Especialista em criptomoedas operava ‘app’ no centro de Lisboa que permitia a oligarcas russos fugir das sanções do Ocidente

William Hill, gestor da carteira de criptoativos Samourai, foi vigiado pela Polícia Judiciária a pedido do FBI: a partir do seu apartamento no centro histórico de Lisboa, o americano de 65 anos procurou disponibilizar uma ferramenta de branqueamento de dinheiro de oligarcas russos abrangidos pelas sanções do Ocidente – a ‘app’, de acordo com os investigadores, era uma plataforma para a circulação de dinheiro russo sem qualquer controlo.

A 24 de abril último, conforme relatou esta segunda-feira o jornal ‘Observador’, William Hill foi alvo de uma megaoperação, que já há muito estava a ser preparada pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da PJ e que contou com a colaboração Divisão de Investigação Criminal da Receita Federal (IRS-CI) dos EUA. Foram apreendidos equipamentos informáticos, servidores e outros elementos de prova.

“Estávamos habituados já há algum tempo, relativamente ao ransomware, no que diz respeito aos ciberataques, ou ao malware. Aqui tínhamos o cibercrime como prestação de serviços para outros grupos cibercriminosos poderem levar a cabo os tais ciberataques”, referiu fonte de PJ.

A Samourai era uma ‘app’ para o telemóvel, que tinha já 100 mil downloads e que permitia aos utilizadores de todo o mundo armazenar as suas chaves privadas – ou seja, a palavra-passe do proprietário da criptomoeda. Embora estas não fossem partilhadas com funcionários da Samourai, a plataforma operou um servidor centralizado que “entre outras coisas, supervisiona e facilitar as transações entre os utilizadores da Samourai e cria novos endereços BTC usados durante as transações”, referiu o Ministério Público dos EUA.

Assim, misturando criptoativos oriundos de atividades ilícitas com criptoativos provenientes de operações legais, tornava impossível às autoridades seguir o rasto das criptomoedas: a Samourai prestou também serviços de Ricochet – ou seja, uma “troca de criptoativos, que se dedica ao desenvolvimento de soluções exclusivas que permitem aos utilizadores investir os seus ativos criptográficos em tempo real”, indicou a PJ. Por ambos os serviços, William Hill – assim como o sócio Keonne Rodriguez, que vive na Flórida (EUA) – terá lucrado mais de 4 milhões de dólares.

“Tinha os seus equipamentos, tinha o seu material, tinha tudo o que necessitava em sua casa. Portanto, fazia uma vida perfeitamente normal”, referiu fonte próxima da investigação. “Há ferramentas que, sim, precisam de espaço, porque precisam de capacidade de computação ou precisam de ter servidores com muita capacidade. E aí é preciso ter algumas especificidades, como refrigeração, mas não é o caso.”

De todas as transações ilegais feitas pela plataforma — que terão um valor aproximado de 2 mil milhões de dólares — as autoridades acreditam que, pelo menos, 100 milhões de dólares tenham sido operações de lavagem de dinheiro de mercados ilegais da dark web.

Ler Mais