Foi você que pediu leite de camelo? Animal do deserto está a ser encerrado em mega-quintas para serem ordenhados por máquinas

Pode o camelo tornar-se a próxima vaca? De acordo com especialistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, esse parece ser o caminho. Um animal que pastava e percorria grandes distâncias está cada vez mais encerrado em vastas produções leiteiras no Médio Oriente, onde milhares de camelos são ordenhados por máquinas.

Este é o modelo de agricultura sedentária que produziu as vacas, ovelhas e porcos modernos. Até agora, os camelos resistiram – mas, olhando bem, são animais ideais para a próxima realidade climática.

De acordo com um artigo publicado no site ‘The Conversation’, os camelos evoluíram para lidar com dias muito quentes e noites geladas no deserto. Podem passar dias com pouca água ou alimento e produzir menos metano do que vacas, ovelhas e outros ruminantes.

Estas características tornam os camelos excecionalmente resistentes às alterações climáticas e significam que podem desempenhar um papel fundamental na adaptação da produção alimentar ao clima.

Mas as mesmas características que tornam os camelos bem adaptados às alterações climáticas também os tornam alvos cada vez mais atraentes para a agricultura intensiva. Está a crescer um indústria de camelos, tendência impulsionada pela crescente procura de leite de camelo como alternativa ao leite de vaca, ovelha e cabra. O leite de camelo é rico em vitamina C quando fresco e também tem baixo teor de gordura.

O leite fresco produzido por pastores de camelos tem um sabor suave que muitas vezes é ligeiramente mais doce em determinadas estações, dependendo da vegetação onde os camelos pastam. Embora os pastores em regiões áridas sempre tenham consumido leite de camelo, a sua nova comercialização baseia-se no seu sabor suave, níveis mais baixos de lactose e perfil nutricional.

Nos Emirados Árabes Unidos (EAU) e na Arábia Saudita, foram criadas explorações leiteiras de camelos com milhares de animais – a maior, nos EAU, tem mais de 10 mil – incluindo unidades de engorda para camelos machos que serão vendidos como carne. Estão a ser construídos mais, depois de, no início de 2024, o fundo soberano saudita ter anunciado mais investimentos.

Existem alguns desafios na criação de camelos em escala industrial. Os machos tendem a tornar-se muito agressivos e até perigosos para os humanos durante o cio, enquanto as fêmeas têm um período de gestação mais longo do que as vacas.

No entanto, espera-se que a indústria cresça rapidamente, com estimativas para o valor futuro do mercado global de leite de camelo a variar entre 2 e 13 mil milhões de dólares até ao final da década.

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