Europeias: Meloni está a guardar ‘trunfos na manga’ e resiste a dar o “sim” a coligação com Le Pen

Gerou grande burburinho em Bruxelas, que rapidamente soou por toda a União Europeia, o suposto convite ‘sedutor’ de Marine Le Pen a Giorgia Meloni, para que formem uma coligação que se traduza numa ‘superaliança’ de extrema-direita, que se tornaria no segundo maior grupo do Parlamento Europeu na Europa. A poucos dias das eleições, que decorrem de 6 a 9 de junho, Meloni mantém as suas opções em aberto, equilibrando propostas e alianças potenciais, e quer ficar com ‘trunfos na manga’, pelo que está a resistir em aceitar imediatamente o convite de Le Pen.

Le Pen, líder do partido francês de extrema-direita União National, fez uma nova oferta a Meloni para formar um supergrupo de direita no Parlamento Europeu, nova investida após, há poucos dias, não ter tido resposta, segundo avança o Politico.

Atualmente, a Assembleia Nacional de Le Pen faz parte do grupo Identidade e Democracia (ID), enquanto o partido de Meloni, Irmãos de Itália, integra o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR).

Alguns analistas sugerem que esta proposta de Le Pen é uma manobra política típica em tempos de eleição, ou uma ameaça ao Partido Popular Europeu (PPE) e à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Uma força política unificada de direita e extrema-direita seria um cenário desfavorável para o PPE e os seus parceiros de coligação socialistas e liberais, que atualmente controlam o Parlamento Europeu. No entanto, Von der Leyen pode precisar do apoio de Meloni e do ECR, dependendo do desempenho dos partidos nas próximas eleições, e tem mantido uma relação próxima com Meloni nos últimos meses.

Uma unidade entre os grupos de direita e extrema-direita poderia dar-lhes alavancagem em duas frentes principais. Primeiro, poderia impedir um segundo mandato para Von der Leyen. Segundo, permitir-lhes-ia influenciar a direção de políticas críticas da UE, desde a migração até ao clima, orientando-as para a direita, segundo indicam fontes de Bruxelas ao jornal.

Um membro do grupo ID, que pediu anonimato para falar abertamente, afirmou que é claro onde residem os interesses de Meloni.”Entre o afeto sincero de Le Pen e o da presidente da Comissão, que distribui bilhões de euros, quem acha que é mais relevante? Se Von der Leyen ou o seu sucessor abrirem a porta a uma boa relação com Meloni, onde será que terá Meloni mais interesse? Se Meloni tiver a escolha, ela escolherá o caminho mais útil para a Itália. Agora, Le Pen oferece um plano de reserva, um plano B”,

Por enquanto, Meloni mantém as suas os trunfos escondidos, e tenta o bluff.

Durante meses, von der Leyen e o PPE não descartaram uma coligação com o ECR de Meloni. As duas partes têm-se aproximado, sinalizando uma potencial oportunidade de colaboração no novo Parlamento, à medida que Von der Leyen se inclina para as visões de Meloni sobre migração, enquanto Meloni trouxe o seu aliado, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, para negociar ajuda da UE à Ucrânia.

Hermann Tertsch, membro espanhol do Parlamento Europeu pelos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), afirmou que é crucial unir forças contra a agenda do PPE e dos socialistas, que considera prejudicial para os interesses europeus. Acho que precisamos realmente, de forma forte e urgente, que todas as forças conservadoras democráticas se unam e coloquem o PPE diante dos seus próprios atos”, considerou, apontado que é claro que, nos bastidores “as coisas estão a mexer”.

Em 2019, Von der Leyen só conseguiu a aprovação dos legisladores europeus por uma margem estreita. Desta vez, tem cortejado continuamente Meloni, incluindo uma visita a Lampedusa quando a líder italiana adotou uma posição dura sobre a migração em 2023. Um ano antes, quando Meloni assumiu o cargo em Itália, era vista pelos líderes europeus como uma política de extrema-direita que os conservadores tradicionais queriam manter à distância. Agora, é retratada como uma conservadora mais ‘mainstream’, em parte devido à sua relação com Von der Leyen.

Com os comentários de Le Pen neste fim de semana, Meloni pode ter agora outra opção estratégica no Parlamento Europeu se os partidos de direita e extrema-direita tiverem um bom desempenho, conforme sugerem as sondagens recentes.

Ainda assim, não há alianças definitivas entre Le Pen e Meloni.

Em declarações rádio italiana Rai Radio1, Meloni afirmou que o seu grupo político poderia desempenhar um papel crucial no próximo Parlamento Europeu, assim como a Itália. “Devemos estar felizes. Não me lembro de a Itália ser particularmente central no passado. Nós, conservadores, somos os únicos que podem criar uma mudança de rumo.” No entanto, uma cooperação com o PPE, que se espera continue a ser o maior grupo no Parlamento Europeu, pode ser mais útil para Meloni.

“Meloni não se aliará facilmente a Le Pen e cortará o acesso ao poder e à influência”, adianta fronte próxima do processo.

O partido de Le Pen tem passado anos a distanciar-se do seu passado de extrema-direita para tentar atrair eleitores mais mainstream. A crítica do seu partido à extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) após uma série de escândalos na semana passada levou o grupo ID a expulsar a AfD. A distância que Le Pen tomou publicamente da AfD foi amplamente vista como uma tentativa de normalizar o seu partido antes das eleições presidenciais francesas de 2027.

Segundo outro membro do Parlamento Europeu do ECR, os comentários de Le Pen foram uma tentativa de criar uma “cortina de fumo” para ocultar as dificuldades enfrentadas pela União Nacional em assegurar o seu futuro no Parlamento Europeu desde a rutura com a AfD.

Expulsar a AfD do ID pode deixar a extrema-direita ainda mais fragmentada e o partido de Le Pen numa posição mais vulnerável, podendo perder parte do seu grupo atual para uma nova formação de extrema-direita se a AfD criar um novo grupo no próximo Parlamento.

“A RN enfrenta o risco de voltar à situação de 2014, quando tinham a maior delegação francesa, mas sem grupo,” alerta outro membro do grupo parlamentar europeu ECR.

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