EUA vs China: Vem aí uma «guerra-fria» tecnológica?
A tecnologia está presente nas mais variadas vertentes: política, social, económica. Há mais de 20 anos que o mundo aprendeu a conviver com esta realidade, sobretudo numa altura de pandemia como esta que vivemos, onde as inovações tecnológicas têm sido fundamentais.
Contudo, o estudo “Life after Covid-19”, elaborado pelo Deutsche Bank Research, faz-nos reflectir sobre como seria o mundo sem a tecnologia. Nesta fase concreta de crise de saúde pública que os vários países enfrentam, qual seria o impacto no PIB? Como seria o funcionamento do governo, dos bancos, do teletrabalho, das entregas ao domicilio? Como seria a vida de um cidadão se não fosse capaz de se conectar ao mundo digital?
É difícil imaginar cenários semelhantes, segundo o estudo, que refere que a maioria da população a nível mundial, considera que a tecnologia vai tornar-se uma parte ainda mais importante da sua vida, à medida que vamos saindo da crise impulsionada pela pandemia.
O relatório aponta dois cenários possíveis para o comportamento da população no que diz respeito às tecnologias depois da pandemia: ou os cidadãos acolhem com entusiasmo o teletrabalho e toda a cultura digital adquirida; ou acabam por recusá-la, devido à necessidade do contacto físico, de que estiveram privados durante algum tempo.
As opiniões divergem quando se fala no impacto que o fim da crise poderá ter no comércio electrónico, meios de comunicação social, casa, entretenimento, entre outros, contudo o estudo aponta uma certeza: os problemas emergentes do pós-covid serão «dramaticamente diferentes na Guerra Fria da Tecnologia Global».
Esta «guerra» pode vir a dividir o mundo em dois regimes tecnológicos paralelos: um centrado nos Estados Unidos e outro centrado na China (dois países que actualmente divergem fortemente devido à pandemia). «O impacto que esta divisão poderá causar nas várias esferas da vida, pode durar décadas, se não gerações», refere o relatório.
A maior semelhança entre a crise de 2020 e a anterior, de 2008, é que ambas parecem ter sido causadas pela globalização, segundo o estudo. À medida que as nações emergem da crise, o nacionalismo aumenta e com ele parece aparecer uma «aversão à globalização».
Um inquérito realizado recentemente pela dbDig, mostra que 41% dos americanos dizem que não vão comprar novamente produtos da China, enquanto que 35% dos chineses se recusam a adquirir produtos dos Estados Unidos, um exemplo do forte nacionalismo, para o qual contribuiu a globalização.
A anterior guerra fria entre os EUA e a Rússia durou mais de quatro décadas e teve um grande factor de diferenciação relativamente à actual: havia muito pouca co-dependência entre os dois blocos. Por outro lado, os EUA e a China têm vindo a aumentar a capacidade e o nível de integração «sem precedentes» entre os dois regimes tecnológicos globais.
À medida que a «Guerra Fria Tecnológica» continua, verifica-se uma inclinação crescente de ambos os lados para criar os seus próprios regimes tecnológicos. Segundo o estudo, existe o potencial de atingir um crescendo quando as duas partes acabarem por criar uma «Muralha Tecnológica», que vai obrigar os outros países a fazerem uma escolha entre as duas nações.
Qualquer uma das opções levaria a caminhos difíceis e dispendiosos, a «Muralha Tecnológica» implicaria plataformas de Internet rivais, comunicação via satélite, sistemas operativos, entre outros. Para as empresas, isto significaria ter de destacar duas comunicações e redes diferentes para garantir o seu funcionamento.