Estes são os países com menos opções de emprego para os menores de 25 anos: Portugal não fica bem na fotografia

De Portugal a Espanha, passando por França, Grécia ou Rep. Checa: o desemprego juvenil na Europa assume proporções alarmantes – mais de duas milhões de pessoas com menos de 25 anos estão desempregadas, segundo os últimos dados do Eurostat, o que se traduz numa taxa de 14,4%, um dos valores mais baixos da última década.

No entanto, as assimetrias no território europeu são evidentes: vão desde os 26,5% em Espanha para os 5,8% da Alemanha – Portugal não fica bem na fotografia, ocupando o quarto posto a nível europeu, com 22,2%, só superado por Suécia (23,9%) e Grécia (22,6%), além do país vizinho.

Conheça os países em pior situação:

Espanha – 26,5%
Suécia – 23,9%
Grécia – 22,6%
Portugal – 22,2%
Eslováquia – 20,8%
Itália – 20,2%
Finlândia – 19,3%
França – 17,8%
Estónia – 16,4%
Bulgária e Hungria – 14,4%
Lituânia – 14,3%
Polónia – 12%
Letónia – 10,2%
Áustria – 8,6%
Rep. Checa – 7,5%
Alemanha – 5,8%

Embora com um desenvolvimento positivo desde 2021, os jovens europeus identificaram nos diferentes Inquéritos à Juventude – preparados pela ‘Ipsos European Public Affairs’ a pedido do Parlamento Europeu e centrados em resumir a opinião da juventude europeia como um Eurobarómetro da juventude – o desemprego é visto como um dos suas principais preocupações ou como uma das frentes que consideram que as instituições públicas deveriam tomar como prioridade.

Veja-se o caso de Yannis, um grego de 30 anos, que está a tentar dedicar-se à fotografia como freelancer. “A primeira coisa que me perguntam é o que faço para viver”, refere, citado pelo jornal espanhol ‘El Confidencial’ – na sua situação, há meses em que tem emprego, outro não. A namorada está desempregada há sete meses e ambos suportam uma renda de 500 euros por um apartamento de 35 metros quadrados, sem apoio financeiro familiar.

Em 2023, a taxa de desemprego da população entre os 15 e os 29 anos na Grécia era de 22%, a segunda mais elevada da UE, depois de Espanha. “É ainda muito superior aos 16% que tinha em 2008, no início da crise financeira global, mas muito inferior aos 49% que atingiu em 2013, no auge da recessão causada pelos dois primeiros Memorandos de Entendimento”, esclarece Maria Karamesini, professora de Economia do Trabalho na Universidade Panteion e diretora da Agência Grega de Emprego.

Entre a temporalidade e a rotação

Ter um emprego estável e indefinido aos 25 anos é percebido como uma situação privilegiada. Aliás, a Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho destaca que uma das causas da precariedade na Europa é a temporalidade e “a maior utilização de períodos de estágio e de experiência”.

Na República Checa, embora a taxa de emprego seja uma das mais baixas, destaca-se o emprego temporário de jovens, com pequenos contratos. Assim, a qualidade do emprego não está em sintonia com a elevada taxa de empregados.

Outro fator que os países da UE detetam é o nível de formação. É o caso da Bulgária, onde esta taxa de desemprego de 14,4% está associada ao facto de “os jovens da Geração Z ou não quererem estes empregos ou não estarem suficientemente preparados para eles”, segundo o Instituto de Economia de Mercado (IME).

Muitos países europeus utilizam contratos curtos ou temporários que são facilmente compatíveis com a vida estudantil. “Na Lituânia é bastante comum combinar os estudos com o trabalho, e um grande número de estudantes trabalha desde o primeiro ano, e na maioria das vezes em empregos não relacionados com os seus estudos. Quanto mais elevada for a nota, mais frequentemente os estudantes trabalham em empregos. relacionados à sua especialização”, explica Rita Karavaitienė, gerente de marketing da CV-Online.

Atualmente, a taxa de desemprego juvenil na Lituânia é de 7,3%, em comparação com 8,2% para o país como um todo e 9,8% para aqueles com mais de 50 anos (dados do Serviço Nacional de Emprego). Embora o desemprego juvenil seja ligeiramente superior ao do ano passado ou do ano anterior, a situação é agora positivamente estável em comparação com 2021, quando o desemprego jovem atingiu quase 11% em junho, ou em comparação com a crise económica, quando bateu recordes.

O problema continua a residir no denominador comum: a precariedade. O professor da Universidade de Londres e vice-presidente honorário da Global Basic Income Network (BIEN), Guy Standing, destaca no seu livro ‘Precarity: The New Dangerous Class’ sobre os efeitos dessa rotação e incerteza no emprego: “Isso cria um stress incrível, insegurança, doenças mentais e mortes por desespero”, explica, salientando que os jovens “são obrigados a fazer muito trabalho que não é contabilizado, nem reconhecido, nem remunerado”.

Tal como as gerações imediatamente anteriores, os jovens Z apresentam um elevado nível de escolaridade. Uma licenciatura, um mestrado ou até dois, uma segunda ou até uma terceira língua… Tudo por um trabalho que nem sempre está relacionado com a especialização. “As novas gerações parecem ter um espírito um pouco mais crítico que as anteriores, sendo menos conformistas na escolha de um trabalho e não se apegando à primeira coisa que lhes surge”, afirma Pedro César Martínez, professor associado da Universidade Pontifícia Comillas e doutor pela Faculdade de Economia e Ciências Empresariais (ICADE) no Departamento de Gestão Empresarial.

“Aspirar a um bom emprego não é tão fácil, mesmo quando se tem experiência e preparação. Há dois meses que procuro ofertas de emprego na área de marketing e, apesar da minha experiência em grandes empresas internacionais, mesmo fora da Bulgária, ninguém liga. Tenho a impressão de que não contratam o pessoal mais qualificado, mas sim candidatos com contactos”, denuncia Deyan Ivanov,de 25 anos, que trabalha desde os 18, acrescentando que as ofertas que encontra são vagas de estágio ou com outras condições “enganosas”.

A taxa de sobrequalificação dos jovens entre os 20 e os 34 anos na UE é de 23,8%, segundo os últimos dados publicados pelo Eurostat – por sobrequalificação entende-se como quando uma pessoa que obteve um determinado grau de escolaridade acaba empregada em profissões que não exigem um nível de escolaridade tão elevado.

Entre os países europeus, esta taxa foi mais elevada na Turquia (41%), seguida pela Grécia (38,3%) e Espanha (35%). Entretanto, em países como a Suécia (15,2%), a Dinamarca (14,8%) ou o Luxemburgo (6,1%) registaram-se as taxas mais baixas.

Karamesini esclarece que no caso grego “a geração Z tem mais oportunidades, mas em empregos de baixa qualidade”. “Mais de 50% dos jovens entre os 15 e os 24 anos e 30% dos que têm entre os 25 e os 29 anos estão empregados no nos setores da restauração, do alojamento ou do comércio, ou seja, em empregos de baixa ou moderada qualificação, trabalho não declarado ou subdeclarado, e ainda, onde os horários são muito longos, não têm folgas e condições de trabalho muito precárias”, refere.

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