FMI pede que UE remova obstáculos às empresas e crie mais habitação para superar EUA

O Fundo Monetário Internacional apela que a União Europeia aproveite a “nova dinâmica” para se tornar mais produtiva através de reformas europeias e nacionais, para remoção de barreiras às empresas e criação de mais habitação.

Num relatório sobre o “Declínio do crescimento da produtividade na Europa: diagnósticos e soluções”, hoje publicado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) observa que “a grande diferença de rendimento per capita da Europa em relação aos Estados Unidos reflete sobretudo um défice crescente de produtividade com raízes profundas a nível das empresas”.

“Em comparação com as dos Estados Unidos, as grandes empresas líderes da Europa inovam e crescem menos, enquanto as jovens empresas [com menos de cinco anos] de elevado crescimento têm uma presença mais reduzida na economia. Como estes motores de crescimento da produtividade estão a ser silenciados, a Europa também sofre de uma superabundância de empresas maduras estagnadas”, elenca o FMI no documento.

Além disso, de acordo com o fundo, para tal situação na União Europeia (UE) contribuem “os mercados mais pequenos e o financiamento limitado de capitais próprios como estrangulamentos, que impedem as grandes empresas líderes da Europa de se expandirem e inovarem”.

“Trata-se de uma preocupação especial nos setores tecnológicos, em que a Europa tem vindo a ficar mais para trás”, assinala ainda o FMI.

Por essa razão, é aconselhado que os Estados-membros da UE, como Portugal, realizem “reformas nacionais que reduzam os obstáculos à entrada de empresas, facilitem a saída e eliminem os desincentivos fiscais e regulamentares ao crescimento”.

Falando na apresentação do relatório com alguns jornalistas europeus em Bruxelas, incluindo a Lusa, o diretor do FMI para a Europa, Alfred Kammer, comentou que “existe uma nova dinâmica na Europa, uma urgência em resolver problemas [de produtividade] e em explorar as oportunidades que a Europa tem para aumentar o PIB [Produto Interno Bruto] per capita”.

Até porque, a seu ver, isso permitiria “aumentar, através de um mercado único mais forte, a resiliência da economia”.

Para tal urge, de acordo com Alfred Kammer, aplicar “uma combinação de reformas ao nível da UE, mas também de reformas nacionais para aumentar a eficiência das economias nacionais”.

Em Portugal, isso passa por “aumentar a oferta de habitação” e adotar medidas para reter talento, adiantou o responsável do FMI para a Europa, saudando recentes medidas do Governo no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Num relatório sobre Portugal divulgado em outubro, o FMI destacou a necessidade de o país realizar “reformas para aumentar a produtividade”, aludindo a medidas para “racionalizar a burocracia, maior flexibilidade do mercado de trabalho, esforços para melhorar as competências da mão de obra, digitalização e transição ecológica”.

“A aplicação firme do PRR, que abrange a maioria destes domínios, é fundamental”, concluiu.

Já no que toca ao conjunto da UE, num relatório divulgado em setembro, o ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi relatou falhas no investimento e atrasos em termos industriais, tecnológicos e de defesa.

É esta situação que a UE quer agora reverter, dada a mudança política nos Estados Unidos, um dos seus principais parceiros e concorrentes.

Nesse relatório, Mario Draghi estimou em 800 mil milhões de euros as necessidades anuais de investimento adicional no espaço comunitário, o equivalente a mais de 4% do PIB comunitário – o dobro do realizado no pós Segunda Guerra Mundial com o Plano Marshall -, no âmbito de uma nova estratégia industrial comunitária.

O também antigo primeiro-ministro italiano Enrico Letta propôs, num outro relatório divulgado em abril passado, dívida conjunta com planos de reembolsos claros, empréstimos em condições favoráveis e apoio do Banco Europeu de Investimento para financiar o investimento da UE em segurança e defesa.

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