Feminino, residual e involuntário: retrato do trabalho part-time aponta desigualdades em Portugal
O trabalho em part-time em Portugal é residual, involuntário e feminino, segundo apontou um estudo do Eurostat, gabinete de estatísticas europeu, citado pelo ‘Jornal de Notícias’.
Em 2023, na faixa 25-54 anos, apenas 5,7% dos portugueses trabalhavam em part-time – já a média europeia cifrou-se em 15,5%. No entanto, se se tratar de mulheres com filhos a cargo, a percentagem dispara para 31,8% na UE, contra apenas 7,9% em Portugal, o mesmo valor se analisadas mulheres sem filhos. Por último, na UE, em média, 5% dos homens com filhos estão em part time – já em Portugal, são apenas 2,4%.
Em Portugal, quatro em cada 10 cumprem horários em part-time de forma involuntária – porque não conseguem emprego a tempo inteiro -, o que, numa análise à população em idade ativa, temos a 7ª taxa mais elevada – segundo o Eurostat, Portugal está num grupo de oito países onde, apesar da existência de filhos, o part-time fica abaixo dos 8%: é no entanto o terceiro país da UE com a mais alta taxa de emprego de mulheres com filhos – 84,9% face à média europeia de 74,9%.
“O trabalho a tempo parcial não é uma estratégia de conciliação porque os rendimentos são muito baixos, não sendo uma solução para as famílias”, explicou ao jornal diário a socióloga Vanessa Cunha, salientando que somos dos países onde o part-time assume um “caráter mais involuntário”, por ausência de “possibilidade a tempo inteiro”. As diferenças entre homens e mulheres traduzem-se, referiu a investigadora, “numa maior desigualdade no acesso ao rendimentos, de progressão na carreira e de rendimentos na velhice”.
Frederico Cantante, investigador no CoLABOR – Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social, salientou “os baixos rendimentos” e o part-time involuntário no nosso país “ser o dobro do que se verifica nos países europeu”, o que potencia o risco de exclusão social. “Sabendo nós que ter filhos em Portugal aumenta o risco de incidência de pobreza”, apontou.
Por último, Eduardo Oliveira, professor na Faculdade de Economia do Porto, considerou que os trabalhos em part-time em Portugal são, na prática, segundos empregos para compor rendimentos. “Enquanto nos outros países é uma opção deliberada como mecanismo de conciliação”, por cá derivará “mais da necessidade de compor o rendimentos do trabalho”.