EUA ameaçam ‘fechar a torneira’ do armamento se Israel não assegurar fluxos de ajuda humanitária em Gaza

O governo dos Estados Unidos intensificou consideravelmente a pressão sobre Israel, exigindo uma melhoria imediata nas condições de vida dos civis na Faixa de Gaza. A administração de Joe Biden alertou que poderá adotar medidas punitivas, incluindo a suspensão do fornecimento de armamento, caso o fluxo de assistência humanitária não seja restabelecido nas próximas semanas.

Num comunicado enviado no dia 13 de outubro a altos funcionários israelitas, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, sublinharam a necessidade urgente de garantir que a população civil de Gaza tenha acesso a alimentos e outros bens essenciais. A carta, endereçada ao ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, e ao ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e a que o Washington Post teve acesso, destaca a deterioração das condições na região, agravada pela inação do governo israelita. As informações sobre este aviso foram reveladas por dois funcionários anónimos, uma vez que o conteúdo da correspondência não foi tornado público.

No documento, Blinken e Austin alertam que, sem uma mudança na abordagem, os EUA poderão tomar medidas baseadas em políticas que vinculam o cumprimento das normas internacionais à provisão de assistência militar. O governo de Benjamin Netanyahu tem um mês para cumprir essas exigências, adiando assim qualquer sanção até após as eleições presidenciais norte-americanas.

A advertência norte-americana sugere que, se o bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza continuar, os EUA poderão suspender o envio de armas a Israel. Segundo a ONU, a assistência humanitária tem sido praticamente inexistente nas últimas semanas, o que agravou ainda mais a crise humanitária.

O governo de Biden, que já tinha expressado o seu descontentamento em conversas anteriores com Netanyahu, vê o restabelecimento do acesso humanitário como uma prioridade. “É imperativo restaurar o acesso ao norte de Gaza, incluindo a revitalização do corredor a partir da Jordânia imediatamente”, enfatizou Biden numa chamada telefónica com o primeiro-ministro israelita na semana anterior, de acordo com o resumo divulgado pela Casa Branca.

Apesar destas preocupações, as autoridades militares israelitas, responsáveis pela coordenação da ajuda a Gaza, através da unidade COGAT, negam qualquer suspensão do fornecimento ou da coordenação de ajuda humanitária na região.

De acordo com fontes norte-americanas, o prazo de 30 dias dado a Israel para cumprir as exigências foi considerado razoável, tendo em conta a complexidade do conflito e o cronograma de entregas de armas pelos EUA. Além disso, ao oferecer um prazo mais alargado, a administração Biden evita precipitar um confronto diplomático imediato com Israel, ao mesmo tempo que aguarda a evolução da situação humanitária.

A gestão de Biden face ao conflito entre Israel e o grupo Hamas tem sido alvo de críticas, sobretudo pela alegada incapacidade da administração em usar de forma mais efetiva os fornecimentos militares para exercer pressão sobre Israel. O Hamas, apoiado pelo Irão, tem estado envolvido numa escalada de violência desde o ataque a Israel em outubro de 2023, que resultou numa guerra que já fez mais de 40 mil vítimas, segundo autoridades de saúde locais.

Embora a administração Biden tenha mantido o envio de armamento a Israel, houve um incidente em maio deste ano, quando um carregamento de armas foi suspenso temporariamente. Na altura, o governo norte-americano publicou um relatório de 46 páginas sobre o cumprimento das leis humanitárias por parte de Israel, a pedido de membros do Partido Democrata no Congresso. O relatório concluiu que ações ou omissões israelitas contribuíram de forma significativa para a interrupção da ajuda aos civis palestinianos. No entanto, também afirmou que os EUA não consideravam, naquele momento, que o governo de Israel estivesse a bloquear ou a restringir de forma direta o transporte da assistência humanitária providenciada pelos EUA.

A interpretação do relatório norte-americano foi amplamente rejeitada por organizações humanitárias internacionais, como a Oxfam International. Estas entidades acusam o governo dos EUA de “fechar os olhos” àquilo que consideram ser uma “clara obstrução” por parte de Israel na entrega de ajuda humanitária aos residentes de Gaza.

Apesar das pressões e críticas, os EUA mantêm a sua política de apoio militar a Israel, mas o aviso recente de Blinken e Austin sugere que, caso a situação humanitária em Gaza não melhore significativamente nas próximas semanas, Washington poderá rever esta postura e considerar a suspensão do envio de armamento.

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