Florença anuncia plano com 10 medidas para combater “excesso de turismo” na cidade

Florença, cidade histórica e culturalmente rica, implementou um plano de ação para lidar com o crescente desconforto dos seus moradores face ao que é considerado um “excesso de turismo”. O plano, composto por 10 medidas, visa equilibrar o turismo com a qualidade de vida dos residentes e a preservação do património da cidade. Entre as propostas estão restrições ao uso de fechaduras automáticas em alojamentos locais e à utilização de amplificadores por guias turísticos.

A cidade, que já havia anunciado no ano passado a proibição de novos alojamentos locais de curto prazo, agora dá um passo adicional para conter o êxodo dos moradores. A decisão de restringir o uso de fechaduras de check-in automáticas, que se tornaram símbolo da insatisfação local com o turismo de massas, surge após episódios de vandalismo contra essas fechaduras, marcadas com fitas adesivas e X vermelhos por moradores que protestam contra o aumento do número de turistas. Estas fechaduras, utilizadas em arrendamentos de curta duração, tornaram-se um ponto de controvérsia, especialmente após o aumento do fluxo turístico pós-pandemia.

A sobrecarga de visitantes tem também levado a um aumento significativo nos preços dos imóveis, forçando muitos residentes a deixar as suas casas, uma situação que tem gerado frustração entre os florentinos. As novas medidas visam, assim, garantir que Florença continue a ser uma “cidade viva e única”, onde tanto os turistas como os moradores possam coexistir de forma equilibrada.

Plano de ação com 10 medidas para combater os impactos do turismo

Na semana em que a cidade se prepara para receber os ministros do turismo do G7, a autarquia de Florença aprovou um conjunto de iniciativas que visam lidar com os efeitos da massificação do turismo. O plano foi concebido para preservar a habitabilidade e o valor patrimonial da cidade, tendo sido formalizado através de um comunicado onde se afirma que Florença não pode suportar uma presença turística tão massiva, sem comprometer o seu património e a qualidade de vida dos seus residentes.

Entre as medidas propostas, destacam-se as seguintes:

  1. Proibição do uso de fechaduras automáticas em áreas da UNESCO, com critérios definidos para as atividades de locação turística, no âmbito da legislação regional e nacional.
  2. Limitação de veículos atípicos, como carrinhos de golfe usados por guias turísticos, especialmente em áreas de tráfego restrito.
  3. Proibição de amplificadores e altifalantes por parte das guias turísticas, com o objetivo de reduzir a poluição sonora na cidade.
  4. Exposição obrigatória do Código Identificativo Nacional (CIN) nas atividades de locação turística, com a supervisão da Sovrintendenza (órgão responsável pela preservação do património).
  5. Implementação de controles mais rigorosos sobre os serviços turísticos, através de ferramentas tecnológicas.
  6. Campanhas de comunicação sobre turismo sustentável, promovendo o respeito pela cidade como um lugar “vivo e único”.
  7. Parcerias com plataformas de viagens online (OTA), para divulgar campanhas de respeito pela cidade e recolher dados úteis sobre os aluguéis de curto prazo.
  8. Criação de um grupo de trabalho permanente, com a participação de stakeholders públicos e privados, coordenado pela Fundação Destination Florence.
  9. Estabelecimento de uma cabina de regulação para a programação de políticas turísticas.
  10. Implementação de uma Dashboard Turística, uma plataforma para reunir todos os dados sobre o turismo em Florença.

O plano será implementado após a aprovação pelo Conselho Municipal, e inclui um acompanhamento contínuo do impacto dessas medidas. Os dados mais recentes, de 2024, revelam que até setembro o número de presenças turísticas em Florença foi superior a 7,8 milhões, seguindo a tendência de crescimento registada nos últimos anos.

Turismo sustentável e equilíbrio entre visitantes e moradores

O plano de Florença faz parte de um esforço mais amplo para promover o turismo sustentável, com a cidade a colaborar com outras grandes destinos italianos, como Roma, Veneza e Nápoles, na criação de um turismo que respeite a cultura local e melhore a integração entre turistas e residentes. A cidade também faz parte da rede “Grandes Destinos Italianos para um Turismo Sustentável” (GDITS), uma iniciativa do Ministério do Turismo que visa garantir que o turismo contribua positivamente para o bem-estar dos moradores.

O comunicado municipal destaca a necessidade de um equilíbrio entre a recepção de turistas e a preservação do carácter histórico e cultural da cidade, reconhecendo Florença como um património da humanidade (UNESCO) e como um organismo vivo, composto pelos seus habitantes permanentes.

As autoridades florentinas enfatizam a importância de ações coordenadas entre diferentes áreas da administração, incluindo atividades económicas, polícia municipal, mobilidade e sistemas informáticos, para garantir o sucesso destas medidas e a implementação eficaz do plano.

Com este conjunto de medidas, Florença pretende criar um modelo de turismo que não só beneficie a economia, mas também preserve a identidade e a qualidade de vida dos seus cidadãos.

Ler Mais





Comentários
Loading...