Europeias: Imprensa estrangeira diz que “vacina contra a extrema-direita deixou de funcionar no Algarve” e destaca vantagem do Chega
O jornal Politico, na sua versão europeia, dedica um artigo à realidade de Portugal em antecipação às eleições europeias de junho, resumindo a atual situação política nacional, e expectável no sufrágio, como uma “vacina da extrema-direita” que “deixou de funcionar no Algarve”, adiantando que, na região (e, de certa forma, em todo o nosso País), será um cenário de todos contra o Chega, após o partido ter-se destacado nas legislativas de março.
O jornal fala com vários habitantes locais e trabalhadores de vários setores, pintando um quadro dos desafios nacionais, que ganham outros contornos no Algarve, como a crise habitacional, inflação, subida do custo de vida, aumento das rendas e questões relacionadas com a imigração.
“Agora, Portimão lidera a súbita guinada do país para a extrema direita. As mensagens do Chega para os habitantes locais são sobre o aumento dos preços, a perceção do aumento da migração e um sentimento de longa data de que o Estado pouco se preocupa com a área. Isto é emblemático de uma mudança mais ampla em toda a Europa, com os partidos de extrema-direita a liderarem as sondagens, da França à Áustria, e a extrema-direita a competir pelo terceiro lugar nas eleições europeias deste Verão”, escreve o jornal.
O artigo compara esta realidade que contrasta com uma memória ainda fresca do Estado Novo, que “foi durante muito tempo considerada uma vacina contra a extrema direita”.
Por outro lado, há uma divisão do País relatada. “Em comparação com os seus pares europeus, Lisboa há muito que se inclina para a esquerda”, escreve o Politico, que falou com Luís Serra Coelho, professor de economia na Universidade do Algarve.
Mas tudo mudou nas eleições de março: o Algarve virou definitivamente à extrema-direita. “Liderado pelo carismático comentador desportivo André Ventura , o Chega alcançou o primeiro lugar no Algarve, tornando-se a região mais importante do partido a nível nacional, graças a uma campanha que se apoiou fortemente na retórica anti-imigração, na defesa dos valores familiares tradicionais e nas acusações de que o anterior governo socialista era corrupto”, descreve o jornal.
A mudança é explicada pela questão dos migrantes, com “um quarto dos 400.000 residentes da região a serem estrangeiros”, e relatos de insegurança.
Segundo Paulo Graça, do Chega no Algarve, estas eleições continuarão a ser importantes, uma vez que todos os partidos estarão empenhados em “garantir que qualquer que seja o resultado para eles, será pior [para a extrema-direita]”, indicando que o partido está empenhado numa vitória no sufrágio europeu.
“Durante quem sabe quantos anos fomos a lata de lixo da Europa. Não é justo, é preciso mudar tudo”, afirma uma farmacêutica ucraniana que vive há 15 anos em Portimão, e que admite nas europeias voltar a repetir o voto das legislativas, no Chega.