EUA/Eleições: Desinformação, imagens manipuladas e insultos aos media marcam campanha
Num evento com eleitores organizado pela cadeia televisiva Univision na semana passada, o candidato republicano Donald Trump repetiu a acusação de que migrantes haitianos estavam a comer animais de estimação no Ohio, alegando erroneamente que tal havia sido noticiado.
A história, que teve origem em rumores no Facebook, foi refutada por autoridades da cidade de Springfield, mas continua a ser repetida por Trump e pelo seu candidato a vice-presidente, J.D. Vance, num dos exemplos mais relevantes da desinformação que tem marcado a campanha presidencial nos Estados Unidos.
De acordo com a plataforma de verificação noticiosa NewsGuard, 39 narrativas falsas ligadas à eleição foram publicadas em vários sites desde 01 de setembro, com sete a aparecerem na última semana.
Entre os exemplos de falsidades propagadas por diversos sites está a notícia falsa de que um vídeo mostra um homem que acusou o candidato democrata a vice-presidente Tim Walz de o molestar em 1997.
Outra narrativa falsa mostra Trump com um cheque gigante de 1.300 dólares para vítimas dos furacões Milton e Helene e uma outra alega que Kamala Harris estava filiada no Partido Comunista Soviético.
“Desde o final de agosto de 2024, depois de o ex-presidente Donald Trump e da vice-presidente Kamala Harris terem aceitado as nomeações dos partidos, a NewsGuard identificou uma média de seis novas alegações falsas relacionadas com a eleição por semana, bem como 318 sites que promovem essas falsas narrativas”, indicou a plataforma.
Há 1.238 sites com inclinação partidária “mascarados” de meios de comunicação locais neutros, identificou a NewsGuard, sendo que muitos são “secretamente financiados por organizações políticas sem informarem os leitores”.
Uma tendência crescente neste ciclo eleitoral é a circulação nas redes sociais de ‘deep fakes’, imagens criadas por modelos de Inteligência Artificial generativa. Um exemplo, partilhado por Donald Trump na sua rede Truth Social, mostrava o apoio de Taylor Swift e dos seus fãs (Swifties) à candidatura republicana, quando na verdade a cantora apoia Kamala Harris.
Mas o candidato acusou a oponente democrata de manipular imagens para mostrar comícios com grandes multidões, algo que os meios de comunicação presentes refutaram.
Nos comícios que tem dado em estados críticos, como Pensilvânia e Wisconsin, Donald Trump continua também a defender argumentos que não correspondem à verdade, entre os quais que há imigrantes ilegais a votar, que o Irão espiou a sua campanha e passou a informação a Kamala Harris, que a votação antecipada é usada por autoridades para cometer fraude, que a Casa Branca está por detrás dos seus processos criminais e que a votação por correspondência é insegura e fraudulenta.
Outro tema que está a causar um aumento da desinformação é a destruição causada pelos furacões Milton e Helene. A congressista Marjorie Taylor Greene clamou online que o governo consegue controlar a meteorologia e circulou um mapa que questiona porque é que os furacões só atingiram regiões republicanas.
Têm circulado ainda mentiras sobre o apoio dado pela agência federal de emergências (FEMA), sendo que Donald Trump propagou várias delas na sua rede social e em comícios. Em resultado disso, trabalhadores da agência receberam ameaças de morte na Carolina do Norte e o Centro para Direitos Civis e Tecnologia emitiu esta segunda-feira um parecer instando as redes sociais a resolverem o problema.
A campanha do ex-presidente tem sido marcada não apenas por um volume significativo de alegações desmentidas mas também pela hostilidade crescente para com jornalistas e o cancelamento de diversas entrevistas.
Depois do debate presidencial entre Trump e Harris, o ex-presidente insultou o moderador da ABC News David Muir, que desmentiu em direto algumas afirmações do republicano. Decidiu também cancelar a aparição no programa da CBS “60 Minutes” e disse que a estação deveria ver a sua licença revogada por ter “editado” a entrevista com Kamala Harris, acusando-a de interferência eleitoral.
Jessica Rosenworcel, presidente da comissão que gere as licenças de comunicação nos Estados Unidos (FCC) recusou a possibilidade, clarificando que uma estação não arrisca a sua licença só porque um candidato não gosta da cobertura noticiosa.
Trump optou ainda por cancelar entrevistas com a NBC e a CNBC, além de ter decidido não ir ao programa Shade Room, que recentemente falara com Kamala Harris.
A duas semanas das eleições, os dois candidatos estão tecnicamente empatados nas sondagens.