“Eu quero viver”: linha telefónica criada por Kiev ajuda soldados russos a renderem-se. Mais de 220 já se entregaram e há mil em espera

A linha “Eu quero viver”, criada pela Ucrânia para ajudar soldados russos a renderem-se, já recebeu 26 mil chamadas desde setembro de 2022: ao todo, mais de 220 russos já se entregaram a Kiev, não se importando para isso de se tornar prisioneiros de guerra, relatou esta quinta-feira o ‘Financial Times’.

“Alguém me deu este número. Podem ajudar-me a render-me?”: esta é a mensagem que ajudou Daniil Alfyorov, que foi mobilizado para a linha da frente no início do conflito, a abandonar o exército russo. O soldado, de 27 anos, rendeu-se após um ano de combates, tendo ajudado outros 11 companheiros do seu batalhão, em Kherson, a seguir os seus passos.

O projeto foi criado por Kiev para abrir a possibilidade aos soldados russos de se renderem, passando a ser considerados prisioneiros de guerra, mas evitando o risco de morte nos campos de batalha. No entanto, os serviços secretos ucranianos (HUR), responsáveis pelo projeto, obtêm desta forma importantes informações sobre as movimentações russas no terreno.

De acordo com Vitaliy Matvienko, porta-voz da unidade das secretas da Ucrânia responsável pelo processo, foram mais de 220 os soldados russos que usaram a linha telefónica, estando pendentes outros mil casos semelhantes. A linha “Eu quero viver” foi criada três dias antes de Vladimir Putin ter anunciado a mobilização parcial de soldados, que permitiu recrutar mais 300 mil reservistas.

São já 10 os funcionários que operam as chamadas e tentam ajudar quem os procura – composta por psicólogos e analistas, a equipa trabalha 24 horas por dia. “Quando um inimigo nos liga em lágrimas, a dizer que quer viver, precisa de ser acalmado”, explicou Matvienko.

Após a rendição, muitos destes prisioneiros são utilizados como moeda de troca para Kiev receber prisioneiros detidos por Moscovo. Antes de serem libertados, cada soldado russo recebe um cartão com o número do “Eu quero viver” e são encorajados a distribuí-los por outros soldados russos.

O website hochuzhit.com, que colabora no projeto, já recebeu mais de 48 milhões de visitas, a esmagadora maioria delas vindas da Rússia, onde foi bloqueado poucos dias depois de ter ficado disponível – no entanto, o acesso continua a ser possível através de VPN ou outras soluções para contornar as restrições.

Uma das deserções de maior destaque ocorreu com a ajuda do HUR em agosto de 2023, quando um piloto russo chamado Maksim Kuzminov se rendeu com o seu helicóptero Mi-8.

Dias depois, o HUR anunciou que Kuzminov receberia o equivalente a 500 mil dólares como recompensa. O Parlamento da Ucrânia aprovou uma lei em abril de 2022 que oferece até 1 milhão de dólares aos militares russos que consigam transferir equipamento para a Ucrânia, dependendo do tipo de equipamento que entregarem.

Após a notícia da rendição de Kuzminov, as ligações para o “Eu quero viver” aumentaram 70% num dia, indicou o HUR.

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