Fugitivos de Vale de Judeus ainda estão a monte uma semana depois: relembre o filme da fuga que chocou Portugal
Faz este sábado uma semana que Portugal ficou em choque com a notícia da fuga de cinco prisioneiros perigosos do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre: os evadidos Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, o georgiano Shergili Farjiani, o argentimo Rodolf José Lohrmann, e o britânico Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos, estão a monte e a ser procurados pelas autoridades nacionais e internacionais.
Foram condenados a penas entre 7 e 25 anos de prisão, por vários crimes, incluindo o tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.
Eram 9h55 do passado sábado quando três homens, encapuzados e com material militar, surgiram no perímetro exterior da cadeia: dois minutos depois, começou a evasão. De acordo com a Polícia Judiciária, “todos os pormenores da fuga foram preparados ao mínimo detalhe”, assumiu Luís Neves, diretor nacional da PJ.
Filme da fuga
A operação de fuga começou um minuto após uma troca de turno na sala de videovigilância. Pelas 9h54, um guarda substituiu o seu colega na monitorização das câmaras, momento que ficou registado nas gravações. Apenas um minuto depois, às 9h55, três indivíduos infiltraram-se no perímetro externo da prisão, de acordo com os dados apresentados pela ministra em conferência de imprensa.
O relatório indica que às 9h57 os reclusos iniciaram a sua evasão, com duas escadas. O último dos fugitivos ultrapassou a vedação às 10h01, concluindo assim uma operação que durou apenas seis minutos. Até lá, desceram dois pavilhões com recursos a lençóis para chegarem ao pátio exterior
Os três cúmplices no exterior, em duas viaturas, foram essenciais para o sucesso do plano: para escalar o muro de 10 metros de altura, foram usadas duas escadas: uma, articulada, colocada no exterior, e outra, no interior, adaptada de forma a que o muro não se transformasse numa barreira intransponível. Para galgarem o primeiro muro, com 3 metros de altura, os criminosos recorreram-se de uma corda bastante comprida com um gancho numa ponta e que foi amarrada a uma das celas.
A vedação exterior também foi cortada. A eletrificação da rede da cadeia de Vale de Judeus nunca avançou, conforme explicou o ex-diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa Gonçalves, porque “cada vez que ligavam a corrente elétrica o estabelecimento prisional ficava sem luz”.
Sinal de alerta chegou bem tarde
De acordo com o relato da ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, a fuga foi “detetada por dois guardas, quase em simultâneo, pelas 11 horas, ou seja, cerca de uma hora depois, sendo que um dos guardas estava no pavilhão da prisão e o outro circulava de viatura no perímetro interior quando se deparou com uma escada. “O alerta dado a toda a corporação ocorre entre as 11h04 e as 11h08”, acrescentou.
O primeiro sinal da fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, depois de ter sido detetada uma escada, foi dado por um guarda prisional através de sinais de luzes para um colega feitos a partir de uma carrinha Ford Transit, equipada com uma câmara frigorífica para conservação de comida para os reclusos, relatou o ‘Correio da Manhã’.
A ocorrência foi depois comunicada por rádio, mas não foi acionado o botão SIRESP (um sistema de comunicação de emergência entre forças de segurança e a Proteção Civil), que faria com que as palavras “fuga, fuga, fuga” chegassem a todos os órgãos de polícia criminal do País.
Uma das questões mais controversas refere-se ao tempo que as autoridades demoraram a ser notificadas sobre a fuga. As imagens das câmaras de videovigilância registaram o início da evasão às 9h56, mas a Polícia de Segurança Pública (PSP) só foi informada da fuga quase três horas depois, às 12h52. A situação é ainda mais grave no que respeita à Polícia Judiciária (PJ), que apenas foi notificada cerca de cinco horas depois, às 15 horas.
A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), responsável pelo estabelecimento prisional, não seguiu os procedimentos estipulados numa circular interna de 2017, que obriga à comunicação “pelos meios mais expeditos” às forças de segurança, como a GNR e a PJ, no caso de uma fuga. Esta falha na comunicação originou críticas internas e externas.
Polícias nacionais e internacionais estão à caça
As autoridades judiciárias emitiram, na passada quarta-feira, os mandados de detenção internacional dos cinco reclusos, um dia depois de terem sido lançados os europeus, de acordo com o Ministério da Justiça.
O mandado de detenção europeu é uma decisão judiciária emitida por um Estado-membro com vista à detenção e entrega por outro Estado-membro de uma pessoa procurada para efeitos de procedimento criminal ou para cumprimento de uma pena ou medida de segurança privativa da liberdade.
Tanto a Polícia Judiciária como a Polícia Nacional, de Espanha, já fizeram apelos de ajuda à população – o diretor nacional da PJ pediu mesmo à população que se abstenha de qualquer contacto com os foragidos. É “gente muito violenta”, alertou.