Explicador: Quais as causas do stress no sistema bancário? O que devem esperar os investidores? As respostas de um economista

Numa época marcada por uma turbulência generalizada no setor bancário, acompanhada por elevados níveis de inflação e as taxas de juro mas altas em uma década, os mercados e os investidores navegam num mar de incerteza. O que podem esperar?

Sean Shepley, Diretor e economista sénior da Allianz Global Investors (AllianzGI), começa por explicar que, em 2009, em plena crise económica mundial, o então presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Ben Bernanke, adotou uma flexibilização quantitativa, que levou muito tempo a dar frutos porque o choque negativo de múltiplas falências foi profundamente prejudicial aos balanços, à confiança dos investidores e, até certo ponto, ao funcionamento do mercado.

“Num cenário de inflação persistentemente fraca, a estratégia acabou por ser adotada pelos bancos centrais como uma estratégia a ser implementada sempre que ocorresse uma crise económica”, explica.

No entanto, esta estratégia revelou ser um enorme erro durante a pandemia de Covid-19 porque, em contraste com 2008, a procura por dinheiro aumentou à medida que os governos e o setor privado procuraram encontrar soluções para a crise, causando um aperto nos escassos recursos da economia real.

Depois, chegou a inflação, uma corrida dos bancos centrais para aumentar as taxas de juros e, posteriormente, pressões sobre o sistema bancário à medida que depositantes avessos ao risco expuseram fraquezas na gestão de riscos ou aumentaram as preocupações dos investidores sobre a solvência dos negócios, o que levou à queda de bancos mais pequenos nos EUA.

“Portanto, no nosso ponto de vista, não é ‘acidente’ que os ‘acidentes’ financeiros tenham proliferado nos últimos seis meses: para nós, são apenas as longas defasagens da política monetária a cobrarem o seu preço”, afirma o economista sénior da AllianzGI.

Portanto, considera que depois de um período calmo antes de 2020, o ponto de viragem chegou a grande velocidade, deixando incerteza na economia e trazendo receios às decisões dos reguladores.

No entanto, como os dados dos empréstimos bancários da Fed e do Banco Central Europeu apenas serão divulgadas em maio, “isso deixa uma espécie de vácuo, durante o qual a ausência de mais perturbações pode reduzir as preocupações do mercado com o stress e a necessidade de cortes de taxas de emergência”.

“No entanto, achamos que o caminho para condições de crédito mais restritivas já está em curso. Esperamos que os custos de financiamento dos bancos aumentem, o que, por sua vez, significará empréstimos mais caros para as empresas e para as famílias ao longo do tempo”, considera.

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