Especialistas alertam: “Ex-colónias portuguesas são próximo alvo” de Putin

Enquanto o Presidente da República sugeriu a necessidade de Portugal avançar com reparações às suas antigas colónias, nos bastidores de São Petersburgo, detalhavam-se os últimos pormenores de cooperação militar entre Moscovo e a ex-colónia portuguesa de São Tomé e Príncipe. Especialistas alertam que esta relação militar pode minar a coesão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Tiago André Lopes, especialista em Relações Internacionais, critica, em declarações à CNN Portugal a aparente ineficácia da diplomacia portuguesa ao assinar este acordo, prevendo que a Rússia está preparada para expandir a sua influência para outras ex-colónias portuguesas.

“Isto vai fragilizar ainda mais a relação entre Portugal e São Tomé a Rússia vai beneficiar disto. Mas não deve ficar por aqui. As ex-colónias portuguesas são o próximo alvo da diplomacia Rússia”, defende o especialista.

O acordo militar, assinado em abril e implementado em maio, abrange várias áreas, desde o treino militar conjunto até à presença de aviões e navios de guerra russos no arquipélago. O pacto é celebrado “por um período de tempo indefinido”.

José Filipe Pinto, outro especialista em Relações Internacionais, admite que Portugal pode estar isolado nas suas preocupações em relação a este acordo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros não se pronunciou sobre o assunto quando contactado pelo mesmo canal.

“Portugal vai condenar, vai preocupar-se e querer mostrar que não faz sentido que um país lusófono tenha uma cooperação militar que São Tomé tenha uma relação privilegiada com um país que é um inimigo declarado da Europa. Mas Portugal vai estar muito só nessas queixas”, indicou o também professor universitário.

A relação entre São Tomé e Príncipe e a Rússia remonta ao período da guerra colonial, quando o arquipélago recebeu apoio de Moscovo. Apesar dos esforços recentes de Portugal para contrariar essa influência, oferecendo material militar ao país, a cooperação militar entre Portugal e São Tomé e Príncipe tem também sido longa, datando desde 1988.

Isidro de Morais Pereira, major-general, assinala que Portugal deve olhar para estes países “de forma mais criteriosa”, evitando que a Rússia capitalize em situações de fragilidade. O comentador destaca também a crescente influência russa em todo o continente africano, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia.

A Rússia tem oferecido apoio a vários países africanos em troca de acesso a recursos naturais estratégicos, o que coloca as ex-colónias portuguesas na mira de Moscovo. Pereira alerta que este acordo pode comprometer a coesão da CPLP, colocando em causa o espírito de comunidade dentro da organização.

Esta cooperação militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia representa um desafio para Portugal, que tem utilizado a CPLP como uma ferramenta diplomática. A eficácia da diplomacia portuguesa é posta em causa, especialmente perante a crescente influência russa em África.

“É possível que o Kremlin queira expandir a sua influência em Moçambique. O país tem sérios problemas no Norte, na região de Cabo Delgado, e a Rússia pode prestar auxílio nesse sentido”, acrescenta ainda Tiago André Lopes, sublinhando que Portugal usa a CPLP como “arma diplomática”.

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