Fortuna dos super-ricos aumenta 27,5% em plena pandemia

Os mais ricos do mundo “saíram-se extremamente bem” durante a pandemia de covid-19, aumentando as suas fortunas já acumuladas para um valor recorde de 10,2 biliões de dólares.

Um relatório do banco suíço UBS descobriu que os bilionários aumentaram a sua riqueza em mais de um quarto (27,5%) no auge da crise de Abril a Julho, altura em que milhões de pessoas em todo o mundo perderam os seus empregos ou tiveram graves dificuldades financeiras.

O relatório constatou que os bilionários beneficiaram, principalmente, com a aposta na recuperação dos mercados bolsistas mundiais quando estavam no seu ponto mais baixo durante os confinamentos globais, em Março e Abril.

De acordo com o UBS, a riqueza dos bilionários atingiu “um novo pico, ultrapassando o recorde anterior de 8,9 biliões alcançado no final de 2017”. O número de bilionários também atingiu um novo máximo de 2189, contra 2158 em 2017.

“Os bilionários saíram-se extremamente bem durante a crise da covid, não só ‘cavalgaram’ a tempestade, mas também ganharam, à medida que as bolsas de valores se recuperavam”, disse Josef Stadler, chefe do departamento global de escritórios familiares do UBS que lida directamente com as pessoas mais ricas do mundo, em declarações ao The Guardian.

Segundo Stadler, os “super-ricos” puderam beneficiar da crise porque tinham a possibilidade de comprar mais acções de empresas quando os mercados de acções de todo o mundo estavam a cair.

Desde então, as bolsas de valores recuperaram, compensando a maior parte das perdas. As acções de algumas empresas tecnológicas – que são frequentemente detidas por bilionários – subiram muito acentuadamente.

Já Luke Hilyard, director executivo do High Pay Centre, um thinktank que se concentra na remuneração excessiva, considera que “a concentração extrema da riqueza é um fenómeno feio de uma perspectiva moral, mas é também económica e socialmente destrutiva”.

“A riqueza dos bilionários equivale a uma fortuna quase impossível de passar durante múltiplas vidas de absoluto luxo”, disse, citado pelo The Guardian. “Qualquer pessoa que acumule riqueza a esta escala pode facilmente dar-se ao luxo de aumentar a remuneração dos empregados que geram a sua riqueza, ou contribuir muito mais em impostos para apoiar serviços públicos vitais, permanecendo ao mesmo tempo muito bem recompensados por quaisquer sucessos que tenham alcançado”.

“Os resultados do relatório do UBS que mostram que os ‘super-ricos’ estão a ficar ainda mais ricos são um sinal de que o capitalismo não está a funcionar como deveria”, sublinhou.

Stadler disse ainda que o facto de a riqueza dos bilionários ter aumentado tanto numa altura em que milhões de pessoas em todo o mundo estão a ter dificuldades poderá levar à “raiva pública e política”. “Haverá um risco de serem apontados pela sociedade? Sim. Estarão eles conscientes disso? Sim.”

As fortunas dos bilionários aumentaram em 4,2 mil milhões de dólares (ou 70%) nos três anos desde que Stadler alertou para a ameaça de uma revolta global contra os super-ricos. “Estamos num ponto de inflexão”, disse. “A concentração da riqueza é tão elevada como em 1905, e isto é algo que preocupa os bilionários. A questão é: até que ponto é que sustentável e em que altura é que a sociedade vai intervir e revidar?”.

Os actuais ‘super-ricos’, segundo o UBS, detêm a maior concentração de riqueza desde a Era Dourada dos Estados Unidos no virar do século XX.

O relatório do UBS não classificou as fortunas da riqueza mundial, mas a pessoa mais rica do planeta é Jeff Bezos, o fundador e director executivo da Amazon, com 189 mil milhões de dólares. A riqueza de Bezos aumentou em 74 mil milhões de dólares até agora, este ano, de acordo com o índice Bloomberg bilionários, devido ao aumento do preço das acções da Amazon.

Uma das poucas mulheres que consta na lista é a empresária de cosmética, Kylie Jenner.

Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, ganhou mais dinheiro este ano, com a sua fortuna a aumentar em 76 mil milhões de dólares para 103 mil milhões de dólares.