Europeias: O que acontece se a extrema-direita ganha mais poder na UE?

Os partidos da extrema-direita estão a registar um aumento significativo de apoio público, de acordo com as sondagens mais recentes. Uma possível vitória da direita nas eleições europeias que se avizinham pode ter um impacto profundo no cenário macroeconómico da zona euro – e não só.

Com menos de duas semanas para as eleições da União Europeia (UE), o ressurgimento do apoio aos partidos de extrema-direita continua a preocupar os grupos políticos tradicionais, particularmente o Partido Popular Europeu (PPE). Apesar das sondagens indicarem uma vitória para a atual líder, Ursula von der Leyen, o aumento de assentos para a extrema-direita pode trazer implicações significativas para o futuro da UE.

A influência política da extrema-direita na paisagem económica da UE afetará principalmente a implementação do Pacto Ecológico e as relações diplomáticas com a Ucrânia. Este cenário também poderá desvalorizar o euro em relação a outras moedas do G-10.

Os líderes dos partidos de extrema direita têm conquistado apoio público devido à deterioração da qualidade de vida, resultante da guerra na Ucrânia e do aumento do custo de vida. A imigração crescente e o descontentamento entre os agricultores também têm contribuído para a mudança de voto em direção a grupos populistas, particularmente o grupo Identidade e Democracia (ID) e os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR).

Crescimento do Apoio aos Partidos Populistas
O grupo ID está a ver um aumento no apoio ao União Nacional (RN) de França, liderado por Marine Le Pen, e ao Alternativa para a Alemanha (AfD). O ECR, por sua vez, tem sido impulsionado pelos Irmãos de Itália, com a sua líder Giorgia Meloni tornando-se a primeira mulher a liderar o país.

Esta situação lembra os resultados inesperados do Brexit em 2016 e a eleição de Donald Trump nos EUA no mesmo ano. Quando o eleitorado está insatisfeito com o governo em exercício, tende a procurar mudanças, criando oportunidades para líderes populistas. De acordo com sondagens da Euronews, os dois grupos de extrema direita podem ganhar cerca de 20% dos assentos no Parlamento Europeu, potencialmente levando a uma guinada à direita.

Desafios ao Pacto Ecológico
Os problemas decorrentes da transição energética são um foco comum para esses grupos. Os partidos de direita têm-se tornado a voz dos agricultores da UE, que têm protestado contra o Pacto Ecológico desde fevereiro.

O Pacto Ecológico visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 90% até 2040, mas tem gerado preocupações entre os agricultores. Esta agitação levou a Comissão Europeia (CE) a isentar a agricultura do prazo inicial.

No entanto, o custo da transição verde deve restringir a renda dos agricultores, e os fundos agrícolas da UE parecem alcançar apenas uma pequena percentagem dos trabalhadores agrícolas. Além disso, os rendimentos dos agricultores têm diminuído devido à alta inflação nos bens e custos laborais. Isto pode levar a atrasos nos objetivos do Pacto Ecológico se os partidos de direita assumirem a liderança.

Transição Energética e Veículos Elétricos
Outro desafio enfrentado pela CE é a eliminação gradual dos carros movidos a combustíveis fósseis até 2035. Os partidos de direita estão a pedir o cancelamento deste prazo, argumentando que tal política pressionaria os consumidores a comprar veículos elétricos (VE) de alto custo. Em vez disso, os consumidores têm optado por veículos híbridos mais acessíveis, cuja participação de mercado subiu para 29% em março, segundo a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA).

Para a plena implementação dos VE, será necessária uma infraestrutura adequada de estações de carregamento, com subsídios governamentais para apoiar a transição. A ACEA observa que “os benefícios fiscais para carros elétricos de empresas são menos comuns, com apenas 17 estados-membros a oferecê-los”, enquanto “apenas cinco estados-membros proporcionam incentivos para infraestruturas de carregamento”.

A transição verde nos automóveis também levantou preocupações sobre um aumento nas importações de VE chineses a preços mais baixos. A imposição de medidas de proteção, como o aumento de tarifas, poderia levar a retaliações e prejudicar as vendas dos fabricantes de automóveis europeus na China.

Mudança Diplomática com a Ucrânia
O crescente apoio aos partidos de extrema direita ameaça a diplomacia da UE com a Ucrânia. Grupos ID, incluindo o partido AfD da Alemanha, o Partido da Liberdade da Áustria e o RN francês, tendem a inclinar-se para uma postura pró-Rússia, o que poderia dificultar os esforços da UE em fortalecer a sua defesa contra a Rússia e a sua aliança com a NATO.

Além disso, os partidos de direita representam uma ameaça ao livre comércio entre a UE e os produtores de alimentos ucranianos. Os agricultores da UE têm protestado contra as importações de alimentos baratos, especialmente em relação ao acordo de livre comércio com a Ucrânia. Em resposta, a UE chegou a um acordo para estender o livre comércio com os produtores de alimentos ucranianos, mas com novos limites às importações de grãos. Os políticos também impuseram limites para produtos isentos de tarifas, como aves, ovos e açúcar.

Consequências Económicas e Monetárias
A incerteza em torno da possível vitória da extrema direita pode pesar sobre o euro, uma vez que os eurocéticos provavelmente tentarão minar a integridade da UE. As divisões nas opiniões e políticas podem reduzir a competitividade do mercado único.

A instabilidade económica e as perspetivas incertas podem levar o Banco Central Europeu (BCE) a reduzir as taxas de juros já em junho, possivelmente antes de outros grandes bancos centrais. O CIO da SMS Investments, Shahil Shah, comentou: “O euro pode alcançar a paridade com o dólar dos EUA até ao final deste ano”, referindo-se à possibilidade de um corte de taxas do BCE em junho.

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