «tanto que mantivemos estas novas questões, inicialmente, apenas a nível interno, de forma a olharmos para os processos internos e para a forma como operamos, porque queremos ver como isto evolui, quais as ferramentas que nos vão permitir medir estes temas éticos».

Questionado sobre a possibilidade de a IA Generativa poder realizar um processo end to end, desde o diagnóstico à prescrição do tratamento, é muito assertivo: «Por muito sofisticado que seja o modelo, o profissional de saúde é muitíssimo mais sofisticado, e há um conjunto de outros factores que são tomados em consideração num processo de diagnóstico, num processo de tratamento e acompanhamento que, há data, não temos nada vagamente parecido para substituir um pelo outro»

Ainda na questão da ética, Vanda de Jesus sublinha que, ao nível do board da iCapital, é uma preocupação de quase todas as áreas de negócio. «Ninguém está distraído com o tema, está na agenda de todos», sublinha, acrescentando a importância premente e constantemente presente deste tema em quem está a desenvolver o software e a trabalhar os dados.

«É fundamenal passar o tema da ética muito mais vincadamente para toda a organização», diz a responsável.

E olhando para o futuro, Jorge Graça destaca: «A visão que temos é que, no final do dia, acreditamos que temos a possibilidade de nos tornarmos mais eficientes a fazer aquilo que fazemos, e uma visão mais transformativa do tipo de engagement que vou ter com o cliente».

EVOLUÇÃO SEM PARAGEM

Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group, tomou a palavra para o encerramento deste debate de ideias sobre IA Generativa. Sublinhou que esta discussão da importância e da implementação de tecnologias de IA Generativa é transversal a todos os sectores de actividade, é válido para todas as empresas, é uma evolução que não vai parar, e quem ficar para trás, ficará cada vez mais para trás.

“Isto é um movimento que não tem paragem, que não pode parar», destacou. «Vamos continuar a desenvolver, cada um na sua área. A Accenture como especialista na matéria, nós com o dever de informar, mas também formar as pessoas sobre este assunto, porque é um tema do presente, mas cada vez vai ser mais do futuro», concluiu o CEO do Multipublicações Media Group.

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