Europa “deve acordar” para vencer corrida de armamento, alerta comandante da NATO

A Europa precisa de correr mais riscos, gastar mais, ser mais rápida e cortar a burocracia para vencer a nova corrida armamentista global, alertou esta terça-feira um importante comandante da NATO.

“A Europa não pode vencer a futura batalha armamentista com as regras que impôs a si mesma hoje”, explicou o comandante supremo aliado da Transformação (SACT) da NATO, o almirante Pierre Vandier, na sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo no final de setembro último.

Os obstáculos enfrentados pelos fabricantes de armas e agências de aquisição da Europa “podem ser resumidos como excesso de conformidade”, salientou. “Tem de se demonstrar que tudo está perfeito no equipamento que se vai entregar em 15 anos, que nem um parafuso vai faltar.” Segundo o almirante francês, a cimeira da NATO em 2025, em Haia, tem de enviar uma mensagem à UE: “Se quiser continuar na corrida armamentista, mude as suas regras.”

Os comentário de Vandier, de acordo com o jornal ‘POLITICO’, surgem numa fase em que a Europa procura rearmar-se em resposta à invasão da Ucrânia pelo líder russo Vladimir Putin. No início deste mês, Léo Péria-Peigné, investigador do think tank ‘IFRI’ sediado em Paris, alertou no Parlamento francês que as regras e as regulamentações atuais são projetadas para tempos de paz e deu um caso: a frente dos veículos blindados de transporte de pessoal Griffon — fabricados pela KNDS France, Thales e Arquus — teve de ser redesenhada porque os faróis eram muito altos e não estavam em conformidade com os padrões de trânsito, apontou.

A enxurrada de regulamentações insere-se no contexto mais amplo da mentalidade de aversão ao risco da Europa, especialmente em comparação com os Estados Unidos, sublinhou Vandier: os programas de armas também são muito lentos e não flexíveis o suficiente, acrescentando que, por exemplo, as fragatas francesas têm de esperar anos por atualizações adequadas do modo de combate, enquanto alguns navios de guerra americanos podem ser modernizados diariamente.

O SACT da NATO espera que a Europa possa aprender com a abordagem dos Estados Unidos à tecnologia e inovação. “O entusiasmo e a capacidade deles de assumir riscos são fundamentais. Na Europa, não assumimos riscos”, reforçou. “Dada a escala do que está a acontecer na Ásia”, sublinhou, Washington vai precisar de uma forte indústria de defesa europeia, acrescentando que está confiante de que as empresas europeias podem ser muito mais do que “apenas subcontratadas” para empresas americanas. “Estou otimista e tenho uma mensagem: é hora de acordar. Podemos realmente fazer grandes coisas, o que significa que temos de usar bem o dinheiro, correr mais riscos, tentar mais coisas.”

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